quinta-feira, 18 de maio de 2017

A garota do bombom

Sou o tipo de gente que anda pelas ruas sem prestar atenção nas pessoas que estão a minha volta. Acho que não tenho muito tempo para isso, por causa da correria do dia a dia. Às vezes encontro com alguém que tenho a impressão que já vi antes, provavelmente é alguém que vejo todos os dias no metrô, mas nunca me lembro de onde a conheço. É muito raro eu entrar em uma loja e reconhecer vendedores que já me atenderam outras vezes. É a correria de sempre.
Entre tantas pessoas que passam por mim na rua eis que uma me fez percebê-la, a garota que vende bombons na estação do metrô. Desde a primeira vez que a vi ali ela não passou despercebida. Com seus lindos cabelos loiros esvoaçantes e um lindo sorriso cativante, é impossível não ser notada. Na primeira vez que ela me ofereceu bombom, comprei apenas para ajudá-la, mas naquele dia seus lindos olhos verdes não saíram da minha cabeça. No dia seguinte procurei por ela quando cheguei à estação, e para minha alegria lá estava ela, com sua cesta cheia. Dessa vez comprei cinco, e aproveitei
 para perguntar seu nome. Pensei nela o dia todo e fiquei ansioso por vê-la no outro dia. Para minha decepção ela não estava lá na manhã seguinte. Passei três dias sem vê-la, e na segunda-feira lá estava ela.
Naquela manhã Ágatha estava um pouco pálida, me aproximei e perguntei se estava se sentindo bem. Ela disse que se sentia um pouco tonta, que deveria ser porque não tomara café direito antes de sair. Convidei-a educadamente para me acompanhar em um lanche em uma padaria próxima. Pedi um misto quente bem caprichado e cappuccino para nós dois. Queria tanto conhecer melhor aquela linda garota do bombom! Aproveitei a oportunidade para perguntar discretamente um pouco sobre sua vida. Ela me contou timidamente que vendia bombons para pagar seu transporte para a faculdade. Era filha de uma doméstica que a criara sozinha, e com muito esforço passara em uma universidade federal, e agora realizava seu sonho de cursar fisioterapia. Sua mãe a ajudava, quando sobrava dinheiro, com as despesas da faculdade, mas atualmente estava doente e impossibilitada de trabalhar.
Não precisou de Ágatha falar muito para que eu me sentisse encantado por ela. Olhei para aquela linda garota guerreira, que não tinha vergonha de vender bombom para ajudar nos seus gastos com a faculdade, e fiquei pensando nas inúmeras garotas ricas que estudam no colégio particular onde sou professor de história, que tem tudo de melhor, não precisam trabalhar e estudar, e simplesmente não dão valor a tudo que têm. Então veio a minha mente “Augusto, você precisa ajudar essa garota de alguma forma”. Eu nunca tive que trabalhar e estudar. Meus pais não são ricos, mas o salário deles sempre foi suficiente para me manter enquanto eu fazia faculdade. Mesmo nunca tendo passado por isso imagino que não seja fácil.
Pago nosso café e saio correndo para não chegar atrasado ao colégio. Coincidência ou não naquele mesmo dia fica sabendo que estão precisando de uma secretária para trabalhar na escola no período da manhã, e a primeira pessoa que me vêm à cabeça é a dona dos olhos verdes mais lindos que já vi. Vou direto para a estação atrás da candidata perfeita. Pego seus contatos e a indico para a vaga. Três dias depois ela é chamada para entrevista, e felizmente a vaga é sua. Que felicidade, agora verei Ágatha todos os dias. Sempre a convido para tomar café na hora do intervalo, e pouco a pouco percebo que estou apaixonado por ela. Depois de muitos cafés tomo coragem e a convido para sair de verdade, e para minha surpresa ela aceita. No nosso primeiro beijo percebo que o meu sentimento é correspondido, e mesmo parecendo loucura, a peço em namoro no nosso primeiro encontro.
Três anos depois resolvo deixar a timidez de lado e fazer uma surpresa para minha adorada namorada. É o dia de sua formatura. Quando a cerimônia de colação de grau está quase acabando subo ao palco e começo a ler uma mensagem que escrevi para ela. Digo o quanto tenho orgulho dela, da moça guerreira que ela é, cito momentos importantes que passamos juntos e o mais importante, digo o quanto a amo. Então a chamo no palco, e quando ela está a minha frente me ajoelho a seus pés e tiro um caixinha do bolso. Abro a caixinha e mostro a ela um lindo anel, respiro fundo e falo “Ágatha, minha linda garota do bombom, quer se casar comigo?”. Ela sorri e começa a chorar, mas diz “Sim” ao meu pedido. Beijamos-nos e todos nos aplaudem.

Agora não a vejo mais com a cestinha de bombons na estação do metrô, mas sim com um jaleco branco no hospital público da nossa cidade. Agora minha noiva é fisioterapeuta, mas será eternamente minha “garota do bombom”. 

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