Presentão
Véspera de Natal, dia agitado e mil
coisas pra fazer. Como sempre, assumi o controle da cozinha. É sobremesa, são
as carnes, os acompanhamentos... E eu pra lá e pra cá. Minhas pernas já estão
doendo, mas a empolgação me deixa esquecer a dor em pouco tempo. Mais tarde a
conta chega. Felizmente, ou infelizmente – não sei dizer, eu fico super
distraída, com a cabeça totalmente focada na ceia, que não há tempo pra pensar
na resposta que não tive. Felizmente, claro. Obvio que isso é bom. Preciso me
distrair mais vezes e com mais intensidade. A criatura por quem meus olhos
brilham deixou a minha última mensagem sem resposta. Já são quase quatorze horas.
E eu sei que ele não está trabalhando. Enfim, não vou me importar. Ou vou
tentar não me importar. Ele sabe como odeio ser ignorada, ele me conhece bem...
Não sou louca, ele tem a vida dele. Mas é muito tempo, ainda mais devido ao conteúdo
da mensagem. Será que fiz uma besteira? Sou intensa? Sim, sou intensa, eu sinto
com todo o meu corpo e acho idiotice esconder os sentimentos para o outro
pensar que sou difícil e dessa forma ficar mais interessado. Pura idiotice! Homens
que fazem isso não são homens, são moleques. E eu quero ficar longe de
moleques. No entanto, não acho que seja o caso dele. A criatura que faz meus
olhos brilharem é sincero e não gosta de joguinhos, por isso nos damos tão bem.
Mas então, essa demora... Fico preocupada. Sei que ele está bem, mas a mensagem
pode causar algum sentimento desconfortável ou dúvidas. Não sei. Talvez eu
esteja exagerando. Sim, é isso. Vou voltar a focar nos preparativos da ceia.
Ainda há muito o que fazer.
E novamente eu ando de um lado para
o outro, pico pimentão, tomate, cebola, abacaxi, tempero a carne... Essa minha
família poderia ajudar mais. Cadê todos? Arrasto meu irmão para a cozinha e o
faço me ajudar, picando as cenouras e outros legumes. Recebo uma notificação no
celular e meu coração acelera. É ele. Finalmente! Inevitavelmente, um sorriso
se forma em meu rosto e eu percebo que estou mais envolvida do que imaginava.
Sinto a falta dele mais do que já senti de qualquer outro envolvimento amoroso.
O meu desejo de Natal é que tudo fique mais claro entre nós. Ele tenta sem
sempre sincero, mas o seu receio de repetir os erros do passado não deixam ele
se abrir ainda mais. Eu não tenho pressa, só preciso saber que ele está
disposto. Afinal, já tive brincadeiras amorosas o suficiente. “Bom dia, minha
linda! Desculpa a demora. Tive uma urgência de trabalho bem cedo. Felizmente,
tudo já está resolvido e eu posso aproveitar a minha família. Espero que você
esteja aproveitando a sua. E quanto a sua mensagem, queria ter respondido
antes. Confesso que li há um tempo, mas ainda estava processando o que você
disse. Não é uma resposta difícil. No entanto, eu precisava ter certeza das
palavras que usaria. Não vou responder agora. Apenas confie em mim, confie em
nós”, a mensagem dizia. Meu coração acelerou ainda mais e a ansiedade já tomou
conta. Agora vai ser impossível me distrair. Só consigo pensar nisso. Confio
nele.
Então, com a mente e o coração um
pouco mais calmos, a campainha toca. Meu irmão corre e em poucos segundos
grita, avisando que é entrega pra mim. Eu fico pensativa, não lembro de ter
comprado nada. Ou será que eu comprei e esqueci?! Não... Chego na sala e quase
caio pra trás. É ele! Não estou acreditando. Meus olhos nem piscam. Ele me olha
com ternura e está com aquele maravilhoso e inspirador sorriso. Mal posso
acreditar que o homem por quem estou apaixonada está na sala da casa dos meus
pais. Não consigo me mover. Estou incrédula. “Não vai nos apresentar,
irmãzinha?”, meu irmão mais velho me tira do transe. Eu respiro fundo e,
finalmente, entendo tudo o que está acontecendo. Ele continua sorrindo
lindamente, tanto que eu me derreto inteiramente e abro um sorriso enorme. Nos
abraçamos e ele me entrega um lindo buquê de rosas cor de rosa. “São lindas.
Muito obrigada!”, digo. “Só não são mais lindas e cheirosas do que você”, ele
diz. Meu irmão tosse e eu volto meu olhar pra ele, que está rindo mais do que
de costume. “Lúcio, esse é o Marcos, meu...”, começo a falar, mas não sei o que
dizer. “Namorado. É um prazer te conhecer”, ele completa e eu sorrio. Nós nos
olhamos e eu entendo tudo que está acontecendo. Por isso ele pediu pra eu
confiar nele. Amei a surpresa. Ele respondeu a minha mensagem vindo. Pensei que
ficaria assustado quando o convidei para conhecer a minha família. E a demora
para responder a minha mensagem não ajudou na minha ansiedade. Por um breve
momento pensei que ele não iria querer que ficássemos tão sério. “Agora não tem
como fugir”, falo baixinho e ele responde: “Eu nunca fugiria de você. Eu te amo”.
Arregalo os olhos e meu coração se enche de uma emoção indescritível. Ele me
ama! “Sim, Ana, eu te amo. Você vai fugir?”, repete e eu sorrio. “Nunca! Eu
também te amo”, digo e sinto que este será um dos melhores Natais da minha
vida.
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