sábado, 29 de abril de 2017

O estranho conhecido

Era uma linda noite de sábado. O céu estava estrelado e a lua cheia. Olhei para o céu e imaginei como aquela noite seria perfeita para encontrar um grande amor. Aquele pensamento era uma bobeira, mas eu era uma romântica incorrigível. Ainda mais por estar indo a um baile de máscaras, vestida com um traje de época, igualzinha as mocinhas dos romances históricos que eu gostava de ler. Fiquei imaginando como seria lindo encontrar um amor naquele baile. Eu me sentiria como as protagonistas dos meus livros preferidos.
Olhei meu reflexo no espelho e achei que realmente parecia uma dama do século XIX. Usando um vestido rosa com babados brancos, e os cabelos presos em um coque desestruturado, eu me sentia a própria Elisa Clark do romance Prometida, da Carina Rissi, uma das minhas autoras preferidas. Talvez fosse a semelhança física com a personagem, cabelos negros e olhos azuis. Fiquei pensando: já que estou me sentindo a Elisa, bem que o meu Lucas Guimarães poderia aparecer hoje. Comecei a rir do meu pensamento bobo. Bianca, minha amiga que me acompanharia ao baile, entrou apressada no quarto, arrastando seu lindo vestido prata:
-Vamos Letícia, pare de se olhar no espelho e vamos, desse jeito vamos chegar atrasadas.
Bia estava linda, seus lindos cabelos loiros formavam ondas por suas costas. Parecia uma mocinha inglesa, fiquei pensando qual personagem que eu conhecia ela poderia ser. Ah sim, claro! Bia parecia Sophie Beckett, de Um Perfeito Cavalheiro, da minha querida Julia Quinn. Como não pensei nisso antes?! Ouço um estalar de dedos e volto meus pensamentos para meu quarto. Minha amiga me olha abismada. Mesmo sabendo que minha cabeça vive viajando por outros lugares, ela ainda se assusta quando me perco em meus pensamentos.
Saio de casa arrastando meu vestido e começo a pensar como as mulheres conseguiam respirar com aqueles espartilhos tão apertados e como andavam com aquelas anáguas enormes. Tento ao máximo me equilibrar com tanta roupa. Ao chegar à porta do local onde seria o baile coloco minha linda máscara dourada. Estou tão ansiosa. Sempre fui louca por ir a um baile assim. É um misto de ansiedade e alegria. Atravesso o salão e vejo muitos vestidos como o meu, exceto pelas cores, diversos homens usando coletes e ternos, e milhares de máscaras. Olho para todas aquelas pessoas com os rostos cobertos e começo a imaginar que era exatamente em bailes assim que as mocinhas costumavam aprontar, já que suas identidades estavam escondidas.
Resolvo sair em busca de uma taça de vinho, a única bebida que realmente aprecio. Quando passo em frente à porta de entrada vejo surgir um lindo cavalheiro, alto, de cabelos negros e pele bronzeada. Não sei distinguir qual a cor dos seus olhos, pois estou a certa distância dele, só sei que são escuros. Fico parada por um tempo olhando para aquele desconhecido, e só depois de alguns minutos é que saio à procura do meu vinho. Encontro Bia conversando com uma velha amiga nossa e paro para cumprimentá-la. Resolvo sair dali e tentar encontrar algumas colegas que ainda não vi. Piso na barra do meu vestido e tropeço. Oh meu Deus, vou me estatelar no chão! Antes que eu caia sinto meu corpo bater contra um corpo musculoso. Levanto a cabeça e dou de cara com o lindo rapaz da entrada. Fico vermelha de vergonha e agradeço. O garçom passa por nós e ambos pegamos uma taça de vinho. Afastamos-nos um pouco de minhas amigas e começamos a conversar. Fico observando os traços de seu rosto. Agora consigo ver com clareza que seus olhos são castanhos escuros, e sua boca é carnuda. Que vontade beijá-la! Depois de algum tempo conversando, o gato mascarado segura meu rosto e me beija. Seu beijo me parece tão familiar.
Caminhamos para o jardim da casa de eventos e começamos a conversar. Depois de tanto observar aquele rosto e experimentar seu beijo, tenho a sensação que conheço aquele homem. Ele me beija novamente, e quando nossas bocas se desgrudam ele resolve tirar a máscara.
- Pedro! – exclamo ao encarar meu primeiro amor, o garoto por quem fui apaixonada minha adolescência inteira. Ele sorri, e me beija novamente. Dessa vez me entrego profundamente ao beijo. Meu coração dispara como há muito tempo não fazia.
- O que você faz aqui?- pergunto ainda trêmula.
- Estou de férias na casa dos meus pais, e soube do baile. Imaginei que a garota mais linda dessa cidade, que é apaixonada por histórias de época, estaria aqui. Então pensei que não poderia deixar essa oportunidade passar.
- Como você soube que era eu, já que estou de máscara?
- Jamais esqueceria esses lindos olhos azuis, mesmo após cinco anos sem vê-los. E ao beijá-la tive a certeza que era você. Esses lábios doces nunca saíram dos meus pensamentos.
Meu coração se derrete todo ao ouvir tais palavras. É nesse momento que percebo que nunca o esqueci. Meus sentimentos só estavam adormecidos. Sentamos e começamos a conversar, contamos um ao outro tudo que fizemos nesse tempo. Depois de mais alguns beijos ele me confessa que sempre foi apaixonado por mim, que nunca me disse nada porque eu namorava um cara que ele detestava. Que nesses anos que ficou sem me ver pensava em mim todos os dias, e imaginava se um dia teríamos uma chance de ter algo de verdade. Aproveitei o embalo e disse a ele tudo que eu também estava sentindo. Não acredito quando Far Away, do Nickelback, a música que me fazia pensar nele, começa a tocar, imagino que tem um dedinho de Bia por trás da trilha sonora. Depois da revelação nos beijamos novamente, dessa vez um beijo apaixonado, que expressa tudo que estamos sentindo.
Mais tarde, quando Pedro me deixa em casa, me promete ligar no dia seguinte para sairmos. E é exatamente o que ele faz no outro dia. Vamos a um restaurante super aconchegante, e ali, em meio a um delicioso jantar a luz de vela e duas taças de vinho, meu primeiro amor me pede em namoro. Sei que nosso reencontro é recente, mas não posso perder essa chance novamente. Mais que rapidamente aceito, mesmo sabendo que ao final das férias ele retornará para a cidade onde trabalha.
Dias depois recebo uma notícia que me deixa ainda mais radiante. Fui aprovada para o mestrado em História Medieval na cidade em que Pedro mora. É muita alegria para uma pessoa só. Sei que é apenas o início de uma grande jornada, um longo caminho a percorrer, mas que ficará mais fácil com meu grande amor ao meu lado.


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