Minha parceira
Eu não acreditava em destino, mas
depois de alguns anos de amizade com a Ana, comecei a acreditar que existem sim
pessoas predestinadas a se encontrarem e coisas traçadas pra nossas vidas. Mas
claro que o destino não funciona sozinho. Nossas escolhas e atitudes moldam o
que de fato vai acontecer. Todo o dia penso em como sou sortuda por ter feito a
“escolha” que me colocou na vida da Ana, a minha melhor amiga. Somos muito mais
que apenas grandes amigas, somos irmãs por escolha, parceiras na vida.
Antes de conseguir o grande emprego
da minha vida, eu tinha que arrumar um emprego para ter experiência. Mesmo sem
muita animação, eu me candidatei a uma vaga numa empresa que eu sabia que não
era muito boa. Mas assim é a vida... Fui contratada. Quem eu encontro lá,
também recém contratada? Ana, claro. O mais estranho é que já nos conhecíamos há
alguns anos, mas nunca tínhamos parado pra conversar. O trabalho nos aproximou.
E ela também esperava estar em um trabalho diferente. Naquele momento achávamos
uma coincidência. Mesmo tendo a mesma profissão, ainda pensávamos em apenas uma
coincidência. Não era... Então o trabalho ficou melhor. Tudo com a minha amiga
é muito melhor.
Mas não posso falar que a amizade
começou com um dia. De fato, no mesmo dia em que nos encontramos já começamos a
conversar bastante. Aos poucos nos reconhecemos, criamos laços, descobrimos
muita coisa em comum (muita coisa mesmo! É de assustar ou agradecer.). Um tempo
depois, que eu nem sei dizer quanto, nós éramos as melhores amigas. Fazíamos muitas
coisas juntas (coisas que não demandavam sair muito de casa, porque somos muito
caseiras.), conversávamos sobre qualquer coisa. Sempre tivemos essa liberdade,
de poder falar as maiores loucuras uma com a outra sem receber criticas.
Estar com a Ana é me encontrar. Digo
isso porque além de sermos muito parecidas, a liberdade que uma tem com a outra
permite que eu seja o tempo todo eu mesma. Por mais que eu me mostre para
outras pessoas, seja sempre sincera sobre quem sou eu, ás vezes é difícil de me
soltar, de deixar transparecer principalmente os meus defeitos. E às vezes eu
acho que a minha parceira me conhece melhor que eu mesma. Ela conhece as minhas
“caras” de satisfação, insatisfação, nojo, tristeza, raiva... Ela simplesmente
me conhece, me entende e respeita as minhas “fases/faces”. A maioria das
pessoas não costuma ter muita paciência. Felizmente eu tenho a Ana em minha
vida. Posso começar o dia muito feliz e terminá-lo super estressada. Isso não
acontece sempre, mas costuma acontecer. E ela, como sempre, entende essa minha
rotineira mudança de humor. Sei que é irritante e já melhorei bastante, muito
mesmo. Tudo isso graças aos “puxões de orelha” da minha corajosa amiga.
-
Você está fazendo aquela cara de nojo, Agatha. Para com isso! As pessoas não
vão entender. – Ana me cutuca e eu dou uma risada.
-
Eu queria poder ver essa “cara”. Deve ser engraçado. Mas não sei controlar. E a
culpa é desses caras falando coisas idiotas. – Digo baixinho para a minha
amiga.
Esse dia foi horrível, engraçado,
uma confusão. Ana e eu, mais uma vez tínhamos outra coisa em comum. Dificuldade
pra arrumar encontros decentes. Por sairmos pouco, não nos socializávamos com muitos
homens e quando isso acontecia a nossa timidez atrapalhava. Mas às vezes marcávamos
alguns encontros, e a maioria das vezes era encontro duplo. Como esse aí, que
os nossos pretendentes eram bem idiotas. Eu estava segurando o meu
descontentamento e o sono. Ficamos algumas horas escutando eles falarem sobre
como eram interessantes. E eles estavam muito longe de serem interessantes.
Aquele dia parecia perdido. Mas no final foi interessante. Conseguimos sumir de
perto dos “pretendentes”. Felizmente o bar estava cheio. E quando chegamos a
uma distância boa deles, pude relaxar e rir bastante. Essas coisas sempre
aconteciam com nós. Depois de alguns minutos, dois homens nos abordaram. Estávamos
cansadas e não esperávamos mais nada daquele dia. Eu já não escondia o meu
cansaço e a Ana não brigou comigo por não estar com a “cara boa”, porque a dela
também não estava.
-
Sei que você já está cansada, por isso quero só o número do seu celular. – Dei um
sorriso, porque não esperava por aquilo e estranhamente senti uma coisa forte
no meu peito ao conversar com aquele homem. – Ah, e meu amigo também quer o
número da sua amiga.
Não estendemos muito a conversa. Os
quatro estavam cansados. Mas aqueles minutos foram os melhores minutos de toda
a noite. Dias depois, um novo encontro duplo. Encontros duplos nos deixavam
mais a vontade e relaxadas. Depois do primeiro encontros, houve um segundo, um
terceiro, um quarto... Vários encontros. Júlio e Hugo, esses são os nomes dos
homens das nossas vidas. O amor surgiu para as duas ao mesmo tempo. Seria mais
uma coincidência? Começamos a duvidar. Mas, na verdade, não importa muito
definir. Viver é o que importa e saber o valor da nossa amizade. Dois anos
depois daquele encontro duplo (que finalmente deu certo) eu estava me casando
com o Júlio, o amor da minha vida. Um mês e meio depois do meu casamento, Ana
se casou com o Hugo.
Eu amo a minha Ana, a minha amiga, a
minha irmã e parceira. Sei que cada escolha que fizemos, muitas vezes horríveis
(como aquele encontro com aqueles homens idiotas), ajudou para que hoje estivéssemos
mais fortes do que nunca. Cada minuto vivido juntas, cada atitude boa e ruim,
contribuiu para o que hoje chamamos de “destino”. É maravilhoso ter alguém em
quem confiamos, que nos entende, nos respeita e apóia. E melhor ainda quando
todos os sentimentos são recíprocos. Amamos-nos demais e cada dia é uma nova
prova da nossa grande amizade. Quem dera se todos encontrassem a sua parceira.
O mundo seria melhor. Porque o amor nos deixa melhores. Ao lado da Ana
encontrei meu outro amor, o Júlio. E ao meu lado a Ana encontrou o seu outro
amor, o Hugo. E há um ano, mais uma vez juntas, conhecemos os nossos novos
amores.
-
Minha afilhada, Maria, está maravilhada. É muito parecida com a mãe mesmo.
Adora algodão doce. – Ana me tira dos meus pensamentos. Sorrio com a felicidade
atravessada em meu coração.
-
E o meu afilhado, David, está cada dia mais parecido com a mãe, louco pela
piscina de bolinhas. Não adianta negar, sabemos que você está doida pra brincar
junto. – Abraço a minha amiga. – Vamos lá! Eu também quero brincar com eles. O
aniversário dos dois está lindo.