A
garota do bombom
Sou
o tipo de gente que anda pelas ruas sem prestar atenção nas pessoas que estão a
minha volta. Acho que não tenho muito tempo para isso, por causa da correria do
dia a dia. Às vezes encontro com alguém que tenho a impressão que já vi antes,
provavelmente é alguém que vejo todos os dias no metrô, mas nunca me lembro de
onde a conheço. É muito raro eu entrar em uma loja e reconhecer vendedores que
já me atenderam outras vezes. É a correria de sempre.
Entre
tantas pessoas que passam por mim na rua eis que uma me fez percebê-la, a garota
que vende bombons na estação do metrô. Desde a primeira vez que a vi ali ela
não passou despercebida. Com seus lindos cabelos loiros esvoaçantes e um lindo
sorriso cativante, é impossível não ser notada. Na primeira vez que ela me
ofereceu bombom, comprei apenas para ajudá-la, mas naquele dia seus lindos
olhos verdes não saíram da minha cabeça. No dia seguinte procurei por ela quando
cheguei à estação, e para minha alegria lá estava ela, com sua cesta cheia.
Dessa vez comprei cinco, e aproveitei
para perguntar seu nome. Pensei nela o dia
todo e fiquei ansioso por vê-la no outro dia. Para minha decepção ela não
estava lá na manhã seguinte. Passei três dias sem vê-la, e na segunda-feira lá
estava ela.
Naquela
manhã Ágatha estava um pouco pálida, me aproximei e perguntei se estava se
sentindo bem. Ela disse que se sentia um pouco tonta, que deveria ser porque
não tomara café direito antes de sair. Convidei-a educadamente para me
acompanhar em um lanche em uma padaria próxima. Pedi um misto quente bem
caprichado e cappuccino para nós dois. Queria tanto conhecer melhor aquela
linda garota do bombom! Aproveitei a oportunidade para perguntar discretamente
um pouco sobre sua vida. Ela me contou timidamente que vendia bombons para
pagar seu transporte para a faculdade. Era filha de uma doméstica que a criara
sozinha, e com muito esforço passara em uma universidade federal, e agora
realizava seu sonho de cursar fisioterapia. Sua mãe a ajudava, quando sobrava
dinheiro, com as despesas da faculdade, mas atualmente estava doente e
impossibilitada de trabalhar.
Não
precisou de Ágatha falar muito para que eu me sentisse encantado por ela. Olhei
para aquela linda garota guerreira, que não tinha vergonha de vender bombom
para ajudar nos seus gastos com a faculdade, e fiquei pensando nas inúmeras garotas
ricas que estudam no colégio particular onde sou professor de história, que tem
tudo de melhor, não precisam trabalhar e estudar, e simplesmente não dão valor
a tudo que têm. Então veio a minha mente “Augusto, você precisa ajudar essa
garota de alguma forma”. Eu nunca tive que trabalhar e estudar. Meus pais não
são ricos, mas o salário deles sempre foi suficiente para me manter enquanto eu
fazia faculdade. Mesmo nunca tendo passado por isso imagino que não seja fácil.
Pago
nosso café e saio correndo para não chegar atrasado ao colégio. Coincidência ou
não naquele mesmo dia fica sabendo que estão precisando de uma secretária para
trabalhar na escola no período da manhã, e a primeira pessoa que me vêm à
cabeça é a dona dos olhos verdes mais lindos que já vi. Vou direto para a
estação atrás da candidata perfeita. Pego seus contatos e a indico para a vaga.
Três dias depois ela é chamada para entrevista, e felizmente a vaga é sua. Que
felicidade, agora verei Ágatha todos os dias. Sempre a convido para tomar café
na hora do intervalo, e pouco a pouco percebo que estou apaixonado por ela.
Depois de muitos cafés tomo coragem e a convido para sair de verdade, e para
minha surpresa ela aceita. No nosso primeiro beijo percebo que o meu sentimento
é correspondido, e mesmo parecendo loucura, a peço em namoro no nosso primeiro
encontro.
Três
anos depois resolvo deixar a timidez de lado e fazer uma surpresa para minha
adorada namorada. É o dia de sua formatura. Quando a cerimônia de colação de
grau está quase acabando subo ao palco e começo a ler uma mensagem que escrevi
para ela. Digo o quanto tenho orgulho dela, da moça guerreira que ela é, cito
momentos importantes que passamos juntos e o mais importante, digo o quanto a
amo. Então a chamo no palco, e quando ela está a minha frente me ajoelho a seus
pés e tiro um caixinha do bolso. Abro a caixinha e mostro a ela um lindo anel,
respiro fundo e falo “Ágatha, minha linda garota do bombom, quer se casar
comigo?”. Ela sorri e começa a chorar, mas diz “Sim” ao meu pedido. Beijamos-nos
e todos nos aplaudem.
Agora
não a vejo mais com a cestinha de bombons na estação do metrô, mas sim com um
jaleco branco no hospital público da nossa cidade. Agora minha noiva é
fisioterapeuta, mas será eternamente minha “garota do bombom”.
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