segunda-feira, 15 de maio de 2017

Encontros e desencontros

Encontrar o amor da sua vida não é uma tarefa fácil, às vezes você o reconhece no primeiro olhar, mas aí vem a vida com seus encontros e desencontros e tudo muda. Eu encontrei o meu exatamente assim e sei bem como é.
Era uma linda manhã de terça-feira, o tempo estava frio e o sol encoberto por nuvens. Peguei meu sobretudo e sai correndo, como sempre estava super atrasada. A estação do metrô ficava a 10 minutos da minha casa, e faltavam exatos 10 minutos para a próxima partida. Eu detestava aquela correria de toda manhã, adoraria ter um carro, mas era o que a vida de uma jornalista recém formada me proporcionava.
Consegui chegar à estação quando o último passageiro embarcava. Como de costume, o vagão já estava lotado, e assim como todos os dias tive que fazer o trajeto em pé. Tudo parecia normal como sempre, até que meus olhos focaram em algo que prendeu minha atenção. Um dos passageiros que estava sentado a minha frente estava de cabeça baixa, totalmente focado no livro que estava em suas mãos. Eu não sabia o que gostaria mais de ver, se era seu rosto ou se era a capa do livro. Como leitora apaixonada, eu sempre tenho a necessidade de ver quais livros as pessoas estão lendo.
Passei cerca de 20 minutos tentando ver o rosto do rapaz, mas ele estava tão entregue ao livro que em nenhum momento levantou a cabeça. O único detalhe que estava a vista era seus cabelos, negros como a noite. Na estação seguinte o passageiro que estava ao lado do rapaz desceu, e eu aproveitei a oportunidade para sentar ao seu lado. Ao me sentar, enfim o jovem levantou a cabeça, e foi então que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez.
Ficamos alguns segundos nos encarando, talvez uns 2 minutos, sem ninguém dizer nada. Eu estava me sentindo totalmente presa a aquele olhar. Eu precisava desviar os olhos dele, mas eu simplesmente não conseguia. Meus olhos não obedeciam aos comandos do meu cérebro. Como se lesse meus pensamentos ele desviou primeiro. E sorriu. O sorriso mais lindo que eu já recebera. Meu estômago se revirou. Nunca antes eu havia sentido isso ao conhecer alguém. Começamos a conversar, eu disse a ele que também gostava de ler, que era apaixonada por livros, e revelei que estava extremamente curiosa para ver qual ele estava lendo. Ele sorriu e levantou o livro, era uma edição de luxo de Crime e Castigo, do Fiodór Dostoiévski. Continuamos a falar de livros, e quando eu estava prestes a perguntar seu nome, infelizmente o metrô parou na estação que ele ia descer.
Quando desci do metrô estava totalmente desorientada. Eu havia conversado com o rapaz mais interessante que eu já conhecera e não sabia nada a respeito dele, nem mesmo seu nome. Como eu o encontraria novamente? O único fato que eu sabia a seu respeito era sua paixão por livros. Não sei como consegui trabalhar naquele dia. Quando cheguei em casa fui correndo para o computador. Entrei em vários grupos do Facebook sobre livros, e comecei uma busca desenfreada entre os membros na esperança de encontrar aquele lindo rosto. Infelizmente minhas pesquisas não tiveram retorno, e fiquei totalmente perdida, sem saber onde encontrá-lo. Nos dias seguintes tentei chegar à estação com 15 minutos de antecedência, para ver se o via dentro de algum vagão, mas não houve nenhum sinal dele.
Quatro meses se passaram, e embora eu nunca mais tenha tido um vestígio dele, eu nunca o esquecera, no meu íntimo sabia que precisava encontrá-lo. Numa linda manhã de verão sai atrasada de casa, e para meu completo azar quando cheguei à estação o metrô já estava saindo. Fiquei completamente arrasada quando olhei um dos vagões e vi o lindo rapaz sorridente dentro. Mais uma vez eu o vi e não pudera saber nada a seu respeito. Como estava calor ele vestia apenas a camisa do uniforme, e pude ver de relance o nome da empresa que ele trabalhava. Essa informação me pareceu útil, mas por mais que eu procurasse pessoas relacionadas à empresa em redes sociais, não encontrava nenhum sinal dele.
Minha irmã Flávia me dizia:
- Fernanda, você precisa esquecer esse rapaz, você não sabe nada a respeito dele, nem sabe se um dia o encontrará de novo.
Mas eu relutava em aceitar aquilo. Alguns meses se passaram e por fim aceitei que não veria mais aquele lindo leitor, e que, portanto, deveria tirá-lo da cabeça. Acompanhei minha irmã a uma festa de sua turma da faculdade, queria realmente me diverti e distrair a cabeça. Enquanto Flávia conversava com uns amigos resolvi dar uma volta pelo local, e para minha surpresa vi alguém que não me parecia estranho. O rapaz era alto e tinha cabelos escuros, exatamente como alguém que eu havia visto no metrô. Eu me aproximei e o garoto se virou. Quase desmaiei ao constatar que o estranho a minha frente era o meu “leitor inesquecível”. Ele me olhou e sorriu. Eu estava tão assustada que não conseguia emitir nenhuma reação.
Não parecia fazer sentido. Quando eu havia desistido da ideia de procurá-lo, ele simplesmente aparecera bem na minha frente. Eu continuava a olhar pra ele muda. Ele se aproximou e me beijou. Meu mundo pareceu parar naquele momento. Depois me deu um abraço bem apertado e disse:
- Achei que nunca mais a veria, fiquei desesperado por não saber pelo menos seu nome.
Antes que nos perdêssemos novamente perguntei seu nome. Pelo menos agora se ele desaparecesse novamente eu saberia que deveria procurar por um Matheus. Não nos desgrudamos o resto da festa. Conversamos tanto, colhi o máximo de informações a seu respeito. Ele não era da minha cidade, estava lá porque cursava Engenharia de Produção na universidade que havia lá. Era um ano mais novo que eu, e estagiava na empresa que eu havia visto no seu uniforme.

 Depois daquele dia saímos diversas vezes e nunca mais nos desencontramos. Descobrimos que os livros não eram nossa única paixão em comum. Assim como eu, ele também era cinéfilo, e um amante de vinhos. Nossos encontros são sempre cheios de expectativas, e o próximo será o mais esperado de todos, no altar, onde nos encontraremos para selarmos nosso amor para sempre. 

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