segunda-feira, 27 de março de 2017

Apolo

Durante toda minha vida nunca acreditei em amor à primeira vista, achava isso uma bobeira de adolescente. Sempre fui uma pessoa prática, e sempre evitei deixar que apenas um único encontro me deixasse alucinada por alguém. Em todos os meus relacionamentos o amor só veio à medida que conhecia melhor meus parceiros. Nunca olhei para um cara pela primeira vez e me senti completamente enfeitiçada por ele. Exceto em minhas últimas férias.
Depois de trabalhar um ano e meio sem férias, estava ansiosa por meus merecidos dias de descanso, principalmente por meus dias em Maragogi. Eu e minha amiga Melissa, mesmo trabalhando em empresas diferentes, sempre tiramos férias no mesmo período, pois assim conseguimos viajar juntas. Geralmente tentamos ir a um lugar que ainda não conhecemos, principalmente dentro do Brasil e da América do Sul. Em nossas últimas férias conhecemos Santiago, no Chile, e demos um pulinho em Cabo Frio, porque férias de mineiro têm que ter praia. Assim que colocamos nossos pés em Belo Horizonte, nossa linda cidade, decidimos que nosso próximo destino de férias seria Maragogi. Passaríamos o verão seguinte naquele paraíso. E claro que passamos o último ano planejando como seria a viagem, até conseguimos um ótimo pacote para um resort em um site de compras coletivas.
Quando chegamos a aquela vila tão charmosa imaginei que passaria ali uma semana de descanso e tranqüilidade, apenas aproveitando o mar, tomando água de coco e conhecendo o melhor da gastronomia alagoana. Mas não dá para ser assim quando você conhece nesse lugar alguém que vira sua vida do avesso. Como chegamos à cidade no início da noite, depois de um exaustivo dia dentro de aeronaves, aeroportos e carros, decidimos apenas jantar e dormir. Na manhã seguinte tomamos café e nos sentamos em espreguiçadeiras que estavam dispostas na areia da praia, e foi ali que vi meu Deus Grego pela primeira vez.
Sim, um Deus Grego. Alto, moreno, forte e com um corpo sarado, não tinha como um homem daquele passar despercebido. Nunca tive um perfil físico definido para homens, já me envolvi com louros, morenos e negros, mas aquele era diferente. Estava acompanhado de uma senhora e uma moça, ambas muito bonitas. Comecei a me perguntar se aquela seria a esposa dele, mas no momento em que nossos olhares se encontraram e ele exibiu um sorriso perfeito, perdi completamente qualquer linha de raciocínio. Heitor era estonteantemente lindo, mas sem dúvidas o que mais me encantou foi seu sorriso maravilhoso. Tentei desviar o olhar dele e tentar me concentrar no monte de coisas que Melissa me falava, mas eu simplesmente não entendia uma única palavra que minha amiga dizia. O que estava acontecendo comigo? O que havia acontecido com a Lorena de sempre, que jamais perdia a linha de raciocínio por causa de um homem? Principalmente um homem que ela acabara de ver pela primeira vez.
Não demorou muito para que aquele estranho viesse se sentar na espreguiçadeira ao meu lado. Pediu licença e, como se lesse meus pensamentos, começou a puxar assunto comigo. Contou que estava ali passeando com a mãe e a irmã, e que se chamava Heitor. Senti um súbito alívio ao ouvir que a jovem bonita que o acompanhava era sua irmã. Ficou sentado ali por umas duas horas, tentando puxar assunto comigo, mas simplesmente parecia que um gato havia comido minha língua. Ao se despedir pediu meu telefone e me garantiu que me ligaria para combinarmos de sair à noite. Passei o resto do dia com o telefone na mão esperando ele tocar, e quando ele tocou senti que meu coração iria sair pela boca.
Heitor me levou para jantar em um restaurante super aconchegante a beira mar, dessa vez consegui mostrar meu lado falante. Conversamos bastante, e a cada palavra proferida por meu deus grego, eu ficava mais encantada por ele, mais eu queria conhecê-lo melhor. Ele me contou que havia trago a mãe para descansar uns dias após terminar sua batalha de dois anos contra um câncer no útero. Meu coração se partiu quando me contou que é gaúcho de Bento Gonçalves, e que trabalhava como fisioterapeuta em uma UTI de um hospital em Porto Alegre. Partiu meu coração saber que ele morava tão longe de mim. Ao mesmo tempo ficava imaginando aquele homem perfeito em um jaleco branco, deveria ficar ainda mais lindo.
Nossa conversa transcorreu de forma tão tranqüila que nem percebemos o tempo passar. Ao chegarmos no hotel pensei que nossa noite havia acabado, mas Heitor me surpreendeu com um beijo tão envolvente, tão gostoso. Acabei por aceitar seu convite para passar o dia seguinte em sua companhia, mesmo sabendo que Melissa ficaria furiosa comigo. Eu não poderia recusar, não depois daquele beijo cheio de promessas que meu coração tanto gostou. Sabia que estava me enfiando numa cilada sem volta, já que vivíamos em lugares tão distantes, mas meu coração estava implorando para eu entrar nessa cilada, meu coração implorava pela proximidade dele.
O dia seguinte foi ainda melhor, Saímos cedo para conhecermos outras praias das redondezas. Entre um assunto e outro Heitor ia me revelando mais detalhes de sua vida, de seu dia a dia. E foi numa dessas conversas que me revelou o desejo de se mudar de Porto Alegre, que até recebeu uma excelente proposta para trabalhar em SP, mas que recusou por coincidir exatamente com o período em que sua mãe iniciou o tratamento contra o câncer. Ao ouvir isso uma pontinha de esperança invadiu meu coração. Quem sabe num futuro próximo ele se mudasse para SP, ou até mesmo para BH?! Eu estava ficando louca, havia trocado apenas alguns beijos com aquele lindo gaúcho e já estava imaginando um futuro com ele. Aquela não era eu! Loucura ou não, a certeza que eu tinha no momento é que queria aquele homem pra mim.
A partir daquele dia não nos desgrudamos mais, estávamos o tempo todo juntos. A cada minuto que eu passava ao seu lado, mais envolvida ficava, e foi então que percebi que meu Apolo, meu deus grego da beleza, havia feito aquilo que eu considerava impossível... Eu mal o conhecia e estava completamente apaixonada. E o sentimento era recíproco por parte de Heitor. Em cada gesto ele fazia questão de deixar isso bem claro, que também estava apaixonado por mim. Passamos juntos os poucos dias que nos restava naquele paraíso. Ainda bem que Melissa também havia arrumado um boy, caso contrário teria me matado por tê-la deixada sozinha.
Quando enfim chegou o dia da partida de Heitor meu coração estava desolado. Como eu poderia deixar aquele homem partir para longe de mim depois de dias maravilhosos ao seu lado? Como meu coração agüentaria ficar longe do coração dele? Eu nunca havia me apaixonado assim por alguém, nem mesmo meu namorado de dois anos me despertou algo tão intenso, e agora que enfim me apaixonara tão profundamente teria que aprender a viver longe do meu Apolo. Não sabia como seria nosso relacionamento dali pra frente, não sabia como nossos corações se portariam estando tão longes um do outro. A única certeza que eu tinha é que estávamos dispostos a enfrentar tudo para ficarmos juntos, mesmo que nosso maior desafio fosse mais de 1.700 km de distância. 

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