sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 

Abrigo


            Chegar em casa, jogar todas as coisas no chão, tomar um banho, respirar o aconchego do lar e tentar esquecer o dia longo e exaustivo que invadiu a minha vida. Quase tudo bem. É impossível deixar de lado o furacão de emoções e acontecimentos como fiz com a minha mochila e a roupa que usei. Infelizmente, não consigo, não posso. Não descanso. A imensidão me invade, a mente e o coração não descansam. Isso é ser humana? Isso é ter sentimentos e sensibilidade? Isso é viver? Pois bem, queria que a resposta para a última questão fosse um forte “não”. Às vezes é extremamente solitário sentir tanto. Dá um pequeno e exaustivo aperto no meu coração, o que me faz pensar se seria melhor simplesmente não sentir. Dói. Realmente dói sentir. Me sinto só, longe de qualquer abrigo, longe de qualquer humano que sinta o mesmo. É triste. Dilacera o meu coração de um jeito que eu jamais desejaria para alguém. Mesmo assim, há o outro lado. Eu também sinto as pequenas alegrias, os respiros. Não que ultimamente haja tanto. No entanto, quando há, eu me agarro e respiro. E revivo, e revivo, e sinto, como sinto. Não quero pensar que seja aceitar migalhas da vida e das pessoas. Não pode ser, não deve ser. Não mereço. Ou mereço? Claro que não. Não pode ser. Não deveria ser assim. As alegrias, o amor e o respiro deveriam ser mais frequentes. O abrigo deveria ser constante e de revirar todo o meu coração de gratidão e emoção. Quero suspirar mais vezes, quero sentir as borboletas e saber que posso contar com o meu abrigo. Mas não é o tipo de coisa que se cobra. Simplesmente, acontece. Só poderia acontecer comigo sempre também. Não quero ser ingrata. Só queria que fosse mais simples, mais leve. Há momentos, há instantes que me enchem de um bom sentimento, que mal sei nomear. Há respiro. No entanto, há tanto que me puxa, que me suga, que faz eu duvidar, que me faz chorar e imaginar que a vida nem sempre é legal com todos. Só poderia ser mais fácil amar, ser amada e chegar em casa e ter o meu abrigo. Nem sempre é. Hoje não é.

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