Encontros
e desencontros
Encontrar
o amor da sua vida não é uma tarefa fácil, às vezes você o reconhece no
primeiro olhar, mas aí vem a vida com seus encontros e desencontros e tudo
muda. Eu encontrei o meu exatamente assim e sei bem como é.
Era
uma linda manhã de terça-feira, o tempo estava frio e o sol encoberto por nuvens.
Peguei meu sobretudo e sai correndo, como sempre estava super atrasada. A estação
do metrô ficava a 10 minutos da minha casa, e faltavam exatos 10 minutos para a
próxima partida. Eu detestava aquela correria de toda manhã, adoraria ter um
carro, mas era o que a vida de uma jornalista recém formada me proporcionava.
Consegui
chegar à estação quando o último passageiro embarcava. Como de costume, o vagão
já estava lotado, e assim como todos os dias tive que fazer o trajeto em pé.
Tudo parecia normal como sempre, até que meus olhos focaram em algo que prendeu
minha atenção. Um dos passageiros que estava sentado a minha frente estava de
cabeça baixa, totalmente focado no livro que estava em suas mãos. Eu não sabia
o que gostaria mais de ver, se era seu rosto ou se era a capa do livro. Como
leitora apaixonada, eu sempre tenho a necessidade de ver quais livros as
pessoas estão lendo.
Passei
cerca de 20 minutos tentando ver o rosto do rapaz, mas ele estava tão entregue
ao livro que em nenhum momento levantou a cabeça. O único detalhe que estava a
vista era seus cabelos, negros como a noite. Na estação seguinte o passageiro
que estava ao lado do rapaz desceu, e eu aproveitei a oportunidade para sentar
ao seu lado. Ao me sentar, enfim o jovem levantou a cabeça, e foi então que
nossos olhares se cruzaram pela primeira vez.
Ficamos
alguns segundos nos encarando, talvez uns 2 minutos, sem ninguém dizer nada. Eu
estava me sentindo totalmente presa a aquele olhar. Eu precisava desviar os
olhos dele, mas eu simplesmente não conseguia. Meus olhos não obedeciam aos
comandos do meu cérebro. Como se lesse meus pensamentos ele desviou primeiro. E
sorriu. O sorriso mais lindo que eu já recebera. Meu estômago se revirou. Nunca
antes eu havia sentido isso ao conhecer alguém. Começamos a conversar, eu disse
a ele que também gostava de ler, que era apaixonada por livros, e revelei que
estava extremamente curiosa para ver qual ele estava lendo. Ele sorriu e
levantou o livro, era uma edição de luxo de Crime e Castigo, do Fiodór Dostoiévski.
Continuamos a falar de livros, e quando eu estava prestes a perguntar seu nome,
infelizmente o metrô parou na estação que ele ia descer.
Quando
desci do metrô estava totalmente desorientada. Eu havia conversado com o rapaz
mais interessante que eu já conhecera e não sabia nada a respeito dele, nem
mesmo seu nome. Como eu o encontraria novamente? O único fato que eu sabia a
seu respeito era sua paixão por livros. Não sei como consegui trabalhar naquele
dia. Quando cheguei em casa fui correndo para o computador. Entrei em vários
grupos do Facebook sobre livros, e comecei uma busca desenfreada entre os
membros na esperança de encontrar aquele lindo rosto. Infelizmente minhas pesquisas
não tiveram retorno, e fiquei totalmente perdida, sem saber onde encontrá-lo.
Nos dias seguintes tentei chegar à estação com 15 minutos de antecedência, para
ver se o via dentro de algum vagão, mas não houve nenhum sinal dele.
Quatro
meses se passaram, e embora eu nunca mais tenha tido um vestígio dele, eu nunca
o esquecera, no meu íntimo sabia que precisava encontrá-lo. Numa linda manhã de
verão sai atrasada de casa, e para meu completo azar quando cheguei à estação o
metrô já estava saindo. Fiquei completamente arrasada quando olhei um dos
vagões e vi o lindo rapaz sorridente dentro. Mais uma vez eu o vi e não pudera
saber nada a seu respeito. Como estava calor ele vestia apenas a camisa do
uniforme, e pude ver de relance o nome da empresa que ele trabalhava. Essa
informação me pareceu útil, mas por mais que eu procurasse pessoas relacionadas
à empresa em redes sociais, não encontrava nenhum sinal dele.
Minha
irmã Flávia me dizia:
-
Fernanda, você precisa esquecer esse rapaz, você não sabe nada a respeito dele,
nem sabe se um dia o encontrará de novo.
Mas
eu relutava em aceitar aquilo. Alguns meses se passaram e por fim aceitei que
não veria mais aquele lindo leitor, e que, portanto, deveria tirá-lo da cabeça.
Acompanhei minha irmã a uma festa de sua turma da faculdade, queria realmente
me diverti e distrair a cabeça. Enquanto Flávia conversava com uns amigos
resolvi dar uma volta pelo local, e para minha surpresa vi alguém que não me
parecia estranho. O rapaz era alto e tinha cabelos escuros, exatamente como
alguém que eu havia visto no metrô. Eu me aproximei e o garoto se virou. Quase
desmaiei ao constatar que o estranho a minha frente era o meu “leitor
inesquecível”. Ele me olhou e sorriu. Eu estava tão assustada que não conseguia
emitir nenhuma reação.
Não
parecia fazer sentido. Quando eu havia desistido da ideia de procurá-lo, ele
simplesmente aparecera bem na minha frente. Eu continuava a olhar pra ele muda.
Ele se aproximou e me beijou. Meu mundo pareceu parar naquele momento. Depois
me deu um abraço bem apertado e disse:
-
Achei que nunca mais a veria, fiquei desesperado por não saber pelo menos seu
nome.
Antes
que nos perdêssemos novamente perguntei seu nome. Pelo menos agora se ele
desaparecesse novamente eu saberia que deveria procurar por um Matheus. Não nos
desgrudamos o resto da festa. Conversamos tanto, colhi o máximo de informações
a seu respeito. Ele não era da minha cidade, estava lá porque cursava
Engenharia de Produção na universidade que havia lá. Era um ano mais novo que
eu, e estagiava na empresa que eu havia visto no seu uniforme.
Depois daquele dia saímos diversas vezes e
nunca mais nos desencontramos. Descobrimos que os livros não eram nossa única
paixão em comum. Assim como eu, ele também era cinéfilo, e um amante de vinhos.
Nossos encontros são sempre cheios de expectativas, e o próximo será o mais
esperado de todos, no altar, onde nos encontraremos para selarmos nosso amor
para sempre.
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