segunda-feira, 30 de agosto de 2021

 

Mais do que Eu


Meu coração tem se expandido

O sentimento que tenho aqui é vasto

Forte

E de arrepiar

Suas alegrias me alegram

Suas tristezas me entristecem

Seu sorriso me encanta

O brilho dos seus olhos é de se admirar

Seu beijo é o meu sabor preferido

Mas eu não te amo mais do que eu me amo

 

O amor que por você me faz suspirar

O amor que te dou

É sincero, é forte

É único e emocionante te ter comigo

Sua presença traz cor

Sabor

Poesia

E ardor

Mas eu não te quero mais do que quero a mim mesma


Pode ser confuso

Às vezes enlouquecedor

Mas é com sinceridade quando digo:

“Te quero

Te espero

Te admiro

Te sinto

Te amo”

Mas eu nunca vou

Não vou

Desculpa

Espero que me entenda

Não posso ser sempre inteira pra você ser sem ser pra mim

Eu apenas me amo mais do que amo você

E está tudo bem.

domingo, 22 de agosto de 2021

Aquela gravata

            Eu queria ser mais forte, controlar os meus impulsos e te afastar de mim. Mas então você chega daquele jeito que chegou ontem e acaba com tudo que estava em minha cabeça. Sinceramente, eu não esperava nada. E, sinceramente, estou perdida. Você chegou de surpresa e me espantou totalmente. Claro que eu sei que você possui seus impulsos e já disse que é louco por mim, mas fiquei surpresa de verdade. Parte de mim queria se arrepender, mas foi bom demais. Não tem como negar, ainda sinto o seu cheio em meu corpo e posso sentir o deslizar das suas mãos em minha pele. Estou completamente perdida.

            Mais um domingo desanimado. Nem o céu ensolarado me animava. Lavei meus cabelos longos na parte da manhã, passeei na vizinhança com meu cachorro, fiz um almoço rápido, já que estava sozinha, cochilei a tarde inteira e por fim coloquei minha camisola e fui assistir a um filme. O cochilo me deixou desperta e com pouquíssima fome. Fiz um brigadeiro e liguei o notebook. Pela milésima vez, assisti à “Casa Comigo?” e me diverti como sempre. Lá pela metade do filme me assustei com alguém batendo na campainha. Olhei rápido para o celular e já era quase nove horas. Eu não imaginava quem poderia ser a essa hora. Meus pais estavam viajando e eu não esperava ninguém. Coloquei o robe de seda azul marinho e fui dar uma espiada pela grade do muro.

Eu gelei por completo. Não estava acreditando. Era ele. Num impulso abri o portão. Frente a frente pude compreender melhor aquela presença. Nossa, me tirou do chão por completo. Ele sabia como eu ficava quando colocava um terno. Sempre tive um fraco por ternos. E ele estava um gato e muito charmoso e, pra piorar, me olhava daquele jeito, como se quisesse arrancar toda a minha roupa apenas com os olhos. De repente me toquei que não estava vestida adequadamente. Mas não importava, afinal, ele já tinha me visto daquele jeito algumas vezes. Com o cabelo solto e meio despenteado, eu não sabia o que dizer. Ele me encarava e minha respiração acelerava. 

Num impulso, me aproximei segurei a sua gravata azul. “Boa noite pra você também, senhorita impulsiva”, disse com a voz rouca e extremamente sexy. Minhas pernas bambearam e eu sorri. “Boa noite! A impulsiva sou eu? Onde você estava e porque apareceu aqui?”, questionei ao mesmo tempo em que alisava a gravata. Pude sentir a sua respiração ficar mais rápida. “Eu, eu... Não importa. Só sei que precisava te ver. E pelo jeito você também”, disse e rapidamente me pegou no colo, segurando as minhas coxas e me dando um beijo de tirar o fôlego. “Ei. Não podemos fazer isso aqui. Meus vizinhos vão ver”, falei baixinho. Ele deu uma gargalhada e me levou para dentro de casa em seus braços. Me surpreendi com a rapidez que ele encontrou o sofá. Em poucos instantes estávamos nos beijando intensamente mais uma vez. Suas mãos fortes continuavam deslizando por todo o meu corpo. “Você sabe como eu gosto disso, né?”, disse em seu ouvido. “Eu sei. E você sabe que eu amo esse robe. Mas amo ainda mais tirar ele”, falou e em um segundo eu estava apenas de camisola. “Esperava encontrar você nua”, brincou. “Não seja por isso”, falei e joguei a minha camisola bem longe. 

Aquilo era bom demais, mas não era justo. Eu me virei e puxei a gravata por completo. Abri os botões da camisa e me deparei com o seu peito nu. Irresistivelmente, acabei deslizando a minha língua por ele e logo arranquei também a sua calça. Toda a sua atenção se voltada pra mim. Como eu queria aquele homem e como ele me queria... Eu não sabia de onde vinha tanta atração. E um encontro nunca foi o suficiente, sempre queríamos mais. Naquele momento eu queria muito mais. Sentei em seu colo e ele ficou ainda mais animado. Agarrou uma de minhas coxas e puxou o meu cabelo para dar um beijo em meu pescoço. Sua virilidade encontrou as minhas pernas e eu me contorci. “Tive uma ideia”, disse e dei um pulo. Ele me repreendeu com o olhar e eu ri. 

Quando peguei a gravata ele ficou surpreso. Falei baixinho em seu ouvido para confiar em mim, ele concordou e suspirou intensamente quando coloquei a gravata em meus olhos. “Gosto de te ver, mas agora quero tentar uma coisa. Serei guiada apenas pelo seu cheio”, falei e continuei o percurso em seu peito com os meus lábios. A sensação era única e eu podia sentir perfeitamente a sua empolgação crescer e crescer. Estávamos sem folego. Eu precisava dele mais do que nunca e ele precisava de mim, mas sentir o seu corpo com a minha boca era excitante demais. Após alguns minutos aumentando o nosso tesão, eu puxei a gravata dos meus olhos e deixei que ele me possuísse. A verdade é que nos possuímos. A noite foi longa, foi excitante e só me deixou com vontade de mais. 


sábado, 21 de agosto de 2021

 Apenas um toque


Eu ainda não consegui dormir. O perfume da sua pele e o sabor do seu beijo incendeiam a minha mente e o meu corpo, principalmente. Não sei se serei capaz de dormir nesta noite, ou nas próximas, se você não estiver aqui comigo. A minha respiração está acelerada, todos os cabelos dos meus braços esticam com a intensidade e o frenesi dos meus pensamentos e da memória que eu tenho de você, de nós... Nossa, como o nós sempre foi intenso e único. Apenas um toque e eu me contorcia por inteira, e você sabe exatamente como me deixar assim. Como eu preciso ter essa sensação mais uma vez. Felizmente, e também infelizmente, eu me recordo perfeitamente de cada segundo do nosso último encontro, daquele que foi o melhor, o mais breve, porém o mais ardente. Desde que te vi, naquele dia chuvoso, eu senti que seria único. Sempre foi, você sabe. Os beijos nunca foram iguais, mas sempre foram repletos de paixão e vivacidade. Tudo em nós era vivo. Nós incendiávamos qualquer instante de união, qualquer encontro, por mais breve que fosse. E sempre queríamos mais. E como eu quero. 

Não posso negar que minha mente pede para eu ser racional e ignorar tudo isso, mas meu corpo é insistente. Ele pede por você, mais uma vez, mais uma única vez. A última foi incrível, mas preciso viver aquela sensação novamente. É viciante, estar com você é viciante. Aquele dia, chuva caindo, nós bravos dentro do carro, você tenta me acalmar e parar de pensar besteiras, mas eu não cedo. Você sabe que eu estava certa e eu também sei que você estava certo. Erramos, mas aquela noite não foi um erro. Após um dia intenso, muita chuva, palavras ditas e não ditas, o calor dos nossos corpos iniciou a conexão. Nunca foi fácil estar num mesmo espaço que você por muito tempo. Era questão do silêncio se fazer presente para que o primeiro toque incendiasse todo. E que toque! A lembrança me faz novamente arrepiar. O seu toque é único. Posso senti-lo, mas não o suficiente. Quero senti-lo.  

            Você acariciou levemente o meu rosto, pude sentir por todo o meu corpo. Seus lábios tocaram a minha face à medida que seus dedos deslizaram o meu pescoço e chegaram até o decote generoso das minhas costas. Seus beijos ficaram mais intensos, assim como a minha pulsação. Nos arrepiamos com o encontro de nossos lábios e nos perdemos nas carícias urgentes. Aquela meia-calça, que você tanto gostava, lhe causou um suspiro prazeroso quando você descobriu que ela não estava sozinha. Segurei a risada quando seus dedos apertaram a minha coxa desnuda e parte da cinta-liga preta de renda. Ali foi o estopim para nos perdermos por completo em nossos mais urgentes desejos. A chuva servia como melodia para o frenético encontro que ali acontecia. Quando me dei conta já estava colocando as minhas pernas envolta da sua cintura. Ligeiramente, você apertou a parte de trás da minha coxa e chegou com ansiedade ao meu bumbum. Eu, totalmente exposta e entregue, alisava o seu cabelo e o seu pescoço. Dei um leve grito quando seus lábios encontraram os meus seios. Completamente vulneráveis, mas completamente envolvidos um com o outro.

            Em poucos instantes estávamos despidos, tanto de roupas quanto de qualquer receio ou dúvida. Era apenas dois amantes inteiramente focados no prazer um do outro. Respiração rápida, palavras empolgantes, elogios ao vento, chuva deliciosa, e o êxtase da mais pura luxúria. Não sei dizer em qual momento, mas chegamos às mais diversas sensações naquele espaço limitado. Nossa, como eu gosto daquele carro e do calor que faz quando estamos juntos nele. Que calor! Eu, você, nós éramos puro suor e excitação. Mesmo com a fala entrecortada pela respiração acelerada eu entendi. “Te quero, te quero. Aqui e em qualquer lugar, sempre”, você disse enquanto mordia a ponta de uma das minhas orelhas e alisava os meus seios com uma das mãos. Mas por mais bom e excitante, enlouquecedor até, acabou. E eu não faço ideia se terei isso novamente. Eu sei que eu quero, só não sei se devo. O que tenho certeza é que apenas um toque seu desperta tudo em mim. Apenas um toque e eu estou totalmente entregue. 

 


sexta-feira, 20 de agosto de 2021

 

Não se assuste


Eu sei

O tempo passa diferente pra você

Às vezes o tempo anda diferente pra tantas pessoas

Não tenha medo

Não se prive do agora

Não tenha receios

Não pense no passado

Não pense no futuro

Quando o agora ainda está a ser descoberto

Não se prive

Emoções e sentimentos devem ser vividos

Não se adiante

Eu não quero me adiantar

Eu não espero nada

Não, por enquanto

Afinal, se nos abrirmos não sei o que será o amanhã

Mas não tenha medo

Não espero nada além da sinceridade

Não quero correr pra você

Não quero correr de você

Apenas sinto o aperto de viver na margem

Naquela corda bamba que te deixa sem reação

Então, não

Apenas não

Não se assuste

Não espero nada além da sua boa vontade

Da sinceridade de saber viver

De saber sentir

De saber povoar um novo coração

Não se assuste com o meu jeito

Aos poucos nos acertamos

Não se assuste

É apenas sentir

Ontem não quero saber

Amanhã quem sabe

E hoje se faz necessário

Apenas sinta

Apenas viva

E aproveite

Por que se você não povoar o meu

Eu irei voar

sábado, 14 de agosto de 2021

 

Socialmente


            “Ele te quer loucamente”, Cintia disse à sua amiga Heloísa depois que ela contou que novamente conversou com o boy que estava afim. “Não, claro que não. Ele não me quer... Talvez ele queira me dar uns pegas. Ele me quer socialmente”, Helô falou e deu algumas gargalhadas. No entanto, a fala que, aparentemente, era uma brincadeira a fez pensar em como as coisas realmente caminharam com o Gabriel. Ela o quis por muito tempo, mas hoje se encontra naquela fase de sentir raiva das suas atitudes. Após passar pelas inúmeras dúvidas, muitas vezes até atribuindo a si mesma uma culpa desnecessária, Heloísa consegue enxergar a situação com mais clareza e racionalidade. Ela sabe que quando pensou estar exagerando, não era exagero, era apenas a vontade de entender o que a outra pessoa realmente queria. Afinal, ela merecia. Todas as pessoas merecem sinceridade, principalmente, quando se trata do coração. Ela não queria um namoro, não queria saber cada passo do Gabriel. Heloísa queria apenas saber que não era uma brincadeira e que era levada a sério.

    “Acho que ele pensou que você queria cobrar alguma coisa”, Cintia disse à amiga na semana em que ela parou de dar tanta atenção para o Gabriel. “Pode ser. Talvez ele também achasse que eu queria logo um namoro. Besteira! Logo eu que fujo dos namoros”, respondeu a jovem aos risos. Já hoje ela sabe que realmente não queria um namoro de imediato, mas também sabe que havia o desejo de caminhar para um desconhecido que poderia se transformar em namoro. Não seria com um ou dois encontros, mas no tempo certo, quando eles estivessem à vontade um com o outro. “Eu posso ter o assustado”, Heloísa pensou e rapidamente ficou com raiva do pensamento. “Eu só penso besteiras mesmo! Claro que não o assustei. Eu que deveria ter ficado assustada e saído dessa situação bem antes. Eu sempre odiei joguinhos e era isso que ele fazia comigo. Eu acho que não merecia isso. Claro que não merecia”, continuou sua avaliação.  

  Após lembrar em como as conversas eram conduzidas, com ele sumindo e demorando uma eternidade pra responder simples questões, a jovem se jogou na cama e riu sozinha. “Eu fui mesmo uma besta. Se ele achava que iria aumentar o meu interesse fazendo esse jogo, se enganou. Mais ou menos, na verdade. Por vezes fiquei curiosa, querendo saber onde ele estava, o que estava fazendo. Mas me cansou. Nossa, como me cansou. Não existe coisa melhor do que ter alguém te dando atenção e dando um jeito de demonstrar que te quer mesmo estando ocupado”, pensou e sorriu novamente. Heloísa começou a entender o grande segredo das boas relações, o esforço. Ela sabe que existem momentos em que realmente estamos ocupados e dias que a vida simplesmente nos engole. Mas isso não acontece 24 horas por dia e 7 dias por semana. Quem te valoriza e quer estar com você, sempre dá um jeito de fazer funcionar. E não existe nada mais chato e desencantador do que simplesmente sumir para o outro sentir a sua falta. “Eu não precisava disso. Não mesmo”, avaliou. 

“Querida Cintia, ele não me quer loucamente. Eu que estava louca por pensar que seria simples. Agora e desde sempre ele me quer socialmente, quando não tem nada melhor ou alguém melhor”, a jovem diz do nada e sua amiga arregala os olhos surpresa. Antes que pudesse responder, Heloísa continuou: “Está tudo bem, agora está. Não se preocupe. Não me importo mais. Não tanto, pelo menos. Uma hora ou outra aparece alguém que tenha um ritmo parecido com o meu e que seja simples”. Cintia dá uma risadinha e diz: “Acho que já pode ter aparecido. Você só precisa se soltar mais, aí ele também se solta”. Heloísa suspirou, sorriu e finalizou a conversa: “Eu sei, eu sei. Estou tentando. Estou indo com calma, não quero me enganar mais uma vez”.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

 

A Borboleta


Ao repousar meus braços sobre a janela

Pousou em mim uma linda borboleta

Então pensei: “que sorte!”

Com o pensamento me vieram outros tantos

Se eu tivesse a sorte de ser como ela

Se eu pudesse ser uma borboleta

Transformação, crescimento

Voar pelo mundo

Pousar em estranhos

Iluminar os olhos cansados

Aliviar as mentes tumultuadas

 

Se eu fosse uma linda borboleta

Pelos quatro cantos eu procuraria

Um amor sutil

Um vislumbre do encanto que ele me deixou

Repousaria sobre as flores

Sentiria o perfume das folhas com o balançar do vento

Viveria e incendiaria a minha existência

Um simples casulo

Uma imensidão de beleza

Asas coloridas

Pele quente

Sol, chuva, arco-íris

Se eu fosse uma linda borboleta

Se eu fosse... Te beijaria com as minhas asas.

sábado, 7 de agosto de 2021

 

Meu atleticano


            Lucy sabia que estava pronta para se arriscar mais uma vez, para mais uma vez expor o seu coração e se permitir sentir o inesperado. Ela, inclusive, disse certa vez com a criatura que prefere não recordar o nome: “Meu coração está pronto para machucar outra vez”. Ambos riram, mas no fundo ela sabia, assim como diversas pessoas, que por mais que estejamos neste mundo para sentir, errar, sofrer, aprender e repetir o ciclo, nós nunca estamos completamente prontos para ter o coração partido. E Lucy é uma dessas pessoas. Ela dizia que estava pronta, mas não estava totalmente pronta, tanto que ficou remoendo aquela frustação por vários dias. Pensou, ponderou, se culpou, voltou atrás, pensou mais uma vez... E como aquela cabeça pensa!! Mas aqui está Lucy, jogando o jogo da vida mais uma vez.

            Cansada, Lucy não esperava se arriscar mais uma vez tão rápido. Para alguém que ficou muitíssimo tempo sozinha, apenas curtindo a si mesma, ela acabou em meio a um romance para sacudir a poeira da frustação anterior. Não era algo que procurava, dizia inúmeras vezes. Ela queria sentir, mesmo com a dor e a raiva, ela queria sentir aquela decepção. Por ser breve, foi menos intenso do que poderia ser, felizmente. Mas mesmo assim deu pra sentir e tocar de alguma forma o seu sensível e romântico coração. No entanto, quando menos esperava e procurava, esbarrou com um novo ciclo, um novo capítulo neste intenso jogo da vida. Contrariando tudo que um dia esperou, Lucy se encantou por um atleticano, o terror de qualquer cruzeirense apaixonada.

            Afinal, ela mesma dizia: “Estamos nesta vida para amar, ser amada sofrer, arrancar os cabelos, e amar e ser amada novamente”. Só que ela não esperava se encantar tanto por um atleticano. Logo um atleticano? Parecia pegadinha, pensava. Filha de um homem super apaixonado pelo Cruzeiro, Lucy seguiu os passos do pai e nutri desde pequenina o amor pelo time celeste. Quando descobriu que a paixão do seu novo pretendente pelo time rival era tão intensa quanto a sua paixão pelo seu time do coração, a jovem pensou em desistir deste novo ciclo e pular fora antes que ficasse mais sério. No entanto, ela não teve força. Quando olhou para aqueles olhos redondos e intensos, teve a certeza de que precisava enfrentar essa situação. Ela não sabia se iria acabar sofrendo mais uma vez, mas estava disposta a arriscar o seu coração.

            A criatura que a tinha frustrado disse que não iria magoá-la, que não precisava se preocupar com o seu coração. Mas magoou. Talvez não por querer, mas acabou magoando, pelo menos um pouco. O atleticano não prometeu não a magoar, ele simplesmente disse que tentaria ser sempre sincero com os seus sentimentos. E isso tem feito. Desde o início, ele explicou como se sentia. Disse que não queria apressar nada e seria um dia de cada vez. Tem sido assim. Mas que dias?!! Lucy está entregue mais uma vez. “Estou perdida, estou perdida”, ela pensou depois do terceiro encontro. “Não vou criar expectativas, ele disse para irmos com calma”, continuou pensando. Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, o atleticano sorria enquanto avaliava a noite: “Não sei se consigo ir com calma. Preciso. Não quero nos magoar. Mas já estou totalmente e perdidamente apaixonado por ela. Essa mulher me encanta”. E assim os dias seguiram. Dias sinceros, repletos de beijos, desejo e encanto. 

            O passado não sumiu de um dia para o outro. Não tem como simplesmente apagar o passado. Mas o passado foi perdendo força, espaço e, assim como os sentimentos negativos, os positivos já não ficavam mais em evidência. E assim foi acontecendo o fim de um ciclo, para que o novo se estabelecesse por completo. Lucy, como várias pessoas, tem medo da entrega total. Ela sempre diz estar pronta para viver tudo de novo, sofrer e se expor, mas não é bem assim que funciona. Ela sabe, eu sei, o atleticano sabe, o passado sabe, todos sabem. Por mais disposta que ela esteja, uma decepção, por menor que seja, mexe com o nosso coração. E a romântica Lucy costuma ficar bastante mexida com as sensibilidades da vida. Não quer dizer que vai acontecer. Ela sabe muito bem que o ciclo não precisa ser o mesmo. Por mais que se repita algumas vezes, não precisa ser uma regra. E só pelo fato dela ter aceitado embarcar nessa novamente, ainda mais por um atleticano, já é um super ponto positivo. Esse novo ciclo não precisa ser um ciclo, pode ser apenas um novo capítulo. Lucy sabe e deseja que seja apenas um capítulo, um longo e lindo capítulo. Se vai ser, não cabe aqui. 


 

 

terça-feira, 3 de agosto de 2021

 Mais uma vez


Olha aí, eu!

De novo e de novo

Me aventurando nesse mar de emoções

Nesse mar de dúvidas

Nesse turbulento balanço

Ora ondas calmas, que me acalmam

Ora ondas agitadas, que me lançam em frenesi

Me causa espanto, receio

Mas me causa encanto, êxtase

 

Olha aí, eu!

De novo e de novo

Nesse balanço do coração

Mas um coração novo

Um caminho novo

Um olhar novo

Que me tira do meu ritmo

Que me sacode

Me anima

Me alucina

 

Olha aí, eu!

De novo e de novo

Totalmente exposta

Totalmente entregue

Apenas na espera

Da palavra

Do toque

Do beijo

Que sabor tem?

Não vejo a hora

Que me balance ainda mais

Que me permita como jamais

 

Olha aí, eu!

De novo e de novo

Inerte às sensações

Às dúvidas

Às esperas

E mais uma vez

Mais uma vez

Apaixonada

Totalmente apaixonada pela ideia

Pelo gesto

Pelo cuidado

Pelas palavras

Mais uma vez

Aberta

Incerta

Mais uma vez

Vida

 

domingo, 1 de agosto de 2021

 

Desencontros


            Esta não é uma história em que os personagens tem a certeza que era o destino eles se encontrarem e reencontrarem. Não mesmo. Alicia conheceu Renan por meio da sua prima, que mudou de bairro e, consequentemente, acabou mudando de escola. Dois anos mais novo, Renan estava bem longe do radar da amável e tímida Alicia. Ele não chamou sua atenção quando o conheceu. Na verdade, ela ainda estava encantada pelo antigo vizinho da prima. No entanto, com a mudança, e sem motivos justificáveis para visitar o outro bairro, ela decidiu que era hora de deixar esse amor para trás. O fato é que ela estava mais apaixonada do que ele, que nunca fazia nada para se aproximar e conhecê-la melhor. “Bom, pelo menos aqui você vai conhecer outras pessoas, pode se apaixonar novamente, Lili”, Tatiana disse à prima. “Você é muito engraçadinha, Tati. E eu não quero me apaixonar de novo. Dá muito trabalho”, Alicia respondeu. “Besteira! Aquele cara não merece sua atenção. Você é demais pra ele. Você é linda, inteligente, meiga, um partidão. Quem sabe um dos meus colegas de escola te interesse”, brincou. A jovem desiludida balançou a cabeça e não levou a sério a afirmação. Ela costumava gostar da sua figura refletida no espelho, mas inúmeras vezes duvidou se era bonita o suficiente para chamar a atenção do idiota. “Eles são mais novos!”, ela falou de repente e acrescentou: “Mas não importa, Tati. Não estou procurando uma nova paixão. Eu quero é esquecer aquele cara e focar nos estudos. E você deveria fazer o mesmo”.

No entanto, Tatiana tinha outros planos. Ela já tinha algumas ideias em mente. Depois de muito insistir, ela conseguiu arrastar a prima para a festa de boas-vindas da sua nova escola. A jovem passou a maior parte do tempo no canto, se esquivando de qualquer pessoa, e sempre muito próxima dos seus tios, o que não dava abertura para os garotos se aproximarem. Mas Tati já sabia bem o que fazer. Ela pediu que a prima a acompanhasse ao banheiro e assim deu início ao seu plano. Elas seguiam numa direção bem diferente daquela que realmente deveriam ir. Ao perceber que não estavam na entrada do banheiro, Alicia fechou a cara e olhou daquele jeito incisivo para a prima. “Não me olhe assim. Eu só quero conversar com uma pessoa e preciso que você me apoie. Ah, e caso você goste de algum dos amigos dele, pode conversar também. Não seja tão tímida. Aproveite o momento”, disse e deu uma risadinha. Tatiana saiu andando na frente e entrou na sala de aula para encontrar o rapaz que a esperava.

Alicia se viu numa situação bastante desconfortável. Ela queria sair correndo dali, mas não podia. Tinha que acobertar a prima e aparecer perto dos seus tios sem ela não seria fácil de explicar. Além disso, três amigos do rapaz que a Tatiana estava conversando estavam quase do seu lado, apenas esperando uma abertura dela. Naquele momento, a jovem percebeu que seus rostos não eram desconhecidos. Ela se lembra de vê-los no salão principal a observando, sendo que um deles a encarava ainda mais, com um sorriso bem encantador e malicioso. Alicia respirou fundo e conteve uma risada nervosa. No entanto, o seu semblante suavizou, o que deu a abertura que os rapazes precisavam. Um deles se apresentou, falava rápido e super empolgado. O segundo também se apresentou e começou a fazer elogios a aparência dela. Já o terceiro, que ela descobriu se chamar Renan, apenas disse o seu nome e continuou a encarando daquele jeito que é impossível desviar. Suas pernas tremiam mais que o de costume e ela sentia as bochechas queimarem. Alicia sabia que eles estavam esperando qualquer deixa dela pra saber qual deles poderia conversar particularmente com ela. A ideia a deixou ainda mais nervosa. Não sabia o que fazer. Nem sabia se queria aquilo.  Enquanto isso, Renan não desviava o olhar. Aquela atitude deixou a jovem curiosa. Ela estava doida pra saber o que ele pensava, se pensava nela ou algo do tipo. “Vamos conversar sozinhos, Renan?”, ela disse inesperadamente, deixando os outros dois incrédulos, até porque eles faziam de tudo para prender a atenção dela com palavras exageradas.

“Você demorou demais”, Renan disse e Alicia arregalou os olhos. O rapaz acrescentou: “É isso mesmo. Desde que te vi entrar naquele salão, eu sabia que estaríamos aqui juntos”. A jovem deu uma gargalhada encantadora, deixando o rapaz a sua frente totalmente mexido. “Você só pode estar brincando. Agora só falta falar em destino”, falou. Renan se aproximou, completamente envolvido pela presença da jovem à sua frente, e sussurrou em seus ouvidos: “Destino é besteira. Não existe isso. Existe apenas as nossas ações e as consequências delas. E neste momento, tem apenas uma consequência que me interessa”. Por mais que houvesse muito o que Alicia queria retrucar, não conseguiu, pois a forma que ele disse aquilo a fez estremecer. Era inegável a química entre eles. Era inegável que eles possuíam uma conexão física impressionante. E assim aconteceu o primeiro beijo, com calor, emoção, empolgação, urgência e muita vontade de ambos.

A Tatiana, que acabou vendo aquele primeiro encontro, ficou impressionada, surpresa com a forma que eles se olhavam, conversavam e brincavam. E ela ficou ainda mais surpresa quando sua prima telefonou na semana seguinte, falando que gostaria de sair com ele. E a assim a Tati combinou, já que a ajudava também. Os quatro saíram juntos e o novo encontro foi tão empolgante quanto o primeiro, repleto de entusiasmo, conversas engraçadinhas e beijos urgentes e gostosos. No entanto, o que aconteceu depois foi pra deixar todas as partes perdidas de dúvidas. Eles mantiveram contato nas redes sociais, mas os dias foram passando e passando e eles se distanciaram. Nenhum dos dois sabe explicar o que aconteceu ou o que faltou. Estava claro, para a maioria, que ele era muito afim dela e ela era uma incógnita. Na verdade, ela não sabia. Parte dela ainda doía pela paixão anterior, mas a outra parte gostava de conversar com o Renan. O fato é que ninguém se esforçou para continuar, seja lá o que fosse aquilo.

Oito ano depois, eles ainda não haviam se reencontrado. Eles se viam através das postagens das redes sociais. Sempre curtiam as coisas um do outro, mas nada demais. Sem comentários, sem pistas sobre o que sentiam. Neste tempo, Alicia conheceu algumas pessoas especiais, mas não namorou. Já Renan teve dois relacionamentos, sendo um breve e um bem longo. A jovem não se incomodou ao ver nada. Ela sentia apenas um carinho por ele. Já o rapaz, agora, aparentemente, mais maduro, era uma incógnita quanto a ela. Parecia que para ambos, aquele breve envolvimento ficou completamente no passado. No entanto, bastou se verem brevemente, distante, numa pizzaria, para aquela energia que sentiram naquele primeiro encontro, tomasse conta dos seus pensamentos. Um dia depois Renan enviou uma mensagem, dizendo à Alicia que ela estava ainda mais linda. E a partir daquele momento, eles iniciaram um caloroso bate-papo, com aquela mesma empolgação de antes. E com o passar do tempo, as conversas se tornaram mais frequentes e mais adultas. Havia ainda aquelas piadinhas que os empolgava há oito anos, mas agora também haviam conteúdos mais picantes. Não deu outra, eles combinaram de verem, mesmo em meio aos seus dias super ocupados.

O reencontro não parecia reencontro. Não parecia que o tempo tinha passado, mesmo com as claras mudanças em duas vidas. Eles mantiveram a essencial e a forma leve e empolgada de enxergar o outro. No entanto, Alicia estava mais aberta e achava que já tinha passado da hora de focar em alguém. Não era namorar. Se rolasse, tudo bem. Mas na cabeça dela não existia a palavra namoro. Ela apenas sabia que tinha um carinho pelo Renan e sentia que valia a pena descobrir onde eles poderiam chegar. Não havia pressão da parte dela, nem grandes expectativas. A jovem, agora uma mulher feita e mais madura, mas com aquele mesmo encanto da adolescência, esperava que ele a enxergasse de forma parecida, que não a encarasse como qualquer outra. Ela queria que fosse especial, mesmo sem rotulo. E as conversas, o reencontro, tudo a estimulava, a fazia se sentir especial e pronta para se abrir ainda mais. No entanto, ele ficou estranho. Mesmo com a correria do dia a dia, eles sempre davam a atenção para o outro, mas nos últimos dias ele estava diferente. A dúvida começou a tomar conta daquela mente agitada. Por fim, Alicia não aguentou mais e fez a temida pergunta: “Por que você está estranho? Aconteceu alguma coisa?” Renan não sabia se explicar, as palavras sumiram de sua boca. “Só não estou pronto para me envolver tanto novamente”, disse. Aquela frase bastou para Alicia acreditar que estava no momento errado na vida de alguém que tinha muito carinho. Para evitar o sofrimento, ela se afastou.

Mesmo aceitando que aquilo era o melhor para os dois, Alicia vivia se questionando. Ela questionava suas atitudes e escolhas, as palavras escolhidas. Ela questionava tudo até o dia em que conheceu outra pessoa e gradativamente seus pensamentos mudaram de foco. Para evitar qualquer confusão ou frustação, a jovem decidiu ir devagar. E assim aconteceu. Aos poucos se abria para esse novo alguém especial, recíproco e atencioso. No entanto, uma vez ou outra via uma postagem do Renan que despertava um pensamento confuso. Com o tempo, esses pensamentos diminuíram a frequência, até o dia que ela se abriu ainda mais para a nova paixão. Parecia que tudo estava caminhando bem e a palavra “namoro” retornou a sua mente com tranquilidade. Ela sentia que era questão de mais um ou dois encontros para ele a pedir em namoro.

“Estou com saudades. Você me faz muita falta. Sinto falta dos seus beijos, do seu cheiro delicioso, de tocar a sua pele delicada... Nossa! Não sei mais o que posso dizer. Há tanto que preciso dizer. Mas, primeiro, me desculpe por te afastar da minha vida. Diga que não é tarde. Quero te ver todos os dias da minha vida, Lili. Permita que eu faça parte da sua vida. Volte pra mim”, Renan enviou. A mensagem chega alguns minutos antes da Aliciar para um novo encontro, provavelmente, um encontro decisivo. Além disso, a mensagem chega com três meses de atraso. Um tempo que cai, literalmente, sob os ombros da jovem. Ela se joga no sofá e chora. Não sabe o que dizer. Após ler aquela mensagem, um arrepio forte atravessou o seu corpo e um friozinho cutucou o seu coração. “O que eu faço? Por que agora? Por que, Renan? Parecia tudo tão certo. Por que, meu coração? Por que me deixar assim? Era para ser simples Por que?”, se questionou aos soluços. Ninguém a respondeu, pelo menos, não de imediato.