domingo, 2 de abril de 2017

Um ato de amor

          Certas coisas acontecem nas nossas vidas e não existe uma explicação. Simplesmente acontece. E até hoje não consegui entender a minha facilidade em me apaixonar por homens errados. O último cara com quem eu me envolvi tinha namorada. Eu não sabia. Como posso ser tão burra? E como ele consegue fazer isso com a namorada? Eu não entendo. Se você está com alguém, não existe nenhum motivo que justifique procurar outra pessoa. Se a relação não está boa, apenas termine. Assim evita o sofrimento futuro. Eu realmente não entendo as pessoas. Até quando eu apenas fico com alguém, não consigo ficar com outra pessoa. Talvez a errada seja eu. Mas felizmente aquela paixão que eu sentia pelo senhor safado, que prefiro nem lembrar o nome, passou. Tudo com a ajuda de uma nova paixão. Amor, na verdade. Ontem ele me falou que me ama. Lucas, meu anjo, meu amigo.
            Sim. Eu o amo. Muito. E sinto que é diferente. Eu sei que é diferente de tudo que já vivi. Meu coração acelera só de lembrar o nome dele. Eu arrepio com a imaginação do nosso beijo. E quando ele me toca o mundo para. Eu me sinto segura, amparada, amada. Conheci o Lucas há dois anos, quando fizemos uma matéria em comum na faculdade. Durante as aulas éramos parceiros, fazíamos todas as atividades juntos. De colegas para amigos. Uma linda amizade a nossa. Quase todas as semanas saíamos juntos ou íamos um para a casa do outro. Eu contava sobre os desastres amorosos da minha vida e ele me contava sobre a vida dele. Sempre nos vimos apenas como amigos. Não sei explicar como isso mudou. Só sei que depois de uns meses, a nossa relação se tornou mais intensa. Eu não me sentia mais a vontade em contar certas coisas. Eu não podia vê-lo que me dava vontade de sorrir. E eu sei que com ele também foi assim. Já conversamos sobre isso. É tão bom ser amiga dele. Me sinto bem para falar qualquer coisa com ele. Nos entendemos, nos apoiamos, nos amamos.
            Tenho muito medo de o nosso namoro atrapalhar a amizade. Se isso não der certo, posso perdê-lo. E isso não pode acontecer. Antes de amá-lo como homem, o amo como amigo.  O que temos é tão forte, é tão verdadeiro, que não pode se perder. Mas isso não vai acontecer. Vamos ser amigos para sempre. Eu amo o Lucas. E quando ele me beija eu sinto que ele também me ama. Isso tudo só pode ser mentira. Não acredito. Nunca estiver tão feliz como agora. Que medo. Mas o conheço como amigo e é uma pessoa maravilhosa, um ótimo companheiro. Como namorado também sei. Conheço a história do último namoro dele. Não terminou muito bem. A ex dele foi fazer intercâmbio e decidiu terminar. Eu não entendi porque a Vitória fez isso. Eu nunca faria isso. Eles se davam muito bem, se amavam. Isso pode ter ajudado na nossa aproximação amorosa. Ele terminou na mesma época em que eu descobri sobre o boy safado (aquele que namorava). Choramos juntos. Reclamamos juntos. E hoje nos amamos. Namoramos há três meses. Não é muito tempo, mas já é intenso, é muito forte. Estou feliz, muito feliz.
           Penso nele o dia todo. Como isso é possível? Como posso estar amando tanto? Tenho medo. Mas me sinto bem, quando penso que estamos bem. Será que temos futuro? Sei da vontade dele de mudar de cidade. Eu também quero isso. Temos tantas coisas em comum. Parece mentira, porque é tudo muito bom pra ser verdade. Falo isso por causa do meu histórico amoroso. Sempre amei sem ser amada. Não quero pensar nisso, nem no futuro. A vida é incerta. E às vezes nos pega de surpresa. Antes nunca me imaginaria namorando o meu amigo Lucas e agora estamos nessa. Eu o amo. É só pensar nele que ele aparece. Meu telefone está tocando. É ele, é o meu amor... “Paula, meu anjo, precisamos conversar. Estou indo para a sua casa agora.” Ele parece tão sério. Estou com medo. Ele não é assim...
            “Minha linda, a Vitória voltou. Ela foi me ver hoje.” Ele fala e eu já sei o que vem a seguir. Vamos ter problemas. Sabia que era bom demais... “Você precisa saber que eu te amo. De verdade. Te amo como amiga e como mulher.” Será que esse amor é suficiente pra ele? Estou calada, não consigo falar nada. Meu coração já está sentindo... Não, que meu coração esteja errado. Não quero perdê-lo... Estou suando frio. Me sinto desamparada, sozinha. Parece um pesadelo. Ele está dividido. O meu amor ainda ama a ex. Não acredito que isso está acontecendo comigo. O homem que eu amo... Ele ama a outra. Estamos chorando juntos de novo. “Eu te amo, Paula. Não quero perder você, nem perder tudo que construímos juntos.” Não posso me esquecer da nossa amizade. Ela é tão linda, tão forte... Tenho que separar as coisas. É tão difícil. Por mais que eu o ame, vou me sentir a pior pessoa do mundo se impedir a verdadeira felicidade dele. Não posso ser egoísta. Ele precisa do meu apoio. Sei que ele não vai conseguir. Tenho que fazer isso por ele, por nós. Devo isso à nossa amizade. Eu o amo e quero vê-lo feliz.
            “Eu te amo muito Lucas. E por tudo que vivemos juntos, por nossa amizade e por esse amor, quero que você se sinta a vontade para recomeçar uma relação com ela.” Não acredito que falei isso. É o certo. Eles se amam. Não posso mudar isso. Ele está sem palavras. “Eu falo sério. Eu te amo, mas vocês também se amam. Não quero te prender se o seu grande amor é ela e não eu. Pode ficar tranquilo. Siga o seu coração.” Meu coração dói muito, mas fiz o certo. Isso vai passar, tem que passar. “Não queria que isso estivesse acontecendo, meu anjo. Não quero te perder.” Ele fala e só sinto dor. O coração sofre, mas ele também sabe que vai passar... Pode demorar, mas vou conseguir superar isso. “Eu sempre vou te amar. Não quero perder a nossa amizade.” Sorrio, sem querer. Preciso ficar firme, preciso ser positiva. “Nossa amizade é forte demais para acabar assim, Lucas. Mas vou precisar de um tempo.” Ele me abraça e eu fico arrepiada. Seguro as lágrimas. Não posso chorar. Não agora. “Eu te entendo. Isso é um ato de amor. Até breve, meu anjo.” Ele fecha a porta e as lágrimas descem. O meu amor se foi. Essa dor tem que passar...
             Já tem um mês que estou sozinha, sem ele. Ainda o amo. Ainda choro. Mas parei de chorar todas as noites. Ele é a pessoa que mais amei, que mais me amou. Mas fiz o certo. Minhas amigas me julgam, dizem que sou burra. Talvez eu seja mesmo. Mas não poderia viver feliz sabendo que tem uma pessoa que ele ama mais que a mim. Não seria bom pra mim nem pra ele. Fiz o certo. Tento colocar isso na minha cabeça todos os dias. Preciso ser forte, vou superar... Não o vejo desde aquele dia. Ele me manda mensagens e eu respondo. Mas não conversamos como antes. Espero que quando essa dor passar, nós possamos voltar a sermos amigos como antes. Sinto muita falta dele. Sinto falta do meu amigo, do meu cúmplice, do meu amor. Não. Ele não é mais o meu amor. Preciso tirar isso da cabeça. Mas continua doendo. Ainda o amo como amigo e como homem. “Paula, meu anjo.” Que susto! Ele está atrás de mim. Estou tremendo, mas não de medo. Meu coração está acelerado. O Lucas está me encarando. Todos os nossos momentos juntos vêm a minha cabeça. Tenho que ser forte. “Aquele dia eu não pedi desculpa. Sinto muito por fazer você sofrer. Mas eu também sofri. Ainda sofro. Sinto sua falta.” Perca as palavras. Não sei o que responder. Ele toca a minha mão. Esse toque... “Desculpa, meu anjo. Eu estava muito confuso...” Que vontade de chorar, mas preciso me mostrar forte, bem. Mas não estou bem. “Não é certo, não é justo. Mas ainda te amo. Te amo como amiga, te amo como mulher.” Não é justo ele falar essas coisas. Voltou a doer, muito. Por quê? “Eu também te amo.” Digo, porque é verdade. “Eu não amo a Vitória. O meu grande amor é você.”


           



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