A garota do elevador
Sabe aqueles momentos
super estranhos em que parece que sua vida inteira passou em sua mente num
instante? A ansiosa Ângela sabe bem o que é isso. Ela nunca imaginou que um
instante pudesse se arrastar pelo que parecia uma eternidade. Mais de um
instante, na verdade. Tudo parecia “normal” naquela terça-feira quente e
chuvosa de primavera. Com seus vinte e seis anos de vida e quatro morando em um
prédio, a jovem agitada ainda não tinha superado o seu medo de andar de
elevador e sempre que podia optava pelas escadas. “Ótima forma de se exercitar,
já que não suporto academia”, se justificava toda vez quando estava na porta do
elevador e seu coração palpitava e mais uma vez fugia para as escadas, encarando
longos sete andares. Com o tempo ela se acostumou e nem se sentia tão cansada.
O porteiro e zelador, que trabalha naquele prédio há mais de 25 anos sempre a
incentivava, nunca julgando seu intenso medo. “Muito bem, Anjinha, mais um mês
e você estará com as canelas mais torneadas que o Rafa do 307”, brincou com ela
naquela manhã. “Deus me livre ter aquelas canelas, seu Tony. Será que na volta
vou ter que encarar a cabine do terror?”, disse bem humorada e saiu para fazer
suas compras.
Uma hora e quarenta minutos depois, Ângela
estava de volta. A jovem encarou a recepção surpresa. O sempre correto zelador
não estava lá. A primeira coisa que ela pensou foi “vou ter que encarar o
elevador sozinha”, já que o Antônio frequentemente a acompanhava quando não
tinha jeito de subir as escadas. Ela olhou para as inúmeras e super pesadas
sacolas em seus braços e xingou um palavrão mentalmente. Respirou fundo, olhou
para a porta da “cabine do terror”, apertou o botão com dificuldade e aguardou.
Olhava para as mãos, depois para a porta e por fim para a escada, que naquele
dia parecia ainda mais longa. “Eu vou conseguir. São poucos segundos. Eu vou
conseguir”, disse baixinho. Quando a porta do elevador abriu ela imaginou o
número 50. “Mas esse prédio precisava ser tão velho?”, pensou e fez uma careta.
Atravessou a porta bem lentamente, olhando para ver se outra pessoa aparecia ou
até mesmo o Antônio. Ninguém. Ela precisava encarar aquela situação. Num
impulso apertou o número 7 no painel. A porta se fechou, suas mãos suaram ainda
mais e um barulho bem estranho fez seu coração disparar. “Não é possível!
Merda, merda, merda... Não acredito que isso está acontecendo comigo. Merda!”,
disse.
Jogou
as sacolas no chão e apertou vários botões e nada aconteceu. O mundo
simplesmente parou naquele instante. Ângela viu sua vida inteira dançando em
sua mente. Sua infância solitária, o primeiro amor, o último amor, seus avós,
sua enorme e barulhenta família, os anos na faculdade, os amigos loucos e
amorosos, o trabalho, tudo isso e mais um pouco surgiu em sua mente. Ela
começou a imaginar que ficaria ali para sempre. “Coitada da suculenta que eu
ganhei, vai morrer se eu ficar aqui pra sempre”, ficou pensando... “Mas ela já
está morrendo!”, uma voz sarcástica gritou em sua mente agitada. Ângela, ou Anjinha
para os que tinham paciência de conhecê-la, riu exageradamente. Não sei se era
o nervosismo ou ela estava rindo mesmo da situação. Quando ganhou aquela planta
disseram que era muito simples de cuidar e que, dificilmente, iria morrer. “A
planta perfeita pra mim”, imaginou. Um mês depois a coitada da suculenta estava
morrendo. “Se eu sair daqui, prometo que vou salvá-la”, disse em voz alta.
Naquele mesmo instante o elevador começou a subir. A jovem deu um respiro
profundo e aliviado. No entanto, dois andares acima seu coração voltou a
disparar. Quando a porta se abriu, ela riu sozinha.
“É
apenas uma pessoa entrando. Só isso... E que pessoa!”, admirou o homem alto e
forte a sua frente. “Boa tarde, senhorita!”, disse com a voz rouca, o que
causou um rebuliço no meio das pernas já trêmulas da pobre Ângela. “Boa tarde!”,
respondeu timidamente. Como nunca tinha visto aquele homem ali antes? “Precisa
de ajuda?’, o homem perguntou. “Ajuda? O que?”, falou confusa. Ele então
apontou para as sacolas no chão e ela se deu conta. “Ah, obrigada!”, agradeceu.
Num impulso, os dois fizeram um movimento para apanhar as sacolas e os seus
braços roçaram de leve. Aquele breve contato despertou uma excitação em ambos.
Eles se olharam e sorriram. O flerte foi interrompido por um barulho chato já
conhecido por Ângela. “Merda!”, ela gritou num impulso. “Também tenho medo
disso”, o homem confessou. A confissão abrandou o nervosismo da jovem, que abriu
um sorriso bastante acolhedor. “Prédio velho, cabine do terror”, ela brincou. “Vamos
respirar fundo... Isso. Apertamos o botão de emergência. Pronto. Continuamos
respirando. Isso, muito bem. A situação vai melhorar”, ele, mesmo com medo,
tentava acalmar a jovem atraente ao seu lado.
Dois
minutos depois nada aconteceu. Eles se entreolharam. Quando viu que ela ficava
mais ansiosa, apenas disse: “Temos que fazer alguma coisa para passar o tempo e
nos distrairmos”. Ângela desacreditou no que havia pensado. Um sorriso malicioso
a entregou, o que fez o homem se empolgar intensamente. Com as bochechas já
muito vermelhas de ansiedade, medo, excitação e tesão, a jovem deu o sinal de
que ele precisava. Eles foram tomados pelo calor do momento e se entregaram a
um intenso beijo. Num instante, Ângela estava encostada na parede com as pernas
envolta do corpo sarado daquele homem misterioso. Suas mãos pequenas e ágeis
rapidamente desabotoaram a camisa alinhada dele. E com a maestria de quem sabe
o que está fazendo, ele agarrou uma das coxas da jovem e com a outra mão
levantou o seu vestido e puxou a sua calcinha de renda. “A, a...”, tentava dizer
ofegante. “Eu sei”, ele respondeu, entendendo perfeitamente o que ela queria insinuar.
Ela mal piscou e o homem já tinha aberto uma camisinha. Em poucos instantes,
durante aquele instante excitante, ele estava com todo o seu vigor a preenchendo.
Um prazer ainda maior, misturado com a emoção do momento inusitado, tomaram
conta dos estranhos naquela “cabine do terror”. Ou ouso dizer, “cabine do
prazer”. Então, após o êxtase e ápice mutuo, os dois ofegantes se entreolharam
e sorriram ternamente.
Ângela
mal conseguia entender o que tinha acabado de acontecer. Ela sabia, como ela
sabia, mas era impossível acreditar no que ela teve coragem de fazer. Mas pela
sua expressão, não havia arrependimento. Lentamente, ele a soltou e o barulho
do elevador subindo fez a jovem se ajeitar abruptamente. A porta se abriu e mil
sensações tomaram conta dos dois. Uma figura conhecida apareceu na porta e três
pares de olhos se entreolharam. “Já ia na recepção te procurar. Tem um tempão
que disse que estava subindo”, Jorge disse para o homem. “Desculpa, Ângela. Boa
tarde! Como você está? Finalmente conheceu meu irmão? Esse é o misterioso Leandro”,
continuou falando. “Merda!”, o xingamento escapuliu da boca da jovem e o homem,
ex-misterioso, entendeu naquele momento o tamanho da bagunça. “Por que o irmão
do meu ex precisava ter mudado tanto? Por que eu nunca o conheci? Merda!”,
pensou.
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