segunda-feira, 13 de março de 2017

De chocolate

Ele sempre soube dos meus maiores gostos, dos meus maiores medos, dos meus maiores defeitos. Ele me conhecia como ninguém. A convivência nos trouxe intimidade, amor, cumplicidade e entendimento. Ele me amava como ninguém. Estar com ele era como estar no paraíso. Ele sabia dar os melhores conselhos e as melhores broncas. Ele me respeitava como ninguém. Com ele eu podia me abrir, chorar, gritar, reclamar, agradecer. Com ele eu podia ser eu mesma. Ele me escutava como ninguém. Ele pagava a conta, eu pagava a conta, nós dividíamos a conta. Ele era leal como ninguém. Nós crescemos, nós mudamos, nós dividimos muitas coisas, nós fomos muito unidos.
Meu nome é Clarice e eu sempre amei o Maurício. Amor de infância, amor de adolescência, amor de jovens. A verdade é que sempre nos amamos. Crescemos no mesmo bairro, estudamos juntos, fizemos muitas coisas juntos. Antes de tudo fomos amigos. De amigos para namorados. As pessoas diziam que estávamos loucos, que não era possível que um “namorinho de infância” durasse muitos anos, que o “mundo” iria nos separar. Nós dizíamos que era amor, um amor doce como chocolate. E realmente era amor. Não nos imaginávamos longe um do outro. Queríamos conhecer o mundo na companhia um do outro. E assim fizemos. Viajamos juntos, criamos memórias juntos. Mas chegou um momento que a separação era necessária.
Formamos na faculdade. Ganhei um curso de aperfeiçoamento em outra cidade. Seis meses longe do meu amor de chocolate. Eu não ia conseguir, ia ficar com saudades. Ele me incentivou, animei. Grandes meses, grandes experiências. Ele estava certo. Voltei. O amor era o mesmo, talvez só um pouco mais intenso devido à saudade. Que delícia matar a saudade. O meu amor continuava me incentivando, me apoiando. E eu o incentivava. Nós éramos amigos antes de tudo e queríamos o bem um do outro. Mais viagens juntos, mais memórias. Era bom demais estar com o meu amor. O meu Maurício.
Namorar o Maurício era como viver no paraíso. Ele era o amor da minha vida. Sempre enxergamos um futuro juntos. Até que aconteceu a vida... Surpresas, mudanças, novas oportunidades. Eu sabia do talento do meu amor, do seu esforço. Ele queria fazer diferença no mundo. Ele sempre fez diferença no meu mundo. Mas ainda tem o mundo das outras pessoas. Eu o entendia. A oportunidade chegou pra ele. Dois anos fazendo pesquisas fora do país. Pensei em ir junto? Claro. Poderia segui-lo para qualquer lugar. Mas não devia, não era o momento. Eu tinha acabado de conseguir um novo emprego. O emprego dos meus sonhos. O meu amor de chocolate também era o meu sonho. Vivíamos um sonho juntos. Mas era inevitável. Eu tinha que apoiá-lo. Aguentamos seis meses. Poderíamos aguentar dois anos.
Foi difícil, muito difícil. Os primeiros meses foram tranquilos, porque já experimentamos isso antes. Mas depois a saudade pesou. Ele vivia fora de contato. Brigamos, brigamos, como nunca havia acontecido antes. Eu não queria sair, não queria mais nada. Que saudades do meu amor. Mais brigas... Pensamos em acabar com essa relação... Não conseguimos. Já vivemos tantas coisas. Nos amávamos demais. Criamos força e mais força. O amor era maior. Iríamos conseguir...
E conseguimos. Ele voltou. Brigamos de novo. Nos reconciliamos, nos amamos como nunca tínhamos nos amado. Choramos juntos, agradecemos juntos. Ele voltou com ótimas pesquisas, ótimos trabalhos. Que orgulho! Propostas e mais propostas de empregos. Estávamos vivendo cada um o seu sonho. E agora poderíamos viver juntos o sonho de amor.
Antes de tudo fomos amigos. De amigos para namorados. De namorados para noivos. De noivos para casados. E de casados para eternos amantes. As pessoas diziam que estávamos loucos, que o “mundo” iria nos separar. O mundo nos deixou mais fortes. Hoje nós reafirmamos que é amor. Um amor de chocolate.


Nenhum comentário:

Postar um comentário