Minha querida amiga
Sabe
quando você se depara com um sorriso tão gostoso, tão encantador, que ele não
sai da sua cabeça? E quando esse sorriso vem acompanhado de um olhar intenso e
brilhante? E esses dois estão no corpo do homem mais enigmático e lindo que
você já viu? Pois bem, passei por isso há duas semanas. Fui à cidade vizinha
participar de um workshop e me perdi naquele homem. Minhas pernas bambearam, meus
olhos brilharam e eu não parei de sorrir. E melhor, ele sorriu pra me mim.
Ficou o dia todo me encarando e por fim veio até mim. Conversamos e tudo
piorou. Parecia brincadeira. Não podia ser real. Eu nunca fiquei assim por
causa de um homem. “Você é muito fria, Renata.”, minha melhor amiga costuma
falar comigo. Na maioria das vezes sou fria mesmo. Mas devo me justificar. Eu
nunca tinha conhecido alguém assim e não digo pela aparência. Ele é lindo,
claro. Alto, moreno, cabelo preto liso com cachos nas pontas, olhos da cor do
céu e aquele sorriso encantador. Mas depois que conversamos, descobri uma
beleza ainda maior. Apaixonado por literatura, como eu. Nada machista.
Cavalheiro, culto, atencioso (a mãe dele ligou pra ele e a atenção que ele teve
quase me fez chorar), e um monte de coisas mais que me encantaram. Estendi a
minha estadia (não precisava), por causa dele. Em uma semana, conheci toda a
história de vida dele e ele conheceu a minha. Ele era maravilhoso demais pra
ser verdade. Mas naquela semana nem pensei nisso. Só queria ouvir, falar e
estar com aquele homem. O dono dos beijos mais quentes e doces, o dono da voz
mais charmosa. O intenso Guilherme.
Não fui mais a mesma. Eu estava
apaixonada por Guilherme e nem sabia que isso era possível. “Estou tão feliz
por você, Rê. A primeira vez que eu te vejo assim.” Minha querida amiga Bianca estava
certa. Eu posso dizer que nunca me apaixonei. Nunca namorei também, mas isso
não me incomoda. Assim que conheci o Guilherme comecei a imaginar coisas.
Imaginei nós dois namorando, passeando por aí de mãos dadas, lendo juntos,
fazendo mil coisas. E também imaginei apresentando ele para os meus pais. Senti-me
uma boba, mas uma boba feliz. A nossa semana juntos acabou. E eu estava
preocupada. Eu voltaria pra casa e ele continuaria na cidade dele. Está certo
que são cerca de 50 minutos de carro, mas eu nunca namorei antes. E ele
trabalha bastante e eu também. Mas ele me disse que daríamos um jeito. Eu amei
aquilo. Combinamos de nos ver duas vezes por semana, além de conversar todos os
dias pelo telefone. Fiquei cada vez mais encantada com aquele homem. Um homem diferente
de todos que eu já conheci. Confesso que ainda estou encantada e apaixonada.
Mas a vida nem sempre é boa.
Eu voltei pra casa. Queria contar
cada detalhe para a minha melhor amiga. Mas como eu estendi a minha estadia lá,
nós nos desencontramos. Ela já tinha marcado uma viagem de final de semana com duas
colegas de trabalho. Iriam comemorar o aniversário de uma delas em um sitio aqui
perto. Eu queria a minha amiga nesse momento. Ela tem um pouco mais de experiência
que eu. Namorou por quatro meses quando tinha 17 anos. Já é alguma coisa,
quando comparado a minha experiência. Além disso, ela já se apaixonou de
verdade. Queria conselhos. Mas eu teria isso, só que dois dias depois. Enquanto
isso, passei o final de semana fazendo um projeto de um apartamento, lendo e
assistindo filmes. Ah, e comi bastante também. Eu estava muito ansiosa. O
Guilherme me adicionou nas redes sociais e me mandou mensagens durante toda a
manhã de sábado. À tarde ele disse que iria sair com uns amigos e iria ficar
sem contato até o domingo de manhã. Assim que retornasse pra casa me ligaria. O
estranho é que ficou com um pouco de saudades de ouvir a voz dele. E quando ele
me ligou no domingo, fiquei até emocionada. Mas eu estava muito boba mesmo.
Será que ainda estou? Isso tudo me assusta, é tão novo pra mim. Posso dizer que
era (ou é, não sei) mesmo paixão.
Amor? Tenho medo de responder.
Prefiro não pensar nisso agora, ainda mais depois do que aconteceu. Na
segunda-feira, depois desse final de semana ansioso, sem falar com a minha
amiga, foquei no trabalho e não vi a Bianca o dia todo. Algumas vezes nós saímos
para almoçar juntas, mas naquele dia eu tive uma reunião muito demorada com o
meu chefe. Depois de apresentar o meu projeto, ele me deu uma promoção. Fiquei
tão feliz e com tanto medo. Estava tudo dando muito certo para ser real. O Guilherme
me ligou de manhã naquele dia, reforçando o nosso encontro na quarta-feira. Ele
tem um horário flexível no trabalho nas quartas, então viria até a minha cidade
me ver. Eu estava mesmo feliz e empolgada. Do jeito que estávamos tão bem,
parecia que o namoro não iria demorar. Ele era o cara certo, o único que eu
sonhei um futuro. Na verdade, ele é. Mas agora é apenas um sonho.
À noite naquele dia pude conversar
com a minha amiga. Finalmente eu pude contar tudo que eu vi naquela semana e
confessei que eu estava apaixonada. Consegui falar em voz alta. “Bia, estou
apaixonada. E estou feliz!” Ela me abraçou e ficamos alguns minutos
aproveitando o carinho que temos uma pela outra. Depois de contar tudo, eu quis
saber do final de semana dela. Ela contou como foi... Muita coisa pra comer e
beber e muitas pessoas. Eu não sabia que seria uma festa tão grande. Mas foi.
Enfim, depois de contar cada detalhe, ela chegou numa parte que nos abalou. Ela
conheceu um homem... Deu alguns detalhes de como ele era e disse que estava
encantada. Ficou curiosa e perguntei se rolou uma promessa de um novo encontro.
“Ah, nada muito explicito. Trocamos nossos números, conversamos um pouco. O
encanto é por minha parte mesmo. Ele estava meio travado. Pode ser que seja
comprometido.” Eu a incentivei a ter esperanças, porque tudo é possível. E não
sabia ao certo se ele tinha mesmo alguém. Foi aí que eu fiquei desconfiada.
Depois
de alguns detalhes mais específicos eu perguntei o nome dele. “Guilherme, o
mesmo nome do seu boy... Olha só, vamos ver o facebook dele, parece que...” Ela
nem precisou terminar a frase, porque pelo modo que eu a olhei mostrava como eu
também estava preocupada. A nossa preocupação estava certa. Ficamos nos olhando
por alguns minutos... Eu não precisei nem confirmar. Ela viu que eu era uma
amiga em comum com ele... Por que isso tinha que acontecer com nós? A minha
querida amiga estava encantada pelo mesmo boy que eu estava apaixonada. Ficamos
estranhas e não conseguimos falar nada... Guilherme me ligou, eu não atendi.
Mais tarde mandei mensagem falando que estava passando mal. Ele ficou
preocupado e insistiu em ouvir a minha voz. Liguei pra ele, mas não falei
muito.
Hoje
eu tenho um encontro com ele, mas estou confusa. Estou perdida, não sei o que
fazer. Bia e eu não estamos conversando muito bem. Não quero perder a minha
amiga ou ficar numa situação de constrangimento, por causa de um homem. Mesmo
que esse homem seja o Guilherme. Por que a vida é tão injusta? Por que a minha
amiga foi gostar logo do homem que eu estou apaixonada? Simplesmente aconteceu.
Talvez seja um teste para a nossa amizade. Não posso perdê-la. Nossa amizade
tem mais de 10 anos e é linda. Eu amo a Bianca. Vou ligar pra ela. “Bia, me
escuta. Eu sei que estamos meio estranhas. Mas não podemos continuar assim.
Hoje eu vou me encontrar com o Guilherme, mas só porque já estava marcado. Vou
colocar um ponto final nessa relação, que ainda nem começou. Eu amo você e
nenhum homem vai ficar entre nós.” Eu disse e ela ficou uns instantes em
silêncio. “Não, Rê. Não faça isso. Posso ver que você está apaixonada e ele
também parece muito interessado. Eu vou entender... Vamos ficar bem.” Mas não
vai ser a mesma coisa, não posso aceitar isso. “Bia, eu já me decidi. E sei que
as coisas não vão ser iguais. Vou fazer isso e pronto. Te amo.”
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