domingo, 26 de dezembro de 2021

 

Relato pessoal: o coração é quem manda


            Que ano! Que 2021 atropelante e delirante! Não sei como conseguimos. Sinceramente, é difícil olhar pra trás e ver tudo o que aconteceu, no mundo e também na minha vida particular. Já adianto, hoje escrevo inteiramente e apenas com o olhar de Francielle. Normalmente, em um texto, ou quase todos, um detalhe, uma sensação, um sentimento, ou até mesmo uma breve experiência, passam por mim. É difícil não me colocar aqui. No entanto, hoje é tudo sobre como eu me sinto. Todas as palavras são apenas minhas e não de um personagem. Pois bem, lá vamos nós. É tão difícil começar, mal sei por onde começar. Geralmente, não me faltam palavras e nem sentimentos. Mas hoje elas me atropelam. Há tanto o que dizer, há tanto o que sentir. E assim foi o meu ano: dias e mais dias de excesso de palavras e sentimentos. Isso não quer dizer que todas as palavras foram ditas e que todos os sentimentos foram compartilhados. Muito pelo contrário, houve momentos em que eu me guardei. Mas me guardei bem menos do que de costume e isso se deve ao fato do ano já ter começado agitado. Final de janeiro, COVID-19, sensações das mais diversas, uma angustia dilacerante. Nunca pensei tanto em morrer e no meu medo de que tudo acabasse ali. Graças a Deus, não acabou. Senti as sequelas, um cansaço fora do normal, perda de memória e ansiedade ampliada. Na verdade, esta última me acompanha até hoje. Não tem sido fácil. Não tem sido fácil pra ninguém. A parte boa é que eu tive acesso e oportunidade de monitorar essas sequelas, o que me ajudou. Mas as sensações, a angustia, ainda me acompanham. Como disse, tem sido uma tarefa complicada viver um ano tão intenso. O desejo número um hoje é que daqui pra frente seja mais tranquilo para todos.

            Pós covid, toda aquela ideia de que a minha vida poderia acabar a qualquer momento, me fez analisar o que eu tenho feito dos meus dias, como eu tenho vivido as experiências e as relações com os demais seres humanos. Nunca senti tanta vontade de me sentir viva, de fazer o dia valer a pena. Fiquei ansiosa para que algo acontecesse logo. O “algo” eu nunca soube dizer o que é. Acho que deve ser mais de uma coisa, porque eu queria, e ainda quero, ver todos os campos da minha vida se desenvolverem. No entanto, aos poucos percebi que não é bem assim. Não dá pra atropelar os processos e forçar algo a acontecer. Me forcei a viver experiências que nem sempre me agradaram, tudo isso pra me sentir “viva”. Conheci pessoas, me surpreendi com pessoas e comigo mesma. E como me surpreendi comigo. Em outros momentos, não foi tão surpreendente assim, afinal, convivo comigo há vinte e oito anos e não tem como eu mudar por completo em alguns meses. Isso não vai acontecer, por mais que eu tenha necessidade de mudança. Gosto de mim, gosto de quem me tornei, de como eu sinto. Mesmo que às vezes eu acabe parecendo inocente demais, eu não quero ser outra. Quero ser eu mesma, com palavras e sentimentos em excesso. Quero ser essa imensidão de coração e sensações. Pode parecer besteira, nem todos vão entender, mas acreditar no melhor do outro nem sempre é ruim. Muitas vezes nos dá a oportunidade de tentar e lutar por alguém que estava apenas numa fase ruim. No entanto, isso não quer dizer que vou fechar os olhos para as maldades e nem vou me tornar centro de reabilitação. Para tudo nesta vida há um limite. E eu acho que sei o meu. Estou tentando ficar num limite saudável, onde eu não me desgaste e nem me magoe demais. É uma luta diária, um aprendizado constante. Não é simples.

            Para alguém que acredita no amor e nas histórias inspiradoras e incríveis, me meti em situações que passavam longe daquilo que acredito. Mas a vida é assim, nem sempre vamos enxergar a situação como ela é no momento em que está acontecendo. Por mais que os amigos tentem nos alertar, a emoção toma conta e não enxergamos o que pode ser óbvio. Mas não me arrependo. É algo que eu decidi transformar em uma meta: não me arrepender. Eu posso reclamar, me lamentar, mas não vou me arrepender. Porque não adianta. O arrependimento ainda não tem o poder de mudar o passado. Os erros, as más experiências, servem de aprendizado, é o que dizem. Aprender é difícil e não é nada romântico. Os erros doem, magoam e até nos traumatizam. Mais uma vez eu luto para aprender e tirar o melhor de algumas situações. Tenho conseguido? Não sei. Sinceramente, ando vivendo meses intensos, que nem sempre é fácil parar e olhar se eu tenho aproveitado a experiência para evitar repetir os erros. E também dá medo da resposta.

Uma coisa que eu posso dizer é que agora sei exatamente o que não quero em minha vida. Foi um ano que me sugou de diversas formas, seja por situações externas, internas, pessoas ou acontecimentos. Mas eu consegui parar por um instante e perceber o que eu não quero lidar, quem eu não quero para a minha vida. Primeiro, para uma romântica, eu não quero pessoas que sintam pouco ou que tenham medo de sentir e se expor. Porque viver é uma eterna exposição. Viver é encarar as diversas possibilidades e lidar com as consequências de suas escolhas. Viver é uma sequência de acertos e erros, mas, acima de tudo, tentativas. Claro que ninguém quer se jogar no incerto e sofrer. Se tratando do coração, dói demais quando eu erro e quando o outro erra. Mas não dá pra se limitar por medo. Afinal, você pode perder pessoas e experiências incríveis por medo. Por isso, eu tenho me arriscado, mesmo com medo de ser inocente e fazer papel de boba. Eu também não quero ser apenas uma figura de mais um joguinho. Não quero ser apenas mais uma na vida do outro, e não digo apenas nas relações amorosas. A ideia de ser alguém que o outro trata como uma pessoa qualquer, que faz parte do seu jogo de desinteresse, me deixa totalmente aflita. Saber que alguém está disponível, mas que prefere alimentar a ausência para me deixar interessada ou fazer eu sentir falta, é uma das piores coisas que pode me acontecer. Quero ficar longe de pessoas assim, que o ego é sempre prioridade e se expor é um sacrifício do qual eu não valho a pena. Eu quero valer a pena, quero ser prioridade, quero me sentir especial. Quem não quer? Então, se eu sentir que não existe o mínimo, eu perderei o interesse e, consequentemente, irei me afastar.

No final, aqui não cabem tantas palavras e tantos sentimentos. 2021 passou depressa, mas foi enorme em situações e sensações. Parece que fui atropelada por tantas situações. Nunca me imaginei vivendo o que vivi com tamanha intensidade. Nunca me imaginei gostando de coisas que não gostava. Já se viu ficar uma hora e meio numa ligação? Eu odiava só de pensar. Então me vi nessas ligações e me vi não odiando. Na verdade, eu me peguei desejando tais ligações. Num mundo tão egoísta, onde as necessidades do outro nem sempre são levadas em consideração, saber que tem alguém que tira um tempo pra falar só com você, transforma seu dia. Parece besteira, mas faz eu me sentir especial. Ah, eu descobri que também não gosto de ser ignorada. É engraçado pensar nisso, porque eu não era assim. Eu sempre fui o suficiente pra mim e ainda sou. Mas a partir do momento em que alguém entra em minha vida e eu escolho compartilhar a minha rotina com a pessoa, eu espero o mesmo dela.

E assim foi esse ano louco, que quase nos engoliu, das mais diversas formas. Tantos acontecimentos ruins, decepcionantes, que deram raiva, que nos fez questionar quem é o ser humano, como podem existir pessoas tão ruins. Um ano com excesso de injustiças, com excesso de absurdos. Um ano que me fez pensar, chorar, reclamar, questionar, chorar de novo e, apesar de tudo e tanto, sorrir e agradecer. Estou viva. Graças a Deus estou viva. Continuo com decepções, tristezas, ansiedades, receios, medos, esperas e excesso de reclamações. E vou continuar reclamando, chorando, agradecendo e, se Deus quiser, sorrindo também. E o que eu espero, com todo o meu mole e sensível coração, é que 2022 seja mais leve e justo para todos. Que o próximo ano seja mais fácil e com mais momentos de sorrisos e encontros.

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