Relato pessoal: o
coração é quem manda
Que ano! Que 2021 atropelante e
delirante! Não sei como conseguimos. Sinceramente, é difícil olhar pra trás e
ver tudo o que aconteceu, no mundo e também na minha vida particular. Já
adianto, hoje escrevo inteiramente e apenas com o olhar de Francielle.
Normalmente, em um texto, ou quase todos, um detalhe, uma sensação, um
sentimento, ou até mesmo uma breve experiência, passam por mim. É difícil não
me colocar aqui. No entanto, hoje é tudo sobre como eu me sinto. Todas as
palavras são apenas minhas e não de um personagem. Pois bem, lá vamos nós. É
tão difícil começar, mal sei por onde começar. Geralmente, não me faltam
palavras e nem sentimentos. Mas hoje elas me atropelam. Há tanto o que dizer,
há tanto o que sentir. E assim foi o meu ano: dias e mais dias de excesso de
palavras e sentimentos. Isso não quer dizer que todas as palavras foram ditas e
que todos os sentimentos foram compartilhados. Muito pelo contrário, houve momentos
em que eu me guardei. Mas me guardei bem menos do que de costume e isso se deve
ao fato do ano já ter começado agitado. Final de janeiro, COVID-19, sensações
das mais diversas, uma angustia dilacerante. Nunca pensei tanto em morrer e no
meu medo de que tudo acabasse ali. Graças a Deus, não acabou. Senti as sequelas,
um cansaço fora do normal, perda de memória e ansiedade ampliada. Na verdade,
esta última me acompanha até hoje. Não tem sido fácil. Não tem sido fácil pra
ninguém. A parte boa é que eu tive acesso e oportunidade de monitorar essas
sequelas, o que me ajudou. Mas as sensações, a angustia, ainda me acompanham.
Como disse, tem sido uma tarefa complicada viver um ano tão intenso. O desejo
número um hoje é que daqui pra frente seja mais tranquilo para todos.
Pós covid, toda aquela ideia de que
a minha vida poderia acabar a qualquer momento, me fez analisar o que eu tenho
feito dos meus dias, como eu tenho vivido as experiências e as relações com os
demais seres humanos. Nunca senti tanta vontade de me sentir viva, de fazer o
dia valer a pena. Fiquei ansiosa para que algo acontecesse logo. O “algo” eu
nunca soube dizer o que é. Acho que deve ser mais de uma coisa, porque eu
queria, e ainda quero, ver todos os campos da minha vida se desenvolverem. No
entanto, aos poucos percebi que não é bem assim. Não dá pra atropelar os
processos e forçar algo a acontecer. Me forcei a viver experiências que nem
sempre me agradaram, tudo isso pra me sentir “viva”. Conheci pessoas, me
surpreendi com pessoas e comigo mesma. E como me surpreendi comigo. Em outros
momentos, não foi tão surpreendente assim, afinal, convivo comigo há vinte e
oito anos e não tem como eu mudar por completo em alguns meses. Isso não vai
acontecer, por mais que eu tenha necessidade de mudança. Gosto de mim, gosto de
quem me tornei, de como eu sinto. Mesmo que às vezes eu acabe parecendo
inocente demais, eu não quero ser outra. Quero ser eu mesma, com palavras e
sentimentos em excesso. Quero ser essa imensidão de coração e sensações. Pode
parecer besteira, nem todos vão entender, mas acreditar no melhor do outro nem
sempre é ruim. Muitas vezes nos dá a oportunidade de tentar e lutar por alguém
que estava apenas numa fase ruim. No entanto, isso não quer dizer que vou
fechar os olhos para as maldades e nem vou me tornar centro de reabilitação.
Para tudo nesta vida há um limite. E eu acho que sei o meu. Estou tentando ficar
num limite saudável, onde eu não me desgaste e nem me magoe demais. É uma luta
diária, um aprendizado constante. Não é simples.
Para alguém que acredita no amor e
nas histórias inspiradoras e incríveis, me meti em situações que passavam longe
daquilo que acredito. Mas a vida é assim, nem sempre vamos enxergar a situação
como ela é no momento em que está acontecendo. Por mais que os amigos tentem
nos alertar, a emoção toma conta e não enxergamos o que pode ser óbvio. Mas não
me arrependo. É algo que eu decidi transformar em uma meta: não me arrepender.
Eu posso reclamar, me lamentar, mas não vou me arrepender. Porque não adianta.
O arrependimento ainda não tem o poder de mudar o passado. Os erros, as más
experiências, servem de aprendizado, é o que dizem. Aprender é difícil e não é
nada romântico. Os erros doem, magoam e até nos traumatizam. Mais uma vez eu
luto para aprender e tirar o melhor de algumas situações. Tenho conseguido? Não
sei. Sinceramente, ando vivendo meses intensos, que nem sempre é fácil parar e
olhar se eu tenho aproveitado a experiência para evitar repetir os erros. E
também dá medo da resposta.
Uma
coisa que eu posso dizer é que agora sei exatamente o que não quero em minha
vida. Foi um ano que me sugou de diversas formas, seja por situações externas,
internas, pessoas ou acontecimentos. Mas eu consegui parar por um instante e
perceber o que eu não quero lidar, quem eu não quero para a minha vida.
Primeiro, para uma romântica, eu não quero pessoas que sintam pouco ou que
tenham medo de sentir e se expor. Porque viver é uma eterna exposição. Viver é
encarar as diversas possibilidades e lidar com as consequências de suas
escolhas. Viver é uma sequência de acertos e erros, mas, acima de tudo,
tentativas. Claro que ninguém quer se jogar no incerto e sofrer. Se tratando do
coração, dói demais quando eu erro e quando o outro erra. Mas não dá pra se
limitar por medo. Afinal, você pode perder pessoas e experiências incríveis por
medo. Por isso, eu tenho me arriscado, mesmo com medo de ser inocente e fazer
papel de boba. Eu também não quero ser apenas uma figura de mais um joguinho.
Não quero ser apenas mais uma na vida do outro, e não digo apenas nas relações
amorosas. A ideia de ser alguém que o outro trata como uma pessoa qualquer, que
faz parte do seu jogo de desinteresse, me deixa totalmente aflita. Saber que
alguém está disponível, mas que prefere alimentar a ausência para me deixar interessada
ou fazer eu sentir falta, é uma das piores coisas que pode me acontecer. Quero
ficar longe de pessoas assim, que o ego é sempre prioridade e se expor é um sacrifício
do qual eu não valho a pena. Eu quero valer a pena, quero ser prioridade, quero
me sentir especial. Quem não quer? Então, se eu sentir que não existe o mínimo,
eu perderei o interesse e, consequentemente, irei me afastar.
No
final, aqui não cabem tantas palavras e tantos sentimentos. 2021 passou
depressa, mas foi enorme em situações e sensações. Parece que fui atropelada
por tantas situações. Nunca me imaginei vivendo o que vivi com tamanha
intensidade. Nunca me imaginei gostando de coisas que não gostava. Já se viu
ficar uma hora e meio numa ligação? Eu odiava só de pensar. Então me vi nessas ligações
e me vi não odiando. Na verdade, eu me peguei desejando tais ligações. Num mundo
tão egoísta, onde as necessidades do outro nem sempre são levadas em
consideração, saber que tem alguém que tira um tempo pra falar só com você,
transforma seu dia. Parece besteira, mas faz eu me sentir especial. Ah, eu
descobri que também não gosto de ser ignorada. É engraçado pensar nisso, porque
eu não era assim. Eu sempre fui o suficiente pra mim e ainda sou. Mas a partir
do momento em que alguém entra em minha vida e eu escolho compartilhar a minha
rotina com a pessoa, eu espero o mesmo dela.
E
assim foi esse ano louco, que quase nos engoliu, das mais diversas formas.
Tantos acontecimentos ruins, decepcionantes, que deram raiva, que nos fez
questionar quem é o ser humano, como podem existir pessoas tão ruins. Um ano
com excesso de injustiças, com excesso de absurdos. Um ano que me fez pensar,
chorar, reclamar, questionar, chorar de novo e, apesar de tudo e tanto, sorrir
e agradecer. Estou viva. Graças a Deus estou viva. Continuo com decepções,
tristezas, ansiedades, receios, medos, esperas e excesso de reclamações. E vou
continuar reclamando, chorando, agradecendo e, se Deus quiser, sorrindo também.
E o que eu espero, com todo o meu mole e sensível coração, é que 2022 seja mais
leve e justo para todos. Que o próximo ano seja mais fácil e com mais momentos
de sorrisos e encontros.