Socialmente
“Ele te quer loucamente”, Cintia disse à sua amiga Heloísa depois que ela contou que novamente conversou com o boy que estava afim. “Não, claro que não. Ele não me quer... Talvez ele queira me dar uns pegas. Ele me quer socialmente”, Helô falou e deu algumas gargalhadas. No entanto, a fala que, aparentemente, era uma brincadeira a fez pensar em como as coisas realmente caminharam com o Gabriel. Ela o quis por muito tempo, mas hoje se encontra naquela fase de sentir raiva das suas atitudes. Após passar pelas inúmeras dúvidas, muitas vezes até atribuindo a si mesma uma culpa desnecessária, Heloísa consegue enxergar a situação com mais clareza e racionalidade. Ela sabe que quando pensou estar exagerando, não era exagero, era apenas a vontade de entender o que a outra pessoa realmente queria. Afinal, ela merecia. Todas as pessoas merecem sinceridade, principalmente, quando se trata do coração. Ela não queria um namoro, não queria saber cada passo do Gabriel. Heloísa queria apenas saber que não era uma brincadeira e que era levada a sério.
“Acho
que ele pensou que você queria cobrar alguma coisa”, Cintia disse à amiga na
semana em que ela parou de dar tanta atenção para o Gabriel. “Pode ser. Talvez
ele também achasse que eu queria logo um namoro. Besteira! Logo eu que fujo dos
namoros”, respondeu a jovem aos risos. Já hoje ela sabe que realmente não
queria um namoro de imediato, mas também sabe que havia o desejo de caminhar
para um desconhecido que poderia se transformar em namoro. Não seria com um ou
dois encontros, mas no tempo certo, quando eles estivessem à vontade um com o outro. “Eu
posso ter o assustado”, Heloísa pensou e rapidamente ficou com raiva do
pensamento. “Eu só penso besteiras mesmo! Claro que não o assustei. Eu que
deveria ter ficado assustada e saído dessa situação bem antes. Eu sempre odiei
joguinhos e era isso que ele fazia comigo. Eu acho que não merecia isso. Claro
que não merecia”, continuou sua avaliação.
Após
lembrar em como as conversas eram conduzidas, com ele sumindo e demorando uma
eternidade pra responder simples questões, a jovem se jogou na cama e riu
sozinha. “Eu fui mesmo uma besta. Se ele achava que iria aumentar o meu
interesse fazendo esse jogo, se enganou. Mais ou menos, na verdade. Por vezes
fiquei curiosa, querendo saber onde ele estava, o que estava fazendo. Mas me
cansou. Nossa, como me cansou. Não existe coisa melhor do que ter alguém te
dando atenção e dando um jeito de demonstrar que te quer mesmo estando ocupado”,
pensou e sorriu novamente. Heloísa começou a entender o grande segredo das boas
relações, o esforço. Ela sabe que existem momentos em que realmente estamos
ocupados e dias que a vida simplesmente nos engole. Mas isso não acontece 24
horas por dia e 7 dias por semana. Quem te valoriza e quer estar com você,
sempre dá um jeito de fazer funcionar. E não existe nada mais chato e desencantador
do que simplesmente sumir para o outro sentir a sua falta. “Eu não precisava
disso. Não mesmo”, avaliou.
“Querida
Cintia, ele não me quer loucamente. Eu que estava louca por pensar que seria
simples. Agora e desde sempre ele me quer socialmente, quando não tem nada
melhor ou alguém melhor”, a jovem diz do nada e sua amiga arregala os olhos
surpresa. Antes que pudesse responder, Heloísa continuou: “Está tudo bem, agora
está. Não se preocupe. Não me importo mais. Não tanto, pelo menos. Uma hora ou
outra aparece alguém que tenha um ritmo parecido com o meu e que seja simples”.
Cintia dá uma risadinha e diz: “Acho que já pode ter aparecido. Você só precisa
se soltar mais, aí ele também se solta”. Heloísa suspirou, sorriu e finalizou a
conversa: “Eu sei, eu sei. Estou tentando. Estou indo com calma, não quero me
enganar mais uma vez”.
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