De chocolate
Ele
sempre soube dos meus maiores gostos, dos meus maiores medos, dos meus maiores
defeitos. Ele me conhecia como ninguém. A convivência nos trouxe intimidade,
amor, cumplicidade e entendimento. Ele me amava como ninguém. Estar com ele era
como estar no paraíso. Ele sabia dar os melhores conselhos e as melhores
broncas. Ele me respeitava como ninguém. Com ele eu podia me abrir, chorar,
gritar, reclamar, agradecer. Com ele eu podia ser eu mesma. Ele me escutava
como ninguém. Ele pagava a conta, eu pagava a conta, nós dividíamos a conta.
Ele era leal como ninguém. Nós crescemos, nós mudamos, nós dividimos muitas
coisas, nós fomos muito unidos.
Meu
nome é Clarice e eu sempre amei o Maurício. Amor de infância, amor de
adolescência, amor de jovens. A verdade é que sempre nos amamos. Crescemos no
mesmo bairro, estudamos juntos, fizemos muitas coisas juntos. Antes de tudo
fomos amigos. De amigos para namorados. As pessoas diziam que estávamos loucos,
que não era possível que um “namorinho de infância” durasse muitos anos, que o
“mundo” iria nos separar. Nós dizíamos que era amor, um amor doce como
chocolate. E realmente era amor. Não nos imaginávamos longe um do outro.
Queríamos conhecer o mundo na companhia um do outro. E assim fizemos. Viajamos
juntos, criamos memórias juntos. Mas chegou um momento que a separação era
necessária.
Formamos
na faculdade. Ganhei um curso de aperfeiçoamento em outra cidade. Seis meses
longe do meu amor de chocolate. Eu não ia conseguir, ia ficar com saudades. Ele
me incentivou, animei. Grandes meses, grandes experiências. Ele estava certo.
Voltei. O amor era o mesmo, talvez só um pouco mais intenso devido à saudade.
Que delícia matar a saudade. O meu amor continuava me incentivando, me
apoiando. E eu o incentivava. Nós éramos amigos antes de tudo e queríamos o bem
um do outro. Mais viagens juntos, mais memórias. Era bom demais estar com o meu
amor. O meu Maurício.
Namorar
o Maurício era como viver no paraíso. Ele era o amor da minha vida. Sempre
enxergamos um futuro juntos. Até que aconteceu a vida... Surpresas, mudanças,
novas oportunidades. Eu sabia do talento do meu amor, do seu esforço. Ele
queria fazer diferença no mundo. Ele sempre fez diferença no meu mundo. Mas
ainda tem o mundo das outras pessoas. Eu o entendia. A oportunidade chegou pra
ele. Dois anos fazendo pesquisas fora do país. Pensei em ir junto? Claro.
Poderia segui-lo para qualquer lugar. Mas não devia, não era o momento. Eu
tinha acabado de conseguir um novo emprego. O emprego dos meus sonhos. O meu
amor de chocolate também era o meu sonho. Vivíamos um sonho juntos. Mas era
inevitável. Eu tinha que apoiá-lo. Aguentamos seis meses. Poderíamos aguentar
dois anos.
Foi
difícil, muito difícil. Os primeiros meses foram tranquilos, porque já
experimentamos isso antes. Mas depois a saudade pesou. Ele vivia fora de
contato. Brigamos, brigamos, como nunca havia acontecido antes. Eu não queria
sair, não queria mais nada. Que saudades do meu amor. Mais brigas... Pensamos
em acabar com essa relação... Não conseguimos. Já vivemos tantas coisas. Nos
amávamos demais. Criamos força e mais força. O amor era maior. Iríamos
conseguir...
E
conseguimos. Ele voltou. Brigamos de novo. Nos reconciliamos, nos amamos como
nunca tínhamos nos amado. Choramos juntos, agradecemos juntos. Ele voltou com
ótimas pesquisas, ótimos trabalhos. Que orgulho! Propostas e mais propostas de
empregos. Estávamos vivendo cada um o seu sonho. E agora poderíamos viver
juntos o sonho de amor.
Antes
de tudo fomos amigos. De amigos para namorados. De namorados para noivos. De
noivos para casados. E de casados para eternos amantes. As pessoas diziam que
estávamos loucos, que o “mundo” iria nos separar. O mundo nos deixou mais
fortes. Hoje nós reafirmamos que é amor. Um amor de chocolate.
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