segunda-feira, 24 de abril de 2017


Meu pé esquerdo da sorte

Sabe aqueles dias que tudo parece dar errado? Foi em um dia desses que minha vida mudou. Era um dia importante, eu entregaria um projeto a um cliente pela manhã e depois do almoço teria uma reunião com os investidores da empresa em que trabalho. Era pra eu ter percebido desde a hora que acordei que seria um dia “daqueles”. Para início de conversa acordei atrasada. Levantei correndo, tomei banho, me arrumei e sai na maior correria. A reunião foi um fiasco, o cliente simplesmente não gostou do projeto que passei quase um mês inteiro trabalhando nele. Sem contar que ele falou até na minha cabeça por ter me atrasado para nosso encontro.
Na hora do almoço resolvi ir a um restaurante que fica na esquina da rua do meu emprego. Tenho o hábito de sempre tomar uma xícara de café após o almoço. Aquele, definitivamente, não era um bom dia para praticar esse hábito. Quando eu levava a xícara a boca me assustei com uma criança que entrou no local gritando. Resultado: ensopei minha camisa branca de café, sendo que eu tinha uma reunião importantíssima minutos depois, e não havia levado outra peça de roupa. Passei um guardanapo úmido pela camisa, na esperança de disfarçar a mancha, mas o que consegui foi espalhá-la ainda mais. Meu chefe iria me matar por ir a reunião com a camisa manchada, mas infelizmente não havia nada que eu pudesse fazer.
Quando entrei na sala de reuniões todos os olhares voltaram-se diretamente pra mim, ou melhor, pra mim não, para minha camisa. Todos me olhavam com aquela expressão de perplexidade, imaginei que a qualquer momento alguém iria dizer “Essa mulher é louca”. Ignorei os olhares e me dirigi ao meu lugar. Mesmo de cabeça baixa eu podia sentir os olhares do meu chefe em mim, com um olhar que dizia “Lívia, eu vou te matar”. Mais uma vez algo deu errado no meu dia. Jogaram alguns erros da empresa em cima de mim. Saí da sala morrendo de vontade de chorar e pedir demissão, mas eu precisava desesperadamente daquele emprego.
Ao entrar no meu carro para ir embora, comecei a analisar o fiasco que havia sido o meu dia. Então fiz a idiotice de olhar para o céu e perguntar “O que mais pode acontecer de ruim hoje?”. Me arrependi da pergunta oito quilômetros depois, quando meu carro furou o pneu bem no meio de uma estrada deserta, um local que dificilmente eu encontraria alguém para trocá-lo. Debrucei sobre o volante e comecei a chorar. Eu nunca havia trocado um pneu na vida, o que iria fazer? Não havia opção. Tirei meus sapatos de salto e sai do veículo, arregacei as mangas da minha camisa e fui tentar fazer o serviço. Nos quarenta minutos que se seguiram fiquei perguntando “Ô meu Deus, porque fui nascer com dois pés esquerdos?”. Quarenta minutos haviam se passado e nada de conseguir trocar o pneu.
Minutos depois parou um carro atrás do meu, não sei se senti medo ou alívio. Para minha sorte, a porta do carro se abriu e de lá saiu um lindo moreno. Perguntou-me qual era o problema. A essa altura minha camisa branca e meu rosto estavam cobertos de graxa. Fiquei morta de vergonha por estar nessas condições perto de um homem tão bonito. Disse a ele qual era o problema e dez minutos depois ele o havia resolvido. Foi incrível! Fiquei quarenta minutos tentando trocar o pneu e não consegui nem tirá-lo do lugar, enquanto que o bonitão fizera a troca em apenas dez minutos.
Agradeci ao bonitão e já ia caminhando para o carro quando ele se aproximou e me pediu meu telefone, disse que me ligaria no dia seguinte para sairmos juntos. Sinceramente eu não estava acreditando. Mesmo eu estando coberta de graxa o bonitão estava flertando comigo, parecia mentira. Passei meu número, afinal, eu estava solteira e ele era um gato. Agradeci mais uma vez e fui embora. No dia seguinte meu telefone tocou na hora do almoço, e quase não acreditei quando Marcos, meu salvador do dia anterior, me convidou para sair à noite.
Fomos a um barzinho super aconchegante e tivemos uma noite maravilhosa. Marcos era encantador: bonito, inteligente, engraçado e gentil. Saímos outras vezes, e cerca de um mês depois estávamos namorando. Hoje, três anos depois daquele dia desastroso, não sei definir exatamente o que foi aquele dia. Aparentemente foi um dia de muito azar, mas naquele dia também tive a maior sorte da minha vida, encontrei o meu grande amor . Quando tudo parecia perdido, eis que o destino conspirou a meu favor.

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