quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

 

Presentão


            Véspera de Natal, dia agitado e mil coisas pra fazer. Como sempre, assumi o controle da cozinha. É sobremesa, são as carnes, os acompanhamentos... E eu pra lá e pra cá. Minhas pernas já estão doendo, mas a empolgação me deixa esquecer a dor em pouco tempo. Mais tarde a conta chega. Felizmente, ou infelizmente – não sei dizer, eu fico super distraída, com a cabeça totalmente focada na ceia, que não há tempo pra pensar na resposta que não tive. Felizmente, claro. Obvio que isso é bom. Preciso me distrair mais vezes e com mais intensidade. A criatura por quem meus olhos brilham deixou a minha última mensagem sem resposta. Já são quase quatorze horas. E eu sei que ele não está trabalhando. Enfim, não vou me importar. Ou vou tentar não me importar. Ele sabe como odeio ser ignorada, ele me conhece bem... Não sou louca, ele tem a vida dele. Mas é muito tempo, ainda mais devido ao conteúdo da mensagem. Será que fiz uma besteira? Sou intensa? Sim, sou intensa, eu sinto com todo o meu corpo e acho idiotice esconder os sentimentos para o outro pensar que sou difícil e dessa forma ficar mais interessado. Pura idiotice! Homens que fazem isso não são homens, são moleques. E eu quero ficar longe de moleques. No entanto, não acho que seja o caso dele. A criatura que faz meus olhos brilharem é sincero e não gosta de joguinhos, por isso nos damos tão bem. Mas então, essa demora... Fico preocupada. Sei que ele está bem, mas a mensagem pode causar algum sentimento desconfortável ou dúvidas. Não sei. Talvez eu esteja exagerando. Sim, é isso. Vou voltar a focar nos preparativos da ceia. Ainda há muito o que fazer.

            E novamente eu ando de um lado para o outro, pico pimentão, tomate, cebola, abacaxi, tempero a carne... Essa minha família poderia ajudar mais. Cadê todos? Arrasto meu irmão para a cozinha e o faço me ajudar, picando as cenouras e outros legumes. Recebo uma notificação no celular e meu coração acelera. É ele. Finalmente! Inevitavelmente, um sorriso se forma em meu rosto e eu percebo que estou mais envolvida do que imaginava. Sinto a falta dele mais do que já senti de qualquer outro envolvimento amoroso. O meu desejo de Natal é que tudo fique mais claro entre nós. Ele tenta sem sempre sincero, mas o seu receio de repetir os erros do passado não deixam ele se abrir ainda mais. Eu não tenho pressa, só preciso saber que ele está disposto. Afinal, já tive brincadeiras amorosas o suficiente. “Bom dia, minha linda! Desculpa a demora. Tive uma urgência de trabalho bem cedo. Felizmente, tudo já está resolvido e eu posso aproveitar a minha família. Espero que você esteja aproveitando a sua. E quanto a sua mensagem, queria ter respondido antes. Confesso que li há um tempo, mas ainda estava processando o que você disse. Não é uma resposta difícil. No entanto, eu precisava ter certeza das palavras que usaria. Não vou responder agora. Apenas confie em mim, confie em nós”, a mensagem dizia. Meu coração acelerou ainda mais e a ansiedade já tomou conta. Agora vai ser impossível me distrair. Só consigo pensar nisso. Confio nele.

            Então, com a mente e o coração um pouco mais calmos, a campainha toca. Meu irmão corre e em poucos segundos grita, avisando que é entrega pra mim. Eu fico pensativa, não lembro de ter comprado nada. Ou será que eu comprei e esqueci?! Não... Chego na sala e quase caio pra trás. É ele! Não estou acreditando. Meus olhos nem piscam. Ele me olha com ternura e está com aquele maravilhoso e inspirador sorriso. Mal posso acreditar que o homem por quem estou apaixonada está na sala da casa dos meus pais. Não consigo me mover. Estou incrédula. “Não vai nos apresentar, irmãzinha?”, meu irmão mais velho me tira do transe. Eu respiro fundo e, finalmente, entendo tudo o que está acontecendo. Ele continua sorrindo lindamente, tanto que eu me derreto inteiramente e abro um sorriso enorme. Nos abraçamos e ele me entrega um lindo buquê de rosas cor de rosa. “São lindas. Muito obrigada!”, digo. “Só não são mais lindas e cheirosas do que você”, ele diz. Meu irmão tosse e eu volto meu olhar pra ele, que está rindo mais do que de costume. “Lúcio, esse é o Marcos, meu...”, começo a falar, mas não sei o que dizer. “Namorado. É um prazer te conhecer”, ele completa e eu sorrio. Nós nos olhamos e eu entendo tudo que está acontecendo. Por isso ele pediu pra eu confiar nele. Amei a surpresa. Ele respondeu a minha mensagem vindo. Pensei que ficaria assustado quando o convidei para conhecer a minha família. E a demora para responder a minha mensagem não ajudou na minha ansiedade. Por um breve momento pensei que ele não iria querer que ficássemos tão sério. “Agora não tem como fugir”, falo baixinho e ele responde: “Eu nunca fugiria de você. Eu te amo”. Arregalo os olhos e meu coração se enche de uma emoção indescritível. Ele me ama! “Sim, Ana, eu te amo. Você vai fugir?”, repete e eu sorrio. “Nunca! Eu também te amo”, digo e sinto que este será um dos melhores Natais da minha vida.

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