sexta-feira, 26 de novembro de 2021

 

A garota do elevador


          Sabe aqueles momentos super estranhos em que parece que sua vida inteira passou em sua mente num instante? A ansiosa Ângela sabe bem o que é isso. Ela nunca imaginou que um instante pudesse se arrastar pelo que parecia uma eternidade. Mais de um instante, na verdade. Tudo parecia “normal” naquela terça-feira quente e chuvosa de primavera. Com seus vinte e seis anos de vida e quatro morando em um prédio, a jovem agitada ainda não tinha superado o seu medo de andar de elevador e sempre que podia optava pelas escadas. “Ótima forma de se exercitar, já que não suporto academia”, se justificava toda vez quando estava na porta do elevador e seu coração palpitava e mais uma vez fugia para as escadas, encarando longos sete andares. Com o tempo ela se acostumou e nem se sentia tão cansada. O porteiro e zelador, que trabalha naquele prédio há mais de 25 anos sempre a incentivava, nunca julgando seu intenso medo. “Muito bem, Anjinha, mais um mês e você estará com as canelas mais torneadas que o Rafa do 307”, brincou com ela naquela manhã. “Deus me livre ter aquelas canelas, seu Tony. Será que na volta vou ter que encarar a cabine do terror?”, disse bem humorada e saiu para fazer suas compras.

            Uma hora e quarenta minutos depois, Ângela estava de volta. A jovem encarou a recepção surpresa. O sempre correto zelador não estava lá. A primeira coisa que ela pensou foi “vou ter que encarar o elevador sozinha”, já que o Antônio frequentemente a acompanhava quando não tinha jeito de subir as escadas. Ela olhou para as inúmeras e super pesadas sacolas em seus braços e xingou um palavrão mentalmente. Respirou fundo, olhou para a porta da “cabine do terror”, apertou o botão com dificuldade e aguardou. Olhava para as mãos, depois para a porta e por fim para a escada, que naquele dia parecia ainda mais longa. “Eu vou conseguir. São poucos segundos. Eu vou conseguir”, disse baixinho. Quando a porta do elevador abriu ela imaginou o número 50. “Mas esse prédio precisava ser tão velho?”, pensou e fez uma careta. Atravessou a porta bem lentamente, olhando para ver se outra pessoa aparecia ou até mesmo o Antônio. Ninguém. Ela precisava encarar aquela situação. Num impulso apertou o número 7 no painel. A porta se fechou, suas mãos suaram ainda mais e um barulho bem estranho fez seu coração disparar. “Não é possível! Merda, merda, merda... Não acredito que isso está acontecendo comigo. Merda!”, disse.

Jogou as sacolas no chão e apertou vários botões e nada aconteceu. O mundo simplesmente parou naquele instante. Ângela viu sua vida inteira dançando em sua mente. Sua infância solitária, o primeiro amor, o último amor, seus avós, sua enorme e barulhenta família, os anos na faculdade, os amigos loucos e amorosos, o trabalho, tudo isso e mais um pouco surgiu em sua mente. Ela começou a imaginar que ficaria ali para sempre. “Coitada da suculenta que eu ganhei, vai morrer se eu ficar aqui pra sempre”, ficou pensando... “Mas ela já está morrendo!”, uma voz sarcástica gritou em sua mente agitada. Ângela, ou Anjinha para os que tinham paciência de conhecê-la, riu exageradamente. Não sei se era o nervosismo ou ela estava rindo mesmo da situação. Quando ganhou aquela planta disseram que era muito simples de cuidar e que, dificilmente, iria morrer. “A planta perfeita pra mim”, imaginou. Um mês depois a coitada da suculenta estava morrendo. “Se eu sair daqui, prometo que vou salvá-la”, disse em voz alta. Naquele mesmo instante o elevador começou a subir. A jovem deu um respiro profundo e aliviado. No entanto, dois andares acima seu coração voltou a disparar. Quando a porta se abriu, ela riu sozinha.

“É apenas uma pessoa entrando. Só isso... E que pessoa!”, admirou o homem alto e forte a sua frente. “Boa tarde, senhorita!”, disse com a voz rouca, o que causou um rebuliço no meio das pernas já trêmulas da pobre Ângela. “Boa tarde!”, respondeu timidamente. Como nunca tinha visto aquele homem ali antes? “Precisa de ajuda?’, o homem perguntou. “Ajuda? O que?”, falou confusa. Ele então apontou para as sacolas no chão e ela se deu conta. “Ah, obrigada!”, agradeceu. Num impulso, os dois fizeram um movimento para apanhar as sacolas e os seus braços roçaram de leve. Aquele breve contato despertou uma excitação em ambos. Eles se olharam e sorriram. O flerte foi interrompido por um barulho chato já conhecido por Ângela. “Merda!”, ela gritou num impulso. “Também tenho medo disso”, o homem confessou. A confissão abrandou o nervosismo da jovem, que abriu um sorriso bastante acolhedor. “Prédio velho, cabine do terror”, ela brincou. “Vamos respirar fundo... Isso. Apertamos o botão de emergência. Pronto. Continuamos respirando. Isso, muito bem. A situação vai melhorar”, ele, mesmo com medo, tentava acalmar a jovem atraente ao seu lado.

Dois minutos depois nada aconteceu. Eles se entreolharam. Quando viu que ela ficava mais ansiosa, apenas disse: “Temos que fazer alguma coisa para passar o tempo e nos distrairmos”. Ângela desacreditou no que havia pensado. Um sorriso malicioso a entregou, o que fez o homem se empolgar intensamente. Com as bochechas já muito vermelhas de ansiedade, medo, excitação e tesão, a jovem deu o sinal de que ele precisava. Eles foram tomados pelo calor do momento e se entregaram a um intenso beijo. Num instante, Ângela estava encostada na parede com as pernas envolta do corpo sarado daquele homem misterioso. Suas mãos pequenas e ágeis rapidamente desabotoaram a camisa alinhada dele. E com a maestria de quem sabe o que está fazendo, ele agarrou uma das coxas da jovem e com a outra mão levantou o seu vestido e puxou a sua calcinha de renda. “A, a...”, tentava dizer ofegante. “Eu sei”, ele respondeu, entendendo perfeitamente o que ela queria insinuar. Ela mal piscou e o homem já tinha aberto uma camisinha. Em poucos instantes, durante aquele instante excitante, ele estava com todo o seu vigor a preenchendo. Um prazer ainda maior, misturado com a emoção do momento inusitado, tomaram conta dos estranhos naquela “cabine do terror”. Ou ouso dizer, “cabine do prazer”. Então, após o êxtase e ápice mutuo, os dois ofegantes se entreolharam e sorriram ternamente.

Ângela mal conseguia entender o que tinha acabado de acontecer. Ela sabia, como ela sabia, mas era impossível acreditar no que ela teve coragem de fazer. Mas pela sua expressão, não havia arrependimento. Lentamente, ele a soltou e o barulho do elevador subindo fez a jovem se ajeitar abruptamente. A porta se abriu e mil sensações tomaram conta dos dois. Uma figura conhecida apareceu na porta e três pares de olhos se entreolharam. “Já ia na recepção te procurar. Tem um tempão que disse que estava subindo”, Jorge disse para o homem. “Desculpa, Ângela. Boa tarde! Como você está? Finalmente conheceu meu irmão? Esse é o misterioso Leandro”, continuou falando. “Merda!”, o xingamento escapuliu da boca da jovem e o homem, ex-misterioso, entendeu naquele momento o tamanho da bagunça. “Por que o irmão do meu ex precisava ter mudado tanto? Por que eu nunca o conheci? Merda!”, pensou.  

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