domingo, 12 de dezembro de 2021

 

A Surpresa


            Ele sempre teve o dom de me fazer suspirar. Animado, sempre vendo o melhor do mundo e das pessoas, não há quem fique para baixo ao seu lado. Infelizmente, nossas rotinas corridas nos impedem de estarmos sempre juntos. Por isso, o celular é o nosso melhor amigo e cupido. Nos conhecemos numa festa, num lugar onde conexões são quase raras, mas a nossa era impossível de passar despercebida. Nossos amigos logo falaram que aquilo seria bem mais que uma única noite. E de fato, foi. Ficar longe dele sempre foi doloroso, mas fizemos o nosso melhor. Quando ficamos ainda mais intensos, os áudios e as mensagens escritas já não eram suficientes. Eles não davam conta de toda emoção que nos preenchia. Então, seja na hora do almoço, hora do café ou ao entardecer, ele dava seu jeitinho e me ligava. Às vezes uma ligação de áudio, outros momentos de vídeo. Não havia um dia sequer que ficávamos sem nos falar e compartilhar as coisas mínimas e máximas do nosso dia a dia. Mesmo que tivesse sido mais um dia repetitivo, sem novidades, ele aparecia para falar as besteiras que sempre arrancavam o meu sorriso mais genuíno. E comigo não era diferente. Eu falava das minhas lutas na cozinha, do bolo queimado, do pão duro, do casal apaixonado que vi no caminho do trabalho, da nova música do meu cantor preferido, da fofoca dos vizinhos briguentos, qualquer coisa. E ele amava e sempre me incentivava a falar mais e mais. “Já deu, Luca, eu falo demais”, disse um dia. “Eu amo quando você fala. Posso sentir a sua empolgação daqui”, ele respondeu prontamente, então eu recomecei a tagarelar. E sempre foi assim, o Luca, vulgo minha paixão, me incentivando e admirando tudo o que fazia. Sem falar no orgulho. Para ele eu era sempre a mulher mais linda, sexy, fofa, inteligente e encantadora que já tinha visto. Nos meus bons dias, acreditava e ficava com as bochechas vermelhas e inchadas de tanto sorrir. Mas, com certeza, tudo sempre foi muito reciproco entre nós. Eu o admiro demais, de todas as formas possíveis.

No entanto, nem as milhares de ligações eram suficientes para a emoção que existe entre nós. A saudade começava a me sufocar e, certo dia, com os hormônios tomados pela TPM, eu ousei chorar e falar como aquilo me incomodava. Ele, obviamente, também tão resistiu e se emocionou. Era um sentimento ainda mais intenso tomando conta do meu coração. “Tudo vai melhorar, Liz”, ele dizia entre lágrimas. Alguns dias se passaram e eu estava naquela rotina estressante no trabalho. Apresentação de nova campanha, com novos clientes, e um chefe ainda mais rabugento do que o costume. Parecia que o mundo iria explodir em minhas mãos. Uma das únicas pessoas capazes de me acalmar um pouco era ele. Sua energia alegre era contagiante e ele sabia exatamente o que falar para me fazer sorrir em meio ao caos. Era um sorriso breve, mas era aliviante. Simplesmente, salvava o meu dia. Ao final da apresentação mais importante da semana, fui surpreendida com um lindo buquê de lírios brancos. “Luca”, pensei e suspirei. Apenas ele era capaz de enviar as minhas flores preferidas no meio de um dia tão estressante. Continuei sorrindo e aquela tarde ficou mais leve e colorida. Depois de passar alguns minutos suspirando e admirando aquele lindo presente, eu me dei conta de que havia um cartão. “Espero que você esteja com os olhos daquele jeito que me fazem abrir um enorme sorriso. Como não há certeza, preciso conferir pessoalmente. Me encontre onde nos conhecemos. Te espero as 19h, Beijo do seu Luca”. O meu romântico coração acelerou e eu saí logo do trabalho. Precisava atravessar a cidade e encontrar a minha grande paixão e, ouso dizer, amor. Ansiosa e muito emocionada, eu até me esqueci do meu medo paralisante de elevador. Cheguei às 19h em ponto, nem um minuto a mais e nem um a menos.

No terraço daquele prédio de nove andares, o casal super apaixonado se reencontrou com um beijo repleto de saudade e sentimento. Só existia nós, a noite estrelada e dois corações extremamente apaixonados e entregues. “Que bom te ver, Luca. Eu estava com tanta saudade!”, disse ofegante. “Eu também, minha linda. Te ver era tudo o que eu mais queria”, ele falou e nos beijamos mais uma vez. “Mas como você saiu cedo do trabalho?”, perguntei curiosa. “Esse é um dos motivos para eu estar aqui. Consegui uma promoção... Desculpa se não te contei antes, mas queria te fazer uma surpresa quando tudo desse certo. E deu”, contou. “Parabéns, meu amor. Você merece. Você, mais do que ninguém, merece isso”, falei. “E ainda não disse o melhor. Eles me deram a oportunidade de comandar o escritório aqui da cidade. Poderemos ficar pertinho um do outro. Na verdade, o outro motivo pra eu estar aqui é esse”, Luca disse e se ajoelhou. Ele enfiou a mão no bolso e puxou um anel de noivado. Meus olhos se encheram de lágrimas e naquele instante eu sabia que não precisava de nenhuma pergunta, porque meu coração já sabia perfeitamente a resposta, ele sempre soube. Mesmo assim ele perguntou: “Liz, amor da minha vida, luz dos meus olhos, razão dos meus sorrisos, você aceita se casar comigo?” E eu respondi imediatamente: “Sim! Claro que eu aceito”. Com os olhos brilhando e repletos de lágrimas de felicidade, nós nos abraçamos forte e nos beijamos. Não havia dúvida, porque desde o primeiro momento que o vi, eu sabia que seria uma pessoa que marcaria pra sempre a minha vida. E saber que ele me escolheu pra compartilhar a sua vida, só enchia o meu coração das mais puras alegria e gratidão. E essa foi a melhor e mais emocionante surpresa que o amor da minha vida me fez. Agora sou eu quem devo fazer isso. Preciso chegar em casa e contar que a família irá crescer.

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