domingo, 26 de dezembro de 2021

 

Relato pessoal: o coração é quem manda


            Que ano! Que 2021 atropelante e delirante! Não sei como conseguimos. Sinceramente, é difícil olhar pra trás e ver tudo o que aconteceu, no mundo e também na minha vida particular. Já adianto, hoje escrevo inteiramente e apenas com o olhar de Francielle. Normalmente, em um texto, ou quase todos, um detalhe, uma sensação, um sentimento, ou até mesmo uma breve experiência, passam por mim. É difícil não me colocar aqui. No entanto, hoje é tudo sobre como eu me sinto. Todas as palavras são apenas minhas e não de um personagem. Pois bem, lá vamos nós. É tão difícil começar, mal sei por onde começar. Geralmente, não me faltam palavras e nem sentimentos. Mas hoje elas me atropelam. Há tanto o que dizer, há tanto o que sentir. E assim foi o meu ano: dias e mais dias de excesso de palavras e sentimentos. Isso não quer dizer que todas as palavras foram ditas e que todos os sentimentos foram compartilhados. Muito pelo contrário, houve momentos em que eu me guardei. Mas me guardei bem menos do que de costume e isso se deve ao fato do ano já ter começado agitado. Final de janeiro, COVID-19, sensações das mais diversas, uma angustia dilacerante. Nunca pensei tanto em morrer e no meu medo de que tudo acabasse ali. Graças a Deus, não acabou. Senti as sequelas, um cansaço fora do normal, perda de memória e ansiedade ampliada. Na verdade, esta última me acompanha até hoje. Não tem sido fácil. Não tem sido fácil pra ninguém. A parte boa é que eu tive acesso e oportunidade de monitorar essas sequelas, o que me ajudou. Mas as sensações, a angustia, ainda me acompanham. Como disse, tem sido uma tarefa complicada viver um ano tão intenso. O desejo número um hoje é que daqui pra frente seja mais tranquilo para todos.

            Pós covid, toda aquela ideia de que a minha vida poderia acabar a qualquer momento, me fez analisar o que eu tenho feito dos meus dias, como eu tenho vivido as experiências e as relações com os demais seres humanos. Nunca senti tanta vontade de me sentir viva, de fazer o dia valer a pena. Fiquei ansiosa para que algo acontecesse logo. O “algo” eu nunca soube dizer o que é. Acho que deve ser mais de uma coisa, porque eu queria, e ainda quero, ver todos os campos da minha vida se desenvolverem. No entanto, aos poucos percebi que não é bem assim. Não dá pra atropelar os processos e forçar algo a acontecer. Me forcei a viver experiências que nem sempre me agradaram, tudo isso pra me sentir “viva”. Conheci pessoas, me surpreendi com pessoas e comigo mesma. E como me surpreendi comigo. Em outros momentos, não foi tão surpreendente assim, afinal, convivo comigo há vinte e oito anos e não tem como eu mudar por completo em alguns meses. Isso não vai acontecer, por mais que eu tenha necessidade de mudança. Gosto de mim, gosto de quem me tornei, de como eu sinto. Mesmo que às vezes eu acabe parecendo inocente demais, eu não quero ser outra. Quero ser eu mesma, com palavras e sentimentos em excesso. Quero ser essa imensidão de coração e sensações. Pode parecer besteira, nem todos vão entender, mas acreditar no melhor do outro nem sempre é ruim. Muitas vezes nos dá a oportunidade de tentar e lutar por alguém que estava apenas numa fase ruim. No entanto, isso não quer dizer que vou fechar os olhos para as maldades e nem vou me tornar centro de reabilitação. Para tudo nesta vida há um limite. E eu acho que sei o meu. Estou tentando ficar num limite saudável, onde eu não me desgaste e nem me magoe demais. É uma luta diária, um aprendizado constante. Não é simples.

            Para alguém que acredita no amor e nas histórias inspiradoras e incríveis, me meti em situações que passavam longe daquilo que acredito. Mas a vida é assim, nem sempre vamos enxergar a situação como ela é no momento em que está acontecendo. Por mais que os amigos tentem nos alertar, a emoção toma conta e não enxergamos o que pode ser óbvio. Mas não me arrependo. É algo que eu decidi transformar em uma meta: não me arrepender. Eu posso reclamar, me lamentar, mas não vou me arrepender. Porque não adianta. O arrependimento ainda não tem o poder de mudar o passado. Os erros, as más experiências, servem de aprendizado, é o que dizem. Aprender é difícil e não é nada romântico. Os erros doem, magoam e até nos traumatizam. Mais uma vez eu luto para aprender e tirar o melhor de algumas situações. Tenho conseguido? Não sei. Sinceramente, ando vivendo meses intensos, que nem sempre é fácil parar e olhar se eu tenho aproveitado a experiência para evitar repetir os erros. E também dá medo da resposta.

Uma coisa que eu posso dizer é que agora sei exatamente o que não quero em minha vida. Foi um ano que me sugou de diversas formas, seja por situações externas, internas, pessoas ou acontecimentos. Mas eu consegui parar por um instante e perceber o que eu não quero lidar, quem eu não quero para a minha vida. Primeiro, para uma romântica, eu não quero pessoas que sintam pouco ou que tenham medo de sentir e se expor. Porque viver é uma eterna exposição. Viver é encarar as diversas possibilidades e lidar com as consequências de suas escolhas. Viver é uma sequência de acertos e erros, mas, acima de tudo, tentativas. Claro que ninguém quer se jogar no incerto e sofrer. Se tratando do coração, dói demais quando eu erro e quando o outro erra. Mas não dá pra se limitar por medo. Afinal, você pode perder pessoas e experiências incríveis por medo. Por isso, eu tenho me arriscado, mesmo com medo de ser inocente e fazer papel de boba. Eu também não quero ser apenas uma figura de mais um joguinho. Não quero ser apenas mais uma na vida do outro, e não digo apenas nas relações amorosas. A ideia de ser alguém que o outro trata como uma pessoa qualquer, que faz parte do seu jogo de desinteresse, me deixa totalmente aflita. Saber que alguém está disponível, mas que prefere alimentar a ausência para me deixar interessada ou fazer eu sentir falta, é uma das piores coisas que pode me acontecer. Quero ficar longe de pessoas assim, que o ego é sempre prioridade e se expor é um sacrifício do qual eu não valho a pena. Eu quero valer a pena, quero ser prioridade, quero me sentir especial. Quem não quer? Então, se eu sentir que não existe o mínimo, eu perderei o interesse e, consequentemente, irei me afastar.

No final, aqui não cabem tantas palavras e tantos sentimentos. 2021 passou depressa, mas foi enorme em situações e sensações. Parece que fui atropelada por tantas situações. Nunca me imaginei vivendo o que vivi com tamanha intensidade. Nunca me imaginei gostando de coisas que não gostava. Já se viu ficar uma hora e meio numa ligação? Eu odiava só de pensar. Então me vi nessas ligações e me vi não odiando. Na verdade, eu me peguei desejando tais ligações. Num mundo tão egoísta, onde as necessidades do outro nem sempre são levadas em consideração, saber que tem alguém que tira um tempo pra falar só com você, transforma seu dia. Parece besteira, mas faz eu me sentir especial. Ah, eu descobri que também não gosto de ser ignorada. É engraçado pensar nisso, porque eu não era assim. Eu sempre fui o suficiente pra mim e ainda sou. Mas a partir do momento em que alguém entra em minha vida e eu escolho compartilhar a minha rotina com a pessoa, eu espero o mesmo dela.

E assim foi esse ano louco, que quase nos engoliu, das mais diversas formas. Tantos acontecimentos ruins, decepcionantes, que deram raiva, que nos fez questionar quem é o ser humano, como podem existir pessoas tão ruins. Um ano com excesso de injustiças, com excesso de absurdos. Um ano que me fez pensar, chorar, reclamar, questionar, chorar de novo e, apesar de tudo e tanto, sorrir e agradecer. Estou viva. Graças a Deus estou viva. Continuo com decepções, tristezas, ansiedades, receios, medos, esperas e excesso de reclamações. E vou continuar reclamando, chorando, agradecendo e, se Deus quiser, sorrindo também. E o que eu espero, com todo o meu mole e sensível coração, é que 2022 seja mais leve e justo para todos. Que o próximo ano seja mais fácil e com mais momentos de sorrisos e encontros.

sábado, 25 de dezembro de 2021

 

Sinais


            Por muito tempo eu soube ler as entrelinhas e me afastei quando eu precisava me afastar, quando percebi que o que sentia era mais forte do que o outro sentia, evitando assim muito desgaste e decepção. Mas o que é a vida senão um jogo? Nem sempre podemos prever o resultado. Às vezes é tão óbvio que a nossa próxima ação é certeira, seja encerrando o jogo antes do seu fim original ou arrancando boas gargalhadas com a vitória premeditada. No entanto, nem sempre isso é possível. Há jogos tão incertos, mas tão atraentes, que as entrelinhas se perdem e eu, simplesmente, não posso deixar de jogar. O resultado: muitas vezes bom e muitas vezes ruim. Dores? Com certeza. É a vida, afinal não dá pra ganhar e ser feliz sempre. Infelizmente, claro. Continuo jogando? Sempre. Se eu não tentar, não vivo. E se eu não viver, estarei apenas existindo. Qual graça tem nisso? Mas isso não quer dizer que gosto de sofrer e me contento com as decepções e fracassos, seja em qualquer campo da minha vida. Muito pelo contrário. Eu sofro, choro, reclamo. E por muitas vezes pedi à Deus e ao universo sinais para me orientar nesses jogos. No entanto, nem sempre eu soube enxergar as respostas e acabei diante de situações que eu preferia não ter vivido. Claro que com o tempo eu percebi que não adiantava me arrepender, já que isso não vai mudar o passado. Que apenas sirva de lição.

            Será que estou aprendendo as lições corretamente ou continuo seguindo padrões de erros? Será que estou apenas ignorando os sinais óbvios? Ainda é tão difícil pra mim enxergar o negativo quando estou com cabeça e coração na situação, e não falo só dos assuntos amorosos. Quando me envolvo é pra valer, pra delirar em emoções e sensações. A verdade é que espero mais do que deveria e desacelerar é uma luta diária. Respeitar o processo deveria ser a missão de todos nós, em qualquer momento da vida. Mas pra isso eu preciso saber enxergar as entrelinhas, aquelas que me dirão que eu não estou sendo idiota ou inocente. É uma verdadeira batalha clarear a mente e enxergar uma situação que realmente valha a pena a minha entrega e a minha paciência. Afinal, muitos dizem que palavras não querem dizer nada se não há a atitude. Mas o que seria essa atitude? Amor, ou vida profissional, qual é a atitude que irá mudar o meu caminho? Por isso, pela difícil resposta, que eu entendo os humanos cheios de dúvidas.

Apesar disso tudo, devemos continuar. Dizem que vale a pena. E é o que eu realmente espero. Eu realmente espero que valha a pena, mesmo sem os sinais claros para me nortearem. Porque eu não resisto, e nem quero resistir, quando o meu coração pede. E como ele é pidão e teimoso! Meu coração pede, incansavelmente, para eu respeitar o processo e confiar. O meu coração pede para eu ser a mesma sonhadora de sempre, que acredita no caminho profissional que escolheu e que também acredita que o amor pode ser mágico e único, resultado de uma ligação que há entrega de ambas as partes. Meu coração sabe dos riscos, mesmo que às vezes os ignora. Meu coração não desistiu de trilhar um caminho que acredita ser seu, apenas seu. Por isso, mesmo sem os sinais claros, eu continuo jogando os meus jogos. E porque eu, simplesmente, não resisto quando, por um breve momento, um sopro de amor refresca o meu rosto.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

 

Presentão


            Véspera de Natal, dia agitado e mil coisas pra fazer. Como sempre, assumi o controle da cozinha. É sobremesa, são as carnes, os acompanhamentos... E eu pra lá e pra cá. Minhas pernas já estão doendo, mas a empolgação me deixa esquecer a dor em pouco tempo. Mais tarde a conta chega. Felizmente, ou infelizmente – não sei dizer, eu fico super distraída, com a cabeça totalmente focada na ceia, que não há tempo pra pensar na resposta que não tive. Felizmente, claro. Obvio que isso é bom. Preciso me distrair mais vezes e com mais intensidade. A criatura por quem meus olhos brilham deixou a minha última mensagem sem resposta. Já são quase quatorze horas. E eu sei que ele não está trabalhando. Enfim, não vou me importar. Ou vou tentar não me importar. Ele sabe como odeio ser ignorada, ele me conhece bem... Não sou louca, ele tem a vida dele. Mas é muito tempo, ainda mais devido ao conteúdo da mensagem. Será que fiz uma besteira? Sou intensa? Sim, sou intensa, eu sinto com todo o meu corpo e acho idiotice esconder os sentimentos para o outro pensar que sou difícil e dessa forma ficar mais interessado. Pura idiotice! Homens que fazem isso não são homens, são moleques. E eu quero ficar longe de moleques. No entanto, não acho que seja o caso dele. A criatura que faz meus olhos brilharem é sincero e não gosta de joguinhos, por isso nos damos tão bem. Mas então, essa demora... Fico preocupada. Sei que ele está bem, mas a mensagem pode causar algum sentimento desconfortável ou dúvidas. Não sei. Talvez eu esteja exagerando. Sim, é isso. Vou voltar a focar nos preparativos da ceia. Ainda há muito o que fazer.

            E novamente eu ando de um lado para o outro, pico pimentão, tomate, cebola, abacaxi, tempero a carne... Essa minha família poderia ajudar mais. Cadê todos? Arrasto meu irmão para a cozinha e o faço me ajudar, picando as cenouras e outros legumes. Recebo uma notificação no celular e meu coração acelera. É ele. Finalmente! Inevitavelmente, um sorriso se forma em meu rosto e eu percebo que estou mais envolvida do que imaginava. Sinto a falta dele mais do que já senti de qualquer outro envolvimento amoroso. O meu desejo de Natal é que tudo fique mais claro entre nós. Ele tenta sem sempre sincero, mas o seu receio de repetir os erros do passado não deixam ele se abrir ainda mais. Eu não tenho pressa, só preciso saber que ele está disposto. Afinal, já tive brincadeiras amorosas o suficiente. “Bom dia, minha linda! Desculpa a demora. Tive uma urgência de trabalho bem cedo. Felizmente, tudo já está resolvido e eu posso aproveitar a minha família. Espero que você esteja aproveitando a sua. E quanto a sua mensagem, queria ter respondido antes. Confesso que li há um tempo, mas ainda estava processando o que você disse. Não é uma resposta difícil. No entanto, eu precisava ter certeza das palavras que usaria. Não vou responder agora. Apenas confie em mim, confie em nós”, a mensagem dizia. Meu coração acelerou ainda mais e a ansiedade já tomou conta. Agora vai ser impossível me distrair. Só consigo pensar nisso. Confio nele.

            Então, com a mente e o coração um pouco mais calmos, a campainha toca. Meu irmão corre e em poucos segundos grita, avisando que é entrega pra mim. Eu fico pensativa, não lembro de ter comprado nada. Ou será que eu comprei e esqueci?! Não... Chego na sala e quase caio pra trás. É ele! Não estou acreditando. Meus olhos nem piscam. Ele me olha com ternura e está com aquele maravilhoso e inspirador sorriso. Mal posso acreditar que o homem por quem estou apaixonada está na sala da casa dos meus pais. Não consigo me mover. Estou incrédula. “Não vai nos apresentar, irmãzinha?”, meu irmão mais velho me tira do transe. Eu respiro fundo e, finalmente, entendo tudo o que está acontecendo. Ele continua sorrindo lindamente, tanto que eu me derreto inteiramente e abro um sorriso enorme. Nos abraçamos e ele me entrega um lindo buquê de rosas cor de rosa. “São lindas. Muito obrigada!”, digo. “Só não são mais lindas e cheirosas do que você”, ele diz. Meu irmão tosse e eu volto meu olhar pra ele, que está rindo mais do que de costume. “Lúcio, esse é o Marcos, meu...”, começo a falar, mas não sei o que dizer. “Namorado. É um prazer te conhecer”, ele completa e eu sorrio. Nós nos olhamos e eu entendo tudo que está acontecendo. Por isso ele pediu pra eu confiar nele. Amei a surpresa. Ele respondeu a minha mensagem vindo. Pensei que ficaria assustado quando o convidei para conhecer a minha família. E a demora para responder a minha mensagem não ajudou na minha ansiedade. Por um breve momento pensei que ele não iria querer que ficássemos tão sério. “Agora não tem como fugir”, falo baixinho e ele responde: “Eu nunca fugiria de você. Eu te amo”. Arregalo os olhos e meu coração se enche de uma emoção indescritível. Ele me ama! “Sim, Ana, eu te amo. Você vai fugir?”, repete e eu sorrio. “Nunca! Eu também te amo”, digo e sinto que este será um dos melhores Natais da minha vida.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

 

Perfeição


 

Andei pensando. Na verdade, pensar é o que mais tenho feito. E, infelizmente, não tenho muitas respostas. Quase nenhuma. Porém algumas certezas me rondam nos últimos meses. Eu tenho vivido uma verdadeira montanha russa de emoções e sensações. Não me arrependo de nada, mesmo que em algumas vezes o meu coração fique cansado e dolorido. Essa é uma promessa que fiz para mim mesma, não me arrepender. Quando estamos à beira de um abismo, de uma situação que nos tira da nossa zona de conforto, nos pegamos pensativos e prontos para arriscar, inclusive, o órgão mais sensível do nosso corpo. Meu coração sofre, mas ele se arrisca e não deixa de acreditar. Pode me chamar de iludida, trouxa, o que for. No final, não importa, é apenas uma nomenclatura. Continuarei seguindo, mesmo que pareça impossível. "Viver é rasgar-se e remendar-se", disse Guimarães Rosa. E é pra isso que estamos aqui, para tentar, errar, tentar de novo, acertar, errar mais uma vez. Mas isso é viver a vida plenamente. Há medo, mas tem que viver com medo. Não tem outro jeito possível. O que não dá é pra ficar parada, se limitar por medo de sofrer e não dar certo. Isso não é viver, é apenas existir. 

Pois bem, isso tudo pra dizer que não procuro nada, não espero nada demais. Eu quero apenas sentir e continuar tentando. Não quero um alguém com tais características, livre de defeitos. Não vivo num mundo cor de rosa. Posso não ter tido muitas experiências, mas tive o suficiente pra saber que a vida não é um conto de fadas. E assim como eu, o outro não é perfeito. Não quero alguém perfeito. Não espero ninguém perfeito. Não sou perfeita e nunca serei. Sou cheia de defeitos, manias e "loucuras". Sou humana. E espero me deparar com humanos, mas humanos dispostos a encarar as diversas possibilidades. Humanos que tenham medos, manias e loucuras, assim como eu. Humanos que mesmo com medo, mesmo errando, assumam o desafio de viver. Eu espero me deparar com humanos cientes do seu papel no mundo: viver. É apenas isso que eu espero, um humano sincero e disposto a tentar a vida e suas infinitas possibilidades. Pois a perfeição, além de superestimada, ela é irreal, fruto da ficção. Não quero perfeição. Quero apenas uma companhia gostosa para viver. 

 

domingo, 19 de dezembro de 2021

 

Sem pressa


            Quando alguém me fala pra não ter pressa, pra simplesmente seguir o meu caminho, que as coisas acontecerão uma hora ou outra, eu apenas respiro fundo e penso... Como penso! Sinceramente, não sei. Eu devo esperar e deixar a vida seguir o seu curso? Devo acreditar que o destino irá funcionar a meu favor? Ou devo agir a meu favor? Não quero que pareça desespero e nem pressão. Qual o limite? Simplesmente, não sei. Quando se trata disso, fico presa num ciclo de dúvidas. Acho que é normal. Deve ser o meu senso de autopreservação. Por mais que eu diga que meu coração está aberto para as tentativas, se houver falhas e decepções, sei que vou sofrer mais do que já sofri nas vezes anteriores. Essa é uma certeza que surge a partir daquele intenso e delirante momento em que eu percebi que era realmente forte. Sentir sempre é forte, mas sentir agora parece enlouquecidamente forte. Eu gosto da forma que me sinto, só tenho medo de sentir mais e mais e, no final, apenas me decepcionar. Afinal, para muitos não há pressa. E pra mim também não deveria ter. De fato, não anseio pela urgência, espero atravessar todos os pequenos e excitantes passos para chegar a um lugar ainda mais lindo. Quero apreciar o processo, quero ver a beleza da caminhada. Só que há momentos que essa falta de pressa me deixa confusa. É reciproco? Sinto que sim. Mas a exagerada falta de pressa e atitudes faz eu me questionar se devo continuar regando um sentimento que já me consumiu tanto. Estou realmente no meu caminho? Ele é meu? Ou eu estou presa na correnteza de palavras ao vento? Quero acreditar que não, que realmente estou seguindo meu curso. No entanto, apenas uma palavra acalmaria o meu intenso coração neste momento. Apenas uma palavra, uma razão para acreditar que é o meu caminho, que ele pertence a mim e não estou jogada as traças, sendo apenas mais uma em sua lista de afeições. Quero me sentir única, essencial e importante. Quero que haja entrega, ações e não apenas promessas. Por isso, preciso de apenas uma palavra e não de palavras ditas e esquecidas. Não precisa ter pressa e muito menos pressão. Só precisa ser real. Então, preciso de uma razão para continuar o caminho que eu acho e espero que seja meu.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 

Abrigo


            Chegar em casa, jogar todas as coisas no chão, tomar um banho, respirar o aconchego do lar e tentar esquecer o dia longo e exaustivo que invadiu a minha vida. Quase tudo bem. É impossível deixar de lado o furacão de emoções e acontecimentos como fiz com a minha mochila e a roupa que usei. Infelizmente, não consigo, não posso. Não descanso. A imensidão me invade, a mente e o coração não descansam. Isso é ser humana? Isso é ter sentimentos e sensibilidade? Isso é viver? Pois bem, queria que a resposta para a última questão fosse um forte “não”. Às vezes é extremamente solitário sentir tanto. Dá um pequeno e exaustivo aperto no meu coração, o que me faz pensar se seria melhor simplesmente não sentir. Dói. Realmente dói sentir. Me sinto só, longe de qualquer abrigo, longe de qualquer humano que sinta o mesmo. É triste. Dilacera o meu coração de um jeito que eu jamais desejaria para alguém. Mesmo assim, há o outro lado. Eu também sinto as pequenas alegrias, os respiros. Não que ultimamente haja tanto. No entanto, quando há, eu me agarro e respiro. E revivo, e revivo, e sinto, como sinto. Não quero pensar que seja aceitar migalhas da vida e das pessoas. Não pode ser, não deve ser. Não mereço. Ou mereço? Claro que não. Não pode ser. Não deveria ser assim. As alegrias, o amor e o respiro deveriam ser mais frequentes. O abrigo deveria ser constante e de revirar todo o meu coração de gratidão e emoção. Quero suspirar mais vezes, quero sentir as borboletas e saber que posso contar com o meu abrigo. Mas não é o tipo de coisa que se cobra. Simplesmente, acontece. Só poderia acontecer comigo sempre também. Não quero ser ingrata. Só queria que fosse mais simples, mais leve. Há momentos, há instantes que me enchem de um bom sentimento, que mal sei nomear. Há respiro. No entanto, há tanto que me puxa, que me suga, que faz eu duvidar, que me faz chorar e imaginar que a vida nem sempre é legal com todos. Só poderia ser mais fácil amar, ser amada e chegar em casa e ter o meu abrigo. Nem sempre é. Hoje não é.

domingo, 12 de dezembro de 2021

 

Eu espero


               Ainda é cedo, acordei depois de sonhar com sorvete, mais especificamente os meus sabores preferidos, baunilha com chocolate. É estranho, me sinto muito estranha. No sonho eu não gostei de tomar sorvete, mesmo sabendo que eu amava. Algo parecia errado e isso me fez despertar. E pra deixar tudo ainda mais estranho, a primeira pessoa em que pensei ao acordar foi nele, o meu amado. Geralmente, não seria estranho. Eu vivo com ele em meus pensamentos. Não temos um compromisso, mas isso não diminui a intensidade com que sinto. E sim, resolvemos ir com calma. Acho que estou tranquila com isso, não preciso complicar. Mas então tem esse sonho e o pensamento imediato nele ao acorda. É estranho porque havia alguém que não era ele em meu sonho. Alguém que passou brevemente por minha vida e eu não sinto mais nada. Acho que estou cansada, só isso. Preciso parar te tentar entender os meus sonhos. Não precisa ter uma explicação. No entanto, andei pensando posteriormente. E se o sonho quer dizer que eu não gosto do que costumava gostar? E prova disso é a presença do outro? Continuo amando sorvete de baunilha com chocolate. Serão meus sabores preferidos por muitos e muitos anos. Já a presença do passado poderia ser o meu desejo de fazer diferente com o atual. Nossa, é tão estranho falar atual. Não somos namorados. Somos apenas duas pessoas que se gostam e estão se conhecendo. E isso me faz pensar, eu quero mais? Eu quero ir além? Por muito tempo tentei viver um dia de cada vez, sem pensar demais no futuro e criar muitas expectativas, evitando assim as decepções. No passado, eu travei, não pensei em ir além e a falta de perspectiva causou a falta de interesse. Eu não conseguia me imaginar com ele a longo prazo. Há outras questões envolvidas, como o fato de eu ter medo de me abrir e me expor, ficando vulnerável. Então tem ele, que mexe com todas as minhas estruturas e causa pensamentos demais em minha mente. Meu coração saltita quando penso nele e quando ouso imaginar o amanhã, ele está ali: lindo, charmoso, dono de um sorriso encantador, uma voz sexy, inteligente... É, algumas expectativas invadiram a minha mente sem eu permitir. Não queria, mas o que posso fazer? Não quero sofrer e muito menos me sentir vulnerável. Mas é incontrolável. Não sou a mesma de antes, tenho ideias diferentes. Meu coração sente de uma forma diferente, mais intensa. Eu espero que ele esteja pensando tanto em mim quanto eu penso nele. Eu espero que ele fale de mim para os seus amigos, assim como eu falo para os meus, com orgulho e admiração. Eu espero que ele me ache a mulher mais linda que já viu. Eu espero ser o bastante e que não haja espaço para outra em sua vida. Eu espero ser o único motivo de seus suspiros, assim como ele é o meu. Eu espero que essa “relação” cresça. Eu espero que seja único e especial. Eu espero que seja real.

 

A Surpresa


            Ele sempre teve o dom de me fazer suspirar. Animado, sempre vendo o melhor do mundo e das pessoas, não há quem fique para baixo ao seu lado. Infelizmente, nossas rotinas corridas nos impedem de estarmos sempre juntos. Por isso, o celular é o nosso melhor amigo e cupido. Nos conhecemos numa festa, num lugar onde conexões são quase raras, mas a nossa era impossível de passar despercebida. Nossos amigos logo falaram que aquilo seria bem mais que uma única noite. E de fato, foi. Ficar longe dele sempre foi doloroso, mas fizemos o nosso melhor. Quando ficamos ainda mais intensos, os áudios e as mensagens escritas já não eram suficientes. Eles não davam conta de toda emoção que nos preenchia. Então, seja na hora do almoço, hora do café ou ao entardecer, ele dava seu jeitinho e me ligava. Às vezes uma ligação de áudio, outros momentos de vídeo. Não havia um dia sequer que ficávamos sem nos falar e compartilhar as coisas mínimas e máximas do nosso dia a dia. Mesmo que tivesse sido mais um dia repetitivo, sem novidades, ele aparecia para falar as besteiras que sempre arrancavam o meu sorriso mais genuíno. E comigo não era diferente. Eu falava das minhas lutas na cozinha, do bolo queimado, do pão duro, do casal apaixonado que vi no caminho do trabalho, da nova música do meu cantor preferido, da fofoca dos vizinhos briguentos, qualquer coisa. E ele amava e sempre me incentivava a falar mais e mais. “Já deu, Luca, eu falo demais”, disse um dia. “Eu amo quando você fala. Posso sentir a sua empolgação daqui”, ele respondeu prontamente, então eu recomecei a tagarelar. E sempre foi assim, o Luca, vulgo minha paixão, me incentivando e admirando tudo o que fazia. Sem falar no orgulho. Para ele eu era sempre a mulher mais linda, sexy, fofa, inteligente e encantadora que já tinha visto. Nos meus bons dias, acreditava e ficava com as bochechas vermelhas e inchadas de tanto sorrir. Mas, com certeza, tudo sempre foi muito reciproco entre nós. Eu o admiro demais, de todas as formas possíveis.

No entanto, nem as milhares de ligações eram suficientes para a emoção que existe entre nós. A saudade começava a me sufocar e, certo dia, com os hormônios tomados pela TPM, eu ousei chorar e falar como aquilo me incomodava. Ele, obviamente, também tão resistiu e se emocionou. Era um sentimento ainda mais intenso tomando conta do meu coração. “Tudo vai melhorar, Liz”, ele dizia entre lágrimas. Alguns dias se passaram e eu estava naquela rotina estressante no trabalho. Apresentação de nova campanha, com novos clientes, e um chefe ainda mais rabugento do que o costume. Parecia que o mundo iria explodir em minhas mãos. Uma das únicas pessoas capazes de me acalmar um pouco era ele. Sua energia alegre era contagiante e ele sabia exatamente o que falar para me fazer sorrir em meio ao caos. Era um sorriso breve, mas era aliviante. Simplesmente, salvava o meu dia. Ao final da apresentação mais importante da semana, fui surpreendida com um lindo buquê de lírios brancos. “Luca”, pensei e suspirei. Apenas ele era capaz de enviar as minhas flores preferidas no meio de um dia tão estressante. Continuei sorrindo e aquela tarde ficou mais leve e colorida. Depois de passar alguns minutos suspirando e admirando aquele lindo presente, eu me dei conta de que havia um cartão. “Espero que você esteja com os olhos daquele jeito que me fazem abrir um enorme sorriso. Como não há certeza, preciso conferir pessoalmente. Me encontre onde nos conhecemos. Te espero as 19h, Beijo do seu Luca”. O meu romântico coração acelerou e eu saí logo do trabalho. Precisava atravessar a cidade e encontrar a minha grande paixão e, ouso dizer, amor. Ansiosa e muito emocionada, eu até me esqueci do meu medo paralisante de elevador. Cheguei às 19h em ponto, nem um minuto a mais e nem um a menos.

No terraço daquele prédio de nove andares, o casal super apaixonado se reencontrou com um beijo repleto de saudade e sentimento. Só existia nós, a noite estrelada e dois corações extremamente apaixonados e entregues. “Que bom te ver, Luca. Eu estava com tanta saudade!”, disse ofegante. “Eu também, minha linda. Te ver era tudo o que eu mais queria”, ele falou e nos beijamos mais uma vez. “Mas como você saiu cedo do trabalho?”, perguntei curiosa. “Esse é um dos motivos para eu estar aqui. Consegui uma promoção... Desculpa se não te contei antes, mas queria te fazer uma surpresa quando tudo desse certo. E deu”, contou. “Parabéns, meu amor. Você merece. Você, mais do que ninguém, merece isso”, falei. “E ainda não disse o melhor. Eles me deram a oportunidade de comandar o escritório aqui da cidade. Poderemos ficar pertinho um do outro. Na verdade, o outro motivo pra eu estar aqui é esse”, Luca disse e se ajoelhou. Ele enfiou a mão no bolso e puxou um anel de noivado. Meus olhos se encheram de lágrimas e naquele instante eu sabia que não precisava de nenhuma pergunta, porque meu coração já sabia perfeitamente a resposta, ele sempre soube. Mesmo assim ele perguntou: “Liz, amor da minha vida, luz dos meus olhos, razão dos meus sorrisos, você aceita se casar comigo?” E eu respondi imediatamente: “Sim! Claro que eu aceito”. Com os olhos brilhando e repletos de lágrimas de felicidade, nós nos abraçamos forte e nos beijamos. Não havia dúvida, porque desde o primeiro momento que o vi, eu sabia que seria uma pessoa que marcaria pra sempre a minha vida. E saber que ele me escolheu pra compartilhar a sua vida, só enchia o meu coração das mais puras alegria e gratidão. E essa foi a melhor e mais emocionante surpresa que o amor da minha vida me fez. Agora sou eu quem devo fazer isso. Preciso chegar em casa e contar que a família irá crescer.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

 

Aquele toque


            Minha respiração está acelerada, eu já não consigo definir quem sou eu e quem é ele. O nosso suor é a prova de que a noite começou extremamente quente e excitante. A verdade é que essa sou eu quando ele está por perto. E tenho certeza de que a reciproca é viciante e verdadeira. Ele não me deixa mentir, a sua excitação não me deixa mentir. Apenas um toque e eu me reviro por inteira. Suas mãos sabem exatamente onde tocar e como tocar. A sua voz em meus ouvidos é anuncio de prazer e entrega. Porque não há como negar, eu fico totalmente entregue quando se trata dele. E quando a sua respiração segue aquele ritmo melodioso é como se eu pudesse fazer uma música, porque o meu corpo simplesmente segue a sua melodia estimulante. Em pouco tempo estamos nos braços um do outro contemplando o que é obvio entre nós: uma genuína conexão física e mental. Não tem como fugir, não há motivos para fugir. Por que eu iria querer ficar longe desse incêndio? Definitivamente, não quero e não preciso. O que realmente preciso é de mais, muito mais. Quando mais tenho, mais quero. Quanto mais ele me tem, mais ele me quer. Nos queremos em qualquer horário, com total intensidade. E que intensidade?! Ele é o meu fogo, é o meu calor, é a minha completa paixão. Somos a paixão um do outro. Porque quando nos encontramos não há hora, não há tempo, simplesmente nos entregamos desde o primeiro olhar, desde o primeiro toque. E que toque?! Fico arrepiada só de imaginar o jeito que ele me pega em seus braços fortes. Já estou mais uma vez excitada com a promessa de mais uma viciante troca de caricias. Não há como negar ou fugir da realidade, somos a brasa um do outro. E seu eu pudesse, queria a minha todos os dias, o dia inteiro. Porque aquele toque desperta o que há de mais intenso dentro de mim. Meus olhos brilham, minha pele soa, minha respiração acelera, meus músculos contraem e meus lábios aguardam o seu beijo. Porque aquele toque é meu vício, é minha paixão, é pura euforia. O frenesi toma conta do meu corpo e eu vou até o céu incontáveis vezes. O toque dele me preenche, me surpreendi, me deixa a beira de um abismo da mais pura luxúria. E quando ele me preenche mais uma vez, eu sinto uma carga eletrizante atravessar todo o meu corpo. É gostoso, extremamente gostoso, é viciante, é enlouquecedor.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

 

Quando me apaixono


            Calor, frio, céu estrelado, céu ensolarado, nublado, chuvoso, seco... Não importa o tempo, o dia é sempre o mesmo: repleto de cor e luz. Tudo e nada me fazem querer cantarolar no meio da rua, no ônibus, na praça, no trabalho, em casa. E quando vejo um casal amoroso em qualquer lugar, só há um pensamento possível. Sorriso largo, olhos brilhantes, coração saltitando, respiração entrecortada... Só consigo imaginar uma coisa. O celular vibra, recebo uma notificação, os batimentos aceleram e eu só consigo imaginar uma coisa. Balanço a cabeça quando não é aquilo que esperava. Então, uma nova notificação traz todo o brilho de volta e eu quase perco a fala. Suspiro, dou uma risadinha e já preparo os dedos para enviar a minha resposta. Sim, quando estou disponível não vejo motivos para fazer hora, pra enrolar e fazer joguinhos. E mesmo se eu estiver ocupada, costumo dar um jeitinho. A emoção toma conta de mim, intensidade é meu segundo sobrenome. Mas não é por qualquer um. Não é qualquer um, nunca foi. Dúvidas? Quanto a isso, nenhuma. Coração dividido? Impossível. Só há um grande motivo para os meus devaneios diários. Não há espaço para enrolação e dubiez quando se trata disso, afinal, depois de muitos tropeços, é real. Quando eu me apaixono, o mundo ganha todas cores possíveis e elas são lindas e inspiradoras. Quando eu me apaixono, tudo e qualquer coisa me faz lembrar você. Quando eu me apaixono, a palavra impossível some do meu dicionário. Quando eu me apaixono, os cantos dos pássaros ficam mais românticos. Quando eu me apaixono, fico mais confiante perante as dificuldades. Quando eu me apaixono, qualquer motivo me leva a entrar em contato com você. Quando eu me apaixono, quero que você saiba tudo sobre mim, mesmo aquelas besteiras. Quando eu me apaixono, a espera parece eterna. Quando eu me apaixono, aguardo ansiosa pelo seu toque. Quando eu me apaixono, uma ligação é tudo o que eu espero após um dia difícil. Quando eu me apaixono, eu fico totalmente exposta e entregue. Porque quando eu me apaixono, não há limite, regra. Há apenas nós dois e uma imensidão de sentimentos, emoções e possibilidades. Por favor, seja a minha paixão.

domingo, 5 de dezembro de 2021

 

Inocência


            Qualquer pessoa de bom coração que eu perguntar se prefere manter uma boa e sincera relação com alguém ou viver uma mentira e ser enganada, ficará com a primeira opção. Então por que essa mesma pessoa costuma assumir o outro lado, agindo de má fé na vida de outra pessoa? A resposta é simples, isso não existe. Não dá pra ter um bom coração e mesmo assim escolher transformar a vida do outro de acordo com o seu interesse. Resumindo, não dá pra ter um bom coração e ser um merda para o outro que confiou e apostou suas fichas em você. E por que eu ainda me surpreendo quando vejo acontecer, inclusive comigo? Talvez as pessoas (MUITAS PESSOAS) acham que eu seja inocente por ainda acreditar no bem e, consequentemente, me surpreender. Por anos e anos, meu coração foi guiado pelo amor e pelos sonhos. Conversar com as estrelas me parecia o auge da emoção do meu dia. Sempre acreditei em algo maior, grande e incrível. Mas, calma, não era cega para as injustiças, as violências e desigualdades. Bem longe disso, na verdade. À medida que eu abria meus olhos e enxergava o mundo real, meu coração chorava e chora, frequentemente. Eu gostaria que fosse diferente. Talvez por este motivo, ainda insisto em acreditar. Não em todos. Não mesmo. As dores e as feridas me fizeram mais dura (questionável). Eu sinto onde e em quem posso entregar o meu coração. Eu sinto o que posso confiar. Ele erra, eu erro? Com frequência. Mas não suporto a ideia de desistir. Não suporto pensar que o bem querer natural do meu mole coração se perdesse. O mundo é duro e injusto, e sem o meu sensível coração com certeza a vida seria bem mais. Para muitas pessoas a minha sensibilidade, a minha inocência, quer dizer que sou trouxa. Se isso for sinônimo de querer confiar e viver a beleza da vida quando o meu coração disser que é certo, sim, eu escolho ser trouxa. E se, no final, sairmos feridos, tudo bem. Claro que não estará tudo bem, sofrer quer dizer novas feridas, remendos, cicatrizes. No entanto, ainda estarei vivendo segundo o que acredito. Eu escolho a inocência, mesmo que isso queira dizer que eu sou “trouxa”. Eu escolho a inocência, a sensibilidade, a pureza, eu escolho o meu coração, eu o escolho o amor.

sábado, 4 de dezembro de 2021

 

Uma conversa difícil


            Metade dos problemas de relacionamento – amoroso, amizade, familiar - poderia ser evitado e/ou resolvido com um bom diálogo, mas as pessoas, muitas vezes, têm medo do que descobrirão com essa troca sincera. No entanto, quase sempre é um medo infundado, alimentado por ideias que um subconsciente amedrontado cria. Se está com medo do outro ainda ter sentimentos por alguém do passado, diga, questione, não fique com dúvidas e, muito menos, se retire de situações por criar uma história que só é real em sua cabeça. A falta de dialogo acaba afastando, iludindo, causando dores desnecessárias e evitando que um relacionamento com potencial vá pra frente. Tenha uma conversa difícil, exponha os seus anseios e sentimentos. Por mais que atitudes valham muito mais, as palavras são de extrema importância para esclarecer situações que sempre tornam os relacionamentos piores, difíceis ou, ainda, nulos. Por mais que seja difícil, que doa o ego, que fira o orgulho, converse, tire suas dúvidas, manifeste o seu incomodo. Afinal, você estará se abrindo com alguém de confiança, não é qualquer pessoa, é alguém que você espera ter em sua vida, seja um amor, um amigo ou um familiar. Apenas fale, escute e resolva! A verdade pode ser dolorosa, mas a ausência dela pode ser dilacerante. Pois bem, ilustrando o que eu quero dizer, imagine o seguinte caso:

            Depois de quase dois anos sem paquerar ninguém, Nicole se abriu às novas possibilidades e estava conversando com Gabriel. Bem animada e acreditando que a “relação” estava caminhando bem, a jovem aceitou um encontro. Para ela estava tudo bem, tudo evoluindo da forma que deveria. No entanto, para o rapaz não era bem assim. Inocentemente e pela falta de experiência, ela acabou tocando no nome de alguém do seu passado. Para ela parecia tudo bem, afinal já havia superado e era apenas uma história. Um erro, claro. Para um homem cheio de dúvidas e incertezas, como Gabriel, isso não passou despercebido e ficou em sua cabeça. Ele queria continuar conversando com Nicole, alimentando aquilo que estavam vivendo juntos, mas as dúvidas o impediram de ir além. Ele tinha receio que o passado da jovem não estivesse realmente no passado e houvesse sentimentos da parte dela, no mínimo. O erro de Nicole, por citar o passado, e a falta de dialogo por parte do Gabriel, esfriaram o contato entre eles e simplesmente acabou, mesmo sem começar. Mal sabia ele que ela estava aberta, de coração e mente abertos para permitir que ele entrasse em sua vida. Já o passado era apenas o passado. Uma conversa difícil poderia ajuda-los. Não há certeza, mas aumentaria as possibilidades de fazer dar certo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

 

Zona perigosa


            Taça de vinho numa mão, a outra com o celular, pronta para discorrer palavras que mais tarde irei me arrepender fortemente. Por que eu não o afasto antes que seja tarde demais? Por que insistir no erro? Não pense que eu falo de você, afinal, sentir nunca foi e nem é um erro. Eu falo sobre as palavras complicadas que estou querendo escrever. Eu sinto isso realmente? É apenas o álcool em meu sangue? Ou o medo? Qualquer que seja a resposta, eu deveria parar agora. Não posso me expor ainda mais. Minhas palavras costumam ser bastante claras, não tenho motivos pra mentir pra ninguém. Mas eu me limito, sim, me limito. É a minha autodefesa. E se eu irei abandoná-la, espero o mesmo de você. Espero e quero. Não posso mentir, eu quero. No entanto, a pergunta que fica é: estou pronta para abandonar a minha zona de conforto? Você está pronto para abandonar a sua? Sim, eu quero que você abandone a sua zona de conforto. Eu quero o seu desejo, o seu toque, o seu corpo, os seus beijos. Eu quero suas mãos em mim, os seus olhos... E eu quero que eu seja a única que você deseja, eu quero ser a única a ter a sua completa e intensa atenção. Eu quero ser o único motivo do seu tesão, do seu suor de madrugada. Eu quero que você me queira dia após dia. Eu quero ser a única mulher da sua vida, do seu mundo. Você está pronto? Uma palavra e eu estarei totalmente pronta. Uma palavra e eu serei completamente e inteiramente sua, para o seu prazer, o meu e o nosso. Apenas uma palavra e você será o único homem da minha vida, o único a ter toda a minha atenção, o meu desejo e o meu querer. Uma única palavra e eu estarei totalmente em suas mãos. Nossos corpos serão um do outro, assim como nossas mentes e nossos corações. Você está pronto para abandonar a sua zona de conforto? Uma palavra positiva e eu abandonarei a minha. Então serei apenas sua. Mas escute, eu quero, como quero, você sabe, mas não quero por querer, de qualquer forma e com qualquer pessoa. Essa pessoa é apenas você e a zona é perigosa. Juntos podemos experimentar tudo, podemos viver tudo, sentir, suar até o amanhecer. Apenas uma palavra sua e eu estarei pronta. No entanto, não pense que vai ser fácil. Pode ser simples, isso pode. Mas não vai ser fácil, nem de qualquer jeito. Sou eu, você sabe que sou apenas eu. Então vamos nos entregar às diversas sensações e fazer isso valer a pena. Vamos encarar juntos a zona perigosa.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

 

A garota do elevador


          Sabe aqueles momentos super estranhos em que parece que sua vida inteira passou em sua mente num instante? A ansiosa Ângela sabe bem o que é isso. Ela nunca imaginou que um instante pudesse se arrastar pelo que parecia uma eternidade. Mais de um instante, na verdade. Tudo parecia “normal” naquela terça-feira quente e chuvosa de primavera. Com seus vinte e seis anos de vida e quatro morando em um prédio, a jovem agitada ainda não tinha superado o seu medo de andar de elevador e sempre que podia optava pelas escadas. “Ótima forma de se exercitar, já que não suporto academia”, se justificava toda vez quando estava na porta do elevador e seu coração palpitava e mais uma vez fugia para as escadas, encarando longos sete andares. Com o tempo ela se acostumou e nem se sentia tão cansada. O porteiro e zelador, que trabalha naquele prédio há mais de 25 anos sempre a incentivava, nunca julgando seu intenso medo. “Muito bem, Anjinha, mais um mês e você estará com as canelas mais torneadas que o Rafa do 307”, brincou com ela naquela manhã. “Deus me livre ter aquelas canelas, seu Tony. Será que na volta vou ter que encarar a cabine do terror?”, disse bem humorada e saiu para fazer suas compras.

            Uma hora e quarenta minutos depois, Ângela estava de volta. A jovem encarou a recepção surpresa. O sempre correto zelador não estava lá. A primeira coisa que ela pensou foi “vou ter que encarar o elevador sozinha”, já que o Antônio frequentemente a acompanhava quando não tinha jeito de subir as escadas. Ela olhou para as inúmeras e super pesadas sacolas em seus braços e xingou um palavrão mentalmente. Respirou fundo, olhou para a porta da “cabine do terror”, apertou o botão com dificuldade e aguardou. Olhava para as mãos, depois para a porta e por fim para a escada, que naquele dia parecia ainda mais longa. “Eu vou conseguir. São poucos segundos. Eu vou conseguir”, disse baixinho. Quando a porta do elevador abriu ela imaginou o número 50. “Mas esse prédio precisava ser tão velho?”, pensou e fez uma careta. Atravessou a porta bem lentamente, olhando para ver se outra pessoa aparecia ou até mesmo o Antônio. Ninguém. Ela precisava encarar aquela situação. Num impulso apertou o número 7 no painel. A porta se fechou, suas mãos suaram ainda mais e um barulho bem estranho fez seu coração disparar. “Não é possível! Merda, merda, merda... Não acredito que isso está acontecendo comigo. Merda!”, disse.

Jogou as sacolas no chão e apertou vários botões e nada aconteceu. O mundo simplesmente parou naquele instante. Ângela viu sua vida inteira dançando em sua mente. Sua infância solitária, o primeiro amor, o último amor, seus avós, sua enorme e barulhenta família, os anos na faculdade, os amigos loucos e amorosos, o trabalho, tudo isso e mais um pouco surgiu em sua mente. Ela começou a imaginar que ficaria ali para sempre. “Coitada da suculenta que eu ganhei, vai morrer se eu ficar aqui pra sempre”, ficou pensando... “Mas ela já está morrendo!”, uma voz sarcástica gritou em sua mente agitada. Ângela, ou Anjinha para os que tinham paciência de conhecê-la, riu exageradamente. Não sei se era o nervosismo ou ela estava rindo mesmo da situação. Quando ganhou aquela planta disseram que era muito simples de cuidar e que, dificilmente, iria morrer. “A planta perfeita pra mim”, imaginou. Um mês depois a coitada da suculenta estava morrendo. “Se eu sair daqui, prometo que vou salvá-la”, disse em voz alta. Naquele mesmo instante o elevador começou a subir. A jovem deu um respiro profundo e aliviado. No entanto, dois andares acima seu coração voltou a disparar. Quando a porta se abriu, ela riu sozinha.

“É apenas uma pessoa entrando. Só isso... E que pessoa!”, admirou o homem alto e forte a sua frente. “Boa tarde, senhorita!”, disse com a voz rouca, o que causou um rebuliço no meio das pernas já trêmulas da pobre Ângela. “Boa tarde!”, respondeu timidamente. Como nunca tinha visto aquele homem ali antes? “Precisa de ajuda?’, o homem perguntou. “Ajuda? O que?”, falou confusa. Ele então apontou para as sacolas no chão e ela se deu conta. “Ah, obrigada!”, agradeceu. Num impulso, os dois fizeram um movimento para apanhar as sacolas e os seus braços roçaram de leve. Aquele breve contato despertou uma excitação em ambos. Eles se olharam e sorriram. O flerte foi interrompido por um barulho chato já conhecido por Ângela. “Merda!”, ela gritou num impulso. “Também tenho medo disso”, o homem confessou. A confissão abrandou o nervosismo da jovem, que abriu um sorriso bastante acolhedor. “Prédio velho, cabine do terror”, ela brincou. “Vamos respirar fundo... Isso. Apertamos o botão de emergência. Pronto. Continuamos respirando. Isso, muito bem. A situação vai melhorar”, ele, mesmo com medo, tentava acalmar a jovem atraente ao seu lado.

Dois minutos depois nada aconteceu. Eles se entreolharam. Quando viu que ela ficava mais ansiosa, apenas disse: “Temos que fazer alguma coisa para passar o tempo e nos distrairmos”. Ângela desacreditou no que havia pensado. Um sorriso malicioso a entregou, o que fez o homem se empolgar intensamente. Com as bochechas já muito vermelhas de ansiedade, medo, excitação e tesão, a jovem deu o sinal de que ele precisava. Eles foram tomados pelo calor do momento e se entregaram a um intenso beijo. Num instante, Ângela estava encostada na parede com as pernas envolta do corpo sarado daquele homem misterioso. Suas mãos pequenas e ágeis rapidamente desabotoaram a camisa alinhada dele. E com a maestria de quem sabe o que está fazendo, ele agarrou uma das coxas da jovem e com a outra mão levantou o seu vestido e puxou a sua calcinha de renda. “A, a...”, tentava dizer ofegante. “Eu sei”, ele respondeu, entendendo perfeitamente o que ela queria insinuar. Ela mal piscou e o homem já tinha aberto uma camisinha. Em poucos instantes, durante aquele instante excitante, ele estava com todo o seu vigor a preenchendo. Um prazer ainda maior, misturado com a emoção do momento inusitado, tomaram conta dos estranhos naquela “cabine do terror”. Ou ouso dizer, “cabine do prazer”. Então, após o êxtase e ápice mutuo, os dois ofegantes se entreolharam e sorriram ternamente.

Ângela mal conseguia entender o que tinha acabado de acontecer. Ela sabia, como ela sabia, mas era impossível acreditar no que ela teve coragem de fazer. Mas pela sua expressão, não havia arrependimento. Lentamente, ele a soltou e o barulho do elevador subindo fez a jovem se ajeitar abruptamente. A porta se abriu e mil sensações tomaram conta dos dois. Uma figura conhecida apareceu na porta e três pares de olhos se entreolharam. “Já ia na recepção te procurar. Tem um tempão que disse que estava subindo”, Jorge disse para o homem. “Desculpa, Ângela. Boa tarde! Como você está? Finalmente conheceu meu irmão? Esse é o misterioso Leandro”, continuou falando. “Merda!”, o xingamento escapuliu da boca da jovem e o homem, ex-misterioso, entendeu naquele momento o tamanho da bagunça. “Por que o irmão do meu ex precisava ter mudado tanto? Por que eu nunca o conheci? Merda!”, pensou.  

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

 

A realidade é o que é


            Por muitas vezes fomos ensinados de que escutar o coração não era o certo a fazer, afinal, é um órgão muito emocional, nada racional. De fato, ele é guiado pelas emoções e sensações. No entanto, chega um momento da vida que arriscar e escutá-lo pode dar certo. Pelo menos, pra você que ousou escutá-lo. Se o outro, destinatário de seus bons sentimentos, não soube receber tamanho sentimento verdadeiro, o problema está com ele, então o melhor é que ele saia logo da sua vida. Digo isso porque estava pensando nas vezes que me vi dividida por dois, ou até três, interesses amorosos. Quando somos jovens e inexperientes – imaturos, principalmente, entender essa dúvida parece doloroso, uma loucura. Como podemos gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? Como saber a escolha certa a fazer? Não importa. Uma hora ou outra o interesse real vai ficar mais forte e você vai saber que fez a sua escolha. Ou não. Vai virar uma bagunça e corações serão despedaçados. Quando quebramos a cara algumas vezes, crescemos um pouquinho e aprendemos a escutar o nosso coração sem receios, e quase não existe essa dúvida. Não posso generalizar, claro, a vida e o coração é de cada um, então sentir também é. Mas quando somos maduros, entender o coração e enxergar o que o outro é em nossa vida se torna menos duvidoso. Muitas vezes não há nem espaço para ficar dividida por duas pessoas. Quando o sentimento é profundo – bem distante daquelas ligações rasas e traiçoeiras, só há espaço para uma pessoa no lugar mais prazeroso do nosso coração. Não há isso de “vou conversar com vários para descobrir qual é o melhor”. O coração simplesmente sabe: é aquela pessoa, é ele que eu quero fazer dar certo. Claro que há diversas variáveis no meio do caminho, afinal, o mundo é estranho e injusto. Neuras, medos, erros do passado invadindo a mente, a imaturidade do destinatário do seu afeto são alguns dos problemas que podem adiar ou acabar com aquilo que seu coração sabe que é o certo. Destes, o último é o que mais dói, porque quase sempre impedirá que o relacionamento avance. É o sinal de alerta para sofrimento e possíveis lágrimas. E se o amado ainda estiver no pique de “quanto mais melhor”, pode esquecer. O seu sentimento por ele pode ser verdadeiro, super certo, mas ele não está na sua sintonia e não é o momento do seu encontro. A imaturidade do outro, definitivamente, é o obstáculo mais doloroso que quem sabe escutar o coração pode enfrentar. A realidade é o que é, a realidade é horrível. Não tem como negar. E se uma felicidade atravessar o seu carinho, carregue-a, preserve-a, não a deixa escapar por besteiras, regue-a, agradeça.

sábado, 13 de novembro de 2021

 

A chuva


            Um dos órgãos mais importantes do meu corpo incendeia, vive um turbilhão de emoções e sentimentos quando se depara com a chuva. Para quem está acostumada a apanhar as migalhas e se inundar em expectativas exageradas, às vezes eu permito que meu coração sinta a imensidão da chuva abundante. Parece uma loucura, mas a insanidade é a minha amiga de longa data. Chuvas calmas, onde podemos nos molhar sem medo, deveriam ser a minha única opção. Mas a trovoada me faz acordar, despertar para a verdade bem diante de mim: a vida passa. Então vale a pena o risco. Já perdi tempo demais com águas rasas, atitudes pequenas ou a falta dela. Eu quero me enxarcar, quero que essa chuva tome o meu coração, o meu corpo e faça eu me sentir viva, mesmo que por um instante. Quero sentir que estou no meio de uma tempestade sem medo do que virá quando ela se dispersar no horizonte e um lindo arco-íris surgir. Quero que o arco-íris seja todo pra mim, dando brilho aos meus olhos. Quero enfrentar as águas turvas e receber a grande recompensa. Quero apenas sentir e ao final dizer que valeu a pena. No entanto, meu ansioso coração espera encontrar uma mão companheira no meio da tempestade, uma mão que me apoie ou que eu possa dar apoio. O meu querido coração espera atravessar a chuva carregado pelo mais intenso e ardente sentimento ao lado de alguém que o entenda. Mas sabemos como a chuva é incerta, assim como a vida e as pessoas que deparamos ao longo da caminhada. Sorte será encontrar um coração intenso e tão pronto a enfrentar qualquer chuva como o meu e com o meu. Afinal, é apenas a chuva, é apenas a vida. Na verdade, é “a” chuva, é “a” vida. Não dá pra ignorar, não dá pra deixar passar sem enfrentá-la. Vai dar medo, com certeza vai. Temos que ir com medo, mas temos que ir. Há momentos que serão mais difíceis, outros, surpreendentemente, mais simples, mas o preceito é apenas um: não deixe de ir. Há beleza em toda e qualquer chuva. E o sol sempre há de brilhar, assim como o arco-íris costuma aparecer, basta esperar. Então meu coração anseia pela chuva, pelas chuvas e pelo seu poder de o incendiar mesmo quando dá medo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

 

Quando o passado bate na porta


            Diga que você nunca se imaginou seguindo o caminho mais simples, correndo de volta para os braços daquele alguém conhecido do seu passado? Afinal, dá uma preguiça enorme conhecer novas pessoas. Ter que fazer inúmeras perguntas genéricas até ter coragem e se sentir à vontade para entrar em assuntos realmente instigantes. Uma vez ou outra pode ser empolgante, fugindo do padrão. Mas, na maioria das vezes, é aquela mesma coisa, “como você está?”, “mora onde?”, “faz o que?”. Seria tão mais empolgante e fácil, simplesmente, chegar e falar “te achei interessante, seja sincero, não precisa falar o que acha que eu quero ouvir, seja você, com suas loucuras, esquisitices...”, ou seja, não seja entediante. Como pode ser tão entediante conhecer pessoas novas, mas que você já viu à distância? Eu, particularmente, muitas vezes tenho preguiça. Por isso, que em alguns momentos visitar o passado parece tentador. É mais simples bater um papo sem rodeios com alguém que já conhece seus diversos lados. No entanto, passado deve ficar no passado, com algumas exceções. Por que daria certo agora? Se não deu antes, devido à diversos defeitos de ambas as partes, assim como falta de entendimento, sentimento, química, amor, e tantos outros motivos. Por que daria certo depois de dois, cinco, dez anos? Poderia, claro. Afinal, podemos mudar. Todos podem mudar. Mas e se não mudar? Vale a pena insistir, por ser mais fácil e conhecido?

        De vez em quando o passado bate na porta e nos faz repetir essas questões repetidas vezes. Curioso, ou mesmo decepcionado com as tentativas frustradas de conhecer novas pessoas, o individuo abre a janela, ou mesmo a porta, para tentar entender o que esse passado quer. A resposta pode ser chocante, surpreendente, tentadora. É fácil ficar dividida com o deixar entrar na sua vida novamente ou não, ainda mais quando a pessoa vem com a promessa de mudança acompanhada da exclamada vontade de fazer dar certo. Pode ser uma ilusão atraente, muito atraente, principalmente, para quem tem o coração mole e tende a acreditar sempre no melhor do ser humano. Então, é aí que deveria haver aquele super filtro para entender o que deve ficar guardado apenas na lembrança e o que deve fazer parte de novas memórias. Porque às vezes o passado vem apenas para dar um ponto final, esclarecer uma situação, pedir desculpas, perdoar. No entanto, se o passado vem pra desenterrar toda uma história já vivida, que por inúmeros e dolorosos motivos não deu certo, o coração deve ficar de lado e a razão deve prevalecer. Mas é tão tentador focar no já conhecido, mesmo com todos os defeitos, mesmo com tudo que já viveu e sofreu. É tão fácil esquecer por um momento as situações ruins e deixar a porta entreaberta para o passado. É tão tentador... 

Não existe resposta certa, não existe certo ou errado. Por mais que eu diga que a razão deveria prevalecer, na prática é tão diferente e intenso. O coração, frequentemente, vai querer falar mais alto. Para pessoas intensas, que guardam o otimismo dentro de si, encarar mais uma vez o conhecido passado pode ser ainda mais atraente. Porque o outro sabe exatamente o que falar, como agir, quando espera uma resposta positiva. E aquele que acredita não está errado em acreditar nas boas intenções. Errado é o outro por prometer coisas que sabe que não pode cumprir. Então, dizer o que é certo e errado na prática é extremamente complicado. Eu, particularmente, por mais que me digam pra não ser inocente e desconfiar das pessoas, prefiro confiar no meu coração e arriscar. Não digo que deixarei a porta aberta, que tentarei novamente, só digo que prefiro acreditar no bem. Há quem diga que colocar na balança é uma boa solução. Você sorriu ou chorou mais vezes quando esteve com essa pessoa? Para algumas situações pode até funcionar, mas é o que eu disse, há inúmeras variáveis: mudança de uma ou duas partes, tempo, outros relacionamentos... Não há regras, respostas. Há cada ser humano, dotado de suas particularidades. Mas se eu ousar dar um conselho, mesmo sem ser pedido, eu diria para acreditar que o coração encontrará o seu rumo ideal. Pra mim, hoje, é me abrir e continuar tentando, mesmo que seja tão entediante e dê muita preguiça. Assim como o passado pode mudar, o novo pode ser atraente e super empolgante.  


domingo, 7 de novembro de 2021

 

O jeito que ele me olha


            Parece mentira, até pra mim, mas a verdade é que toda a minha concepção de desejo tem se transformado depois que conheci aquele homem. Ele me desafia diariamente, me conquista, me faz o querer intensamente e acaloradamente. Às vezes eu me pego pesando que meu corpo sempre o procurou, porque o que temos é de enlouquecer. E o que mais espero é o seu toque, e sei que ele também espera pelo meu. Aquele olhar diz tudo. O jeito que ele olha... Sairá faíscas, eu sei, ele sabe. O jeito que ele me olha faz eu querer arrancar todas as minhas peças de roupa bem depressa. O jeito que ele me olha faz eu ficar louca por seu corpo. O jeito que ele me olha desperta pensamentos super quentes. O que não falta é calor quando se trata desse homem. O que você está fazendo comigo? Não responda. Só não pare. Por favor, não pare.

            Se eu soubesse que nossas noites seriam desse jeito, não teria pensando tanto antes. Quem nos vê, não imagina os pensamentos intensos que se passam em nossas mentes. Quem nos vê, não imagina que essa conexão foi despertada em tão pouco tempo. Às vezes ainda me questiono se isso é uma loucura. Independente da resposta, eu quero continuar. Eu quero continuar te desejando desse jeito e quero que você faça o mesmo. Porque quando você me olha, eu sinto todos os pelos do corpo assanharem. Porque quando você me olha, os meus músculos se contraem e eu me contorço por inteira. E só de imaginar o seu toque, as minhas partes mais sensíveis imploram para você chegar bem pertinho. Com isso, ao longo da noite intensa, eu posso imaginar com clareza e excitação os nossos corpos juntos e suados de um prazer entorpecente. Nossos lábios se encontram com a mesma intensidade e desejo que nossos sexos, então eu tenho a certeza que apenas uma noite nunca será o suficiente. E o desejo por você só cresce, o desejo pelo seu corpo, pelo seu toque, seu beijo... Ah, como eu anseio por seus beijos. Beije a minha boca, o meu peito, as minhas pernas, coxas... Me beije por inteira e continue me olhando assim. Quero ser sua por completo e quero que você seja meu, apenas meu. Então, me olhe e eu serei apenas sua.

            E quando eu for sua e você for meu, os dias serão pequenos para tamanha excitação. Eu sei que é reciproco, então venha e me faça sentir todo o seu vigor. Entre em mim do jeito que você entrou em minha vida, de forma intensa e surpreendente. Use e abuse dessa boca e dessa língua, que vamos virar a noite conhecendo cada canto de nossos corpos. E quando a manhã chegar, vamos repetir uma, duas, três, inúmeras vezes. Vontade não falta, eu sei. Ideias, vislumbres, excitação, tudo se junta em minha cabeça. A imagem de seus olhos em meu corpo acende um fogo enorme dentro de mim. Porque quando você me olha, eu não posso imaginar nada mais animador. Porque quando você me olha, me despindo com seus olhos intensos, meu corpo responde que serei sua, totalmente sua. Porque o jeito que você me olha, é promessa de fogo e paixão. Então não fique apenas assim, me olhe, me deseje, mas também me tome pra você. Eu quero, como eu quero. Nunca imaginei querer alguém tanto assim. Querido, me olhe apenas mais uma vez desse jeito que eu estarei inteiramente em seus braços. 

 

domingo, 31 de outubro de 2021

 

Meus fracassos


            Às vezes eu apenas queria que fosse simples e fácil. Mas nada é tranquilo quando se trata de mim. Sabe aquela sensação de que você está repetindo os mesmos erros e só encontrando decepções? Hoje ela me invadiu a mente. Poderia ser simples. Nunca é. Eu tenho algum imã para situações complicadas, só pode ser isso. Como posso sempre me colocar diante de pessoas difíceis e caminhos incertos? Me atrai. E é sempre a mesma coisa, eu digo que não irei me colocar naquela situação, mas ela vive se repetindo. Um murro em ponta de faca atrás do outro. Há quem diz que quem perde é o outro, que ter um coração mole e uma certa inocência é algo positivo e o outro apenas perde em não saber receber o meu carinho e a minha intensidade. Se isso é verdade, por que eu sinto que estou sempre perdendo? Pelo menos, tempo eu perco. Nem ouso contar quanto tempo perdi. Sou, definitivamente, louca por ainda acreditar, mesmo que um pouquinho. Seria mais fácil se eu pudesse apenas desligar as emoções e tomar o lugar do outro, aquele que não sabe receber o amor e viver com intensidade. Seria muito mais simples... Mas aí não seria eu. E eu estou pronta para desistir de mim? Não sei. Uma das perguntas mais difíceis que já me invadiram a mente. Parte de mim deseja lutar por algo diferente e excitante, mas a outra parte morre de medo de continuar socando pontas de facas. Porque, sinceramente, dói. A dor do “fracasso” é intensa, assim como a dor da perda, da desilusão. É como se o céu perdesse aquele incrível tom de azul por dias, semanas, às vezes até meses. E eu amo admirar o céu azul, como amo. Então, continuar seguindo os meus tristes padrões não é algo que aguentarei por muito tempo. Quero acreditar que pode ser diferente, positivamente. No entanto, alguns sinais me confundem, me fazem questionar se estaria eu mais uma vez seguindo o caminho do céu cinza. Não pode ser. São tantos fracassos seguidos. Uns mais duros que outros, mas sempre desgastante. Não era algo que eu buscava, ou busco. Eu sempre esperei que fosse natural, excitante, intenso. Mas me vi jogada em histórias confusas. Não sei explicar o que aconteceu, apenas me envolvi e seguidas vezes perdi. Hoje, em meio a dúvidas e questionamentos, a intensidade me acompanha. Para alguém com um coração mole, apostar sempre pareceu tentador. Dividida estou entre o receio de fracassar e a ansiedade de mudar. Só posso dizer que pronta não estou para parar de enxergar o céu azul. 


sábado, 30 de outubro de 2021

 

Você quer?


            Sabe, andei pensando em tudo o que tenho vivido, nas paixões perdidas, na intensidade com que vivo cada momento, no que eu quero e, principalmente, não quero. A vida é estranha ou eu sou? Nada parece normal quando se trata de mim. Os segundos são longos quando penso naquilo que quero para o meu coração. O fato, que me persegue, sempre, é que eu não sinto pouco. Eu sinto muito. Eu sinto bem além das trincheiras. E jogar o jogo da vida pra mim ainda é muito estranho. Eu tento controlar o que sinto, como sinto. É eterna luta que eu sempre acabo perdendo. Besteira, afinal, acho que ninguém consegue controlar os sentimentos, a intensidade e sua reação diante das etapas deste intenso jogo. Repito, não queria sentir tanto e a todo momento. Mas sinto muito, por tudo e por todos. E no quesito coração não seria diferente. Todos me dizem para me jogar, experimentar e, simplesmente, viver as emoções, as sensações e o sentimento. Bom conselho, não há dúvidas. Nascemos para jogar. No entanto, o resultado do jogo sempre me assustou. E eu sei que não sou a única a ter este medo. Estou cercada por pessoas que sentem, guardam e tem medo do resultado. Por este e outros motivos, eu e várias tantas nos perdemos em pensamentos e emoções e, frequentemente, nos oprimimos. Não deveríamos nos esquecer que há beleza no jogo e não apenas no resultado. Há? Pois bem, há. Eu vejo. Quando me permito relaxar, eu consigo admirar o frenesi da espera por aquele “bom dia”, “dormiu bem?”, “você me faz bem” ... Admiro também o frio na barriga, o sorriso bobo, a voz sonolenta, a voz bêbada que diz coisas inesperadas, a figurinha travessa, o flerte excitante. Mas a dúvida, aquela dúvida de se estou escutando apenas frases prontas, enviadas igualmente para outro alguém... Ah, essa dúvida me faz querer não sentir tanto, me faz quase implorar para não me expor. Afinal, estaria eu jogando um jogo sujo e injusto mais uma vez? Meu coração espera intensamente que não. No entanto, quando se trata do jogo da vida, tudo é incerto. E agora eu preciso saber, você quer ser o oponente, o parceiro ou o falso parceiro? Você quer lutar contras as incertezas e jogar um jogo excitante? Ou você quer me encarar e dizer que nosso jogo é único quando na verdade eu não sou a única que escuta isso? Você quer apenas sentir? Pois eu, louca, estranha, com o coração mole, ainda estou na partida tentando entender as regras.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

 

Sr. Gavião


                      Ele tem os olhos de ave, que avista a sua presa a grandes distâncias. Seu sorriso tem um traço fino e bem delineado, capaz de fazer qualquer uma perder a noção de tempo e espaço. Sua voz é convidativa, sedutora e está sempre acompanhada das palavras exatas que queremos escutar. Ele é um verdadeiro pedaço de mau caminho. Mas, olha, que caminho gostoso e tentador. E, pra piorar, o sr. Gavião sabe muitas das minhas fraquezas e pontos de sensibilidade (em diversos sentidos, para a minha perdição). No entanto, não posso me abster da culpa “disso” ter chegado aonde chegou. Desde o início eu estava consciente da sua bela face e do seu jeito conquistador. Paquerador nato, esse homem sabia muito bem o que estava fazendo. Ele sempre sabe. E eu também sabia. “É sério que você vai entrar nesse clichê e se deixar envolver por uma pessoa que o maior prazer está em conquistar?”, pensei comigo mesma. A resposta imediata foi sim. Eu sabia que daria errado e mesmo assim me joguei por completo. Me afundei na sua prazerosa e envolvente companhia. Como dizer não para essa criatura? Eu até tentei, pouco, mas tentei. Mas no segundo minuto já sabia que meu caminho estava traçado.

            Em sua companhia encontrei consolo, carinho, prazer, animação, distração... É, difícil continuar descrevendo e não querer me dar uns tapas. O sr. Gavião é do pior tipo de predador. Ele te conhece, te envolve, te conquista através das suas carências e fraquezas. Um pedaço de mau caminho muito consciente de cada palavra que diz. Ele sabe quando se fazer presente e ausente, sempre deixando aquele gosto de quero mais e de “que saudade!” (leia suspirando). Como eu suspirava... O frio na barriga era certeiro quando ele sussurrava meu nome e dizia que eu era a mulher que ele mais desejou na vida. Até a pessoa com grandes problemas de auto estima acaba se derretendo com seus elogios. Por alguns instantes você realmente acredita que é incrivelmente linda e sexy. Não que você (ou eu) não seja. A questão não é essa. O fato é que ele consegue te deixar corada e sorrindo. Às vezes é até bom, muito bom. Queria que todos soubessem, sinceramente, como são lindos e valiosos. O problema é ele dizer com segundas intenções.

Entre te conquistar, seduzir, fazê-la ter olhos e atenções só pra ele, o sr. Gavião pretende colecionar alguns (ou muitos) troféus. Sim, eu, você, todas somos lindos troféus na história desse homem. Ele tem consciência da sua própria lábia e visual. Ele sabe que se quiser, pode. E tem! Esse homem tem todas que quer. A questão é até quando ele quer. A maioria por muito tempo. Obviamente, isso vai depender de quanto tempo a seduzida vai levar pra sair do transe e concordar em ser apenas mais um troféu. Sim! Somos troféus, mas ele tem apego aos troféus. É ciumento! Isso me faz rir. Por um breve momento achei interessante o seu ciúme. Me senti muito desejada. Besteira! Mas eu tive ainda mais ciúme do que ele. Acho. 

Quando me dei conta de que realmente caí no clichê do gavião, enxerguei novamente a sua lista imensa de conquistas e troféus. Bateu ciúmes, raiva, indignação, ódio de mim mesma, decepção. Mas é difícil sair das garras desse homem. Ele não vai te pedir pra ficar, mas seu sorriso bobo, sua voz sedutora e seu olhar envolvente vão te deixar completamente desconcertada. Deixá-lo vai parecer o pior dos absurdos. Já se viu perder a atenção de um homem desses, que te deseja e te acha tão maravilhosa? “Não, né?!”, eu pensava. Fui idiota, claro. No entanto, à medida que seus galanteios ficavam mais claros, a voz da consciência pesava em minha mente e abandonar o mau caminho parecia o mais certo a se fazer. Afinal, eu merecia ser valorizada, elogiada, desejada, mas merecia ainda mais ser a única. Frases repetidas, apelidos padronizados, cantadas prontas, áudios repletos de elogios, tudo me parecia superficial e idiota. Então, eu, simplesmente, me libertei. Hoje, o sr. Gavião continua colecionando seus troféus. Não julgo. É extremamente difícil não desejar um lugar de destaque na sua estante.