sábado, 15 de abril de 2017

Minha querida amiga

            Sabe quando você se depara com um sorriso tão gostoso, tão encantador, que ele não sai da sua cabeça? E quando esse sorriso vem acompanhado de um olhar intenso e brilhante? E esses dois estão no corpo do homem mais enigmático e lindo que você já viu? Pois bem, passei por isso há duas semanas. Fui à cidade vizinha participar de um workshop e me perdi naquele homem. Minhas pernas bambearam, meus olhos brilharam e eu não parei de sorrir. E melhor, ele sorriu pra me mim. Ficou o dia todo me encarando e por fim veio até mim. Conversamos e tudo piorou. Parecia brincadeira. Não podia ser real. Eu nunca fiquei assim por causa de um homem. “Você é muito fria, Renata.”, minha melhor amiga costuma falar comigo. Na maioria das vezes sou fria mesmo. Mas devo me justificar. Eu nunca tinha conhecido alguém assim e não digo pela aparência. Ele é lindo, claro. Alto, moreno, cabelo preto liso com cachos nas pontas, olhos da cor do céu e aquele sorriso encantador. Mas depois que conversamos, descobri uma beleza ainda maior. Apaixonado por literatura, como eu. Nada machista. Cavalheiro, culto, atencioso (a mãe dele ligou pra ele e a atenção que ele teve quase me fez chorar), e um monte de coisas mais que me encantaram. Estendi a minha estadia (não precisava), por causa dele. Em uma semana, conheci toda a história de vida dele e ele conheceu a minha. Ele era maravilhoso demais pra ser verdade. Mas naquela semana nem pensei nisso. Só queria ouvir, falar e estar com aquele homem. O dono dos beijos mais quentes e doces, o dono da voz mais charmosa. O intenso Guilherme.
            Não fui mais a mesma. Eu estava apaixonada por Guilherme e nem sabia que isso era possível. “Estou tão feliz por você, Rê. A primeira vez que eu te vejo assim.” Minha querida amiga Bianca estava certa. Eu posso dizer que nunca me apaixonei. Nunca namorei também, mas isso não me incomoda. Assim que conheci o Guilherme comecei a imaginar coisas. Imaginei nós dois namorando, passeando por aí de mãos dadas, lendo juntos, fazendo mil coisas. E também imaginei apresentando ele para os meus pais. Senti-me uma boba, mas uma boba feliz. A nossa semana juntos acabou. E eu estava preocupada. Eu voltaria pra casa e ele continuaria na cidade dele. Está certo que são cerca de 50 minutos de carro, mas eu nunca namorei antes. E ele trabalha bastante e eu também. Mas ele me disse que daríamos um jeito. Eu amei aquilo. Combinamos de nos ver duas vezes por semana, além de conversar todos os dias pelo telefone. Fiquei cada vez mais encantada com aquele homem. Um homem diferente de todos que eu já conheci. Confesso que ainda estou encantada e apaixonada. Mas a vida nem sempre é boa.
            Eu voltei pra casa. Queria contar cada detalhe para a minha melhor amiga. Mas como eu estendi a minha estadia lá, nós nos desencontramos. Ela já tinha marcado uma viagem de final de semana com duas colegas de trabalho. Iriam comemorar o aniversário de uma delas em um sitio aqui perto. Eu queria a minha amiga nesse momento. Ela tem um pouco mais de experiência que eu. Namorou por quatro meses quando tinha 17 anos. Já é alguma coisa, quando comparado a minha experiência. Além disso, ela já se apaixonou de verdade. Queria conselhos. Mas eu teria isso, só que dois dias depois. Enquanto isso, passei o final de semana fazendo um projeto de um apartamento, lendo e assistindo filmes. Ah, e comi bastante também. Eu estava muito ansiosa. O Guilherme me adicionou nas redes sociais e me mandou mensagens durante toda a manhã de sábado. À tarde ele disse que iria sair com uns amigos e iria ficar sem contato até o domingo de manhã. Assim que retornasse pra casa me ligaria. O estranho é que ficou com um pouco de saudades de ouvir a voz dele. E quando ele me ligou no domingo, fiquei até emocionada. Mas eu estava muito boba mesmo. Será que ainda estou? Isso tudo me assusta, é tão novo pra mim. Posso dizer que era (ou é, não sei) mesmo paixão.
            Amor? Tenho medo de responder. Prefiro não pensar nisso agora, ainda mais depois do que aconteceu. Na segunda-feira, depois desse final de semana ansioso, sem falar com a minha amiga, foquei no trabalho e não vi a Bianca o dia todo. Algumas vezes nós saímos para almoçar juntas, mas naquele dia eu tive uma reunião muito demorada com o meu chefe. Depois de apresentar o meu projeto, ele me deu uma promoção. Fiquei tão feliz e com tanto medo. Estava tudo dando muito certo para ser real. O Guilherme me ligou de manhã naquele dia, reforçando o nosso encontro na quarta-feira. Ele tem um horário flexível no trabalho nas quartas, então viria até a minha cidade me ver. Eu estava mesmo feliz e empolgada. Do jeito que estávamos tão bem, parecia que o namoro não iria demorar. Ele era o cara certo, o único que eu sonhei um futuro. Na verdade, ele é. Mas agora é apenas um sonho.
            À noite naquele dia pude conversar com a minha amiga. Finalmente eu pude contar tudo que eu vi naquela semana e confessei que eu estava apaixonada. Consegui falar em voz alta. “Bia, estou apaixonada. E estou feliz!” Ela me abraçou e ficamos alguns minutos aproveitando o carinho que temos uma pela outra. Depois de contar tudo, eu quis saber do final de semana dela. Ela contou como foi... Muita coisa pra comer e beber e muitas pessoas. Eu não sabia que seria uma festa tão grande. Mas foi. Enfim, depois de contar cada detalhe, ela chegou numa parte que nos abalou. Ela conheceu um homem... Deu alguns detalhes de como ele era e disse que estava encantada. Ficou curiosa e perguntei se rolou uma promessa de um novo encontro. “Ah, nada muito explicito. Trocamos nossos números, conversamos um pouco. O encanto é por minha parte mesmo. Ele estava meio travado. Pode ser que seja comprometido.” Eu a incentivei a ter esperanças, porque tudo é possível. E não sabia ao certo se ele tinha mesmo alguém. Foi aí que eu fiquei desconfiada.
Depois de alguns detalhes mais específicos eu perguntei o nome dele. “Guilherme, o mesmo nome do seu boy... Olha só, vamos ver o facebook dele, parece que...” Ela nem precisou terminar a frase, porque pelo modo que eu a olhei mostrava como eu também estava preocupada. A nossa preocupação estava certa. Ficamos nos olhando por alguns minutos... Eu não precisei nem confirmar. Ela viu que eu era uma amiga em comum com ele... Por que isso tinha que acontecer com nós? A minha querida amiga estava encantada pelo mesmo boy que eu estava apaixonada. Ficamos estranhas e não conseguimos falar nada... Guilherme me ligou, eu não atendi. Mais tarde mandei mensagem falando que estava passando mal. Ele ficou preocupado e insistiu em ouvir a minha voz. Liguei pra ele, mas não falei muito.
           Hoje eu tenho um encontro com ele, mas estou confusa. Estou perdida, não sei o que fazer. Bia e eu não estamos conversando muito bem. Não quero perder a minha amiga ou ficar numa situação de constrangimento, por causa de um homem. Mesmo que esse homem seja o Guilherme. Por que a vida é tão injusta? Por que a minha amiga foi gostar logo do homem que eu estou apaixonada? Simplesmente aconteceu. Talvez seja um teste para a nossa amizade. Não posso perdê-la. Nossa amizade tem mais de 10 anos e é linda. Eu amo a Bianca. Vou ligar pra ela. “Bia, me escuta. Eu sei que estamos meio estranhas. Mas não podemos continuar assim. Hoje eu vou me encontrar com o Guilherme, mas só porque já estava marcado. Vou colocar um ponto final nessa relação, que ainda nem começou. Eu amo você e nenhum homem vai ficar entre nós.” Eu disse e ela ficou uns instantes em silêncio. “Não, Rê. Não faça isso. Posso ver que você está apaixonada e ele também parece muito interessado. Eu vou entender... Vamos ficar bem.” Mas não vai ser a mesma coisa, não posso aceitar isso. “Bia, eu já me decidi. E sei que as coisas não vão ser iguais. Vou fazer isso e pronto. Te amo.”

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