Nada demais
Às vezes nos pegamos delirantes, sem saber como tirar uma pessoa de
nossa mente e do nosso coração. Quanto mais queremos que sua memória suma, mais
somos pegos recordando palavras, atitudes, qualquer coisa que remeta a pessoa.
E para a romântica Lívia não era diferente. Conheceu o homem que achava ser o
ideal: proferia palavras carinhosas, dava atenção o dia inteiro, adorava
dialogar sobre tudo, se preocupava, se importava. No entanto, o homem
"perfeito" mostrou para o que veio: as palavras se tornaram ácidas, a
atenção era limitada a quando "sobrava" tempo, não havia mais espaço
para diálogo, a preocupação era apenas se existia outro homem por perto e se
importava mais com o que ela usava do que como ela se sentia. Ele, basicamente,
se transformou. Porém, como era esperto e não estava pronto para perder aquela
que sempre se importou de verdade com ele, o homem ainda a elogiava com certa
frequência. Afinal, precisava marcar o território. Depois de muito aguentar
aquela situação desgastante, a jovem se libertou e tirou o Sr. Perfeito de sua
vida. Foi difícil. Só ela sabia como aquilo foi difícil e como doeu. Parecia
que tinham arrancado um pedaço do seu sensível coração. Havia um espaço, um
buraco repleto de muita dor.
Como ela iria curar aquela dor? Como poderia tirar aquele homem dos seus
pensamentos e, principalmente, do seu coração? Essas são perguntas que Lívia se
fazia diariamente. Aquelas dúvidas a consumia, a dor era quase palpável para
aqueles que estavam ao seu redor. Nada a animava, nada parecia lhe dar
esperança. E como ter esperança, quando alguém que tinha toda a sua confiança
te tratava como um lixo, um nada? A vida parecia injusta, suja, feia. O mundo
perdia sua cor e seu sentido. Para ele não era nada demais, mas para a jovem
era tudo. Afinal, eram anos e mais anos admirando os casais e o amor que
emanavam. Eram anos e mais anos sonhando com o dia que cruzaria em seu caminho
alguém com a mente parecida com a dela, com um magnetismo único, que lhe desse
borboletas no estômago. E, de fato, ela pensou ter encontrado a sua pessoa
especial quando viu o Sr. Perfeito. Por muito tempo ele parecia ser aquela
pessoa. Para ela parecia destino. No entanto, com muita dificuldade e dor, ela
percebeu que estava enganada. "Nunca mais me abro para alguém. Amor é uma
ilusão, é coisa de ficção", pensava energicamente e pesarosamente. A
romântica super otimista perdeu o seu brilho e desejou nunca mais se abrir a
ninguém. Para ela o amor estava acabado. E como julgar? Não dá. O amor não pode
ser isso. O amor não é isso.
"Nada demais, Lívia. Você exagera. O que tivemos não foi nada
demais. Não tem motivos para tanta chateação. Nunca te prometi nada", o
Sr. Perfeito disse quando ela ousou, pela primeira vez, se impor. Infelizmente,
aquelas palavras a persegue. Às vezes a jovem ainda ousa em diminuir o valor da
sua dor, colocando a culpa em si mesma. Não, ela não exagerou. Não, ela não viu
coisa onde não tinha. Não, ela não imaginou promessas. E não foi simples. Ele
não prometeu usando o verbo prometer, mas criou toda uma situação que dava
abertura para ela, ou qualquer um, acreditar que havia reciprocidade e
confiança. Ele a fez se abrir e se abriu falsamente. Ele incentivou o seu
carinho e disse tudo o que ela gostaria de ouvir. Ele é o errado. Sua dor e sua
reação não são exageradas. E como superar? Como voltar a ter esperança em algo
tão lindo quando se engana desse jeito? Infelizmente, são perguntas complexas,
que nem Lívia e nem eu temos respostas. A pergunta correta é: quando estarei
pronta para arriscar e tentar mais uma vez? Provavelmente, superar depende
muito da particularidade de cada um. Cada pessoa tem seu tempo e sua
forma de deixar uma história pra trás e seguir em frente. Talvez a questão seja
que quando puder se arriscar novamente e tentar é quando conseguiu afastar
aquela decepção da sua atenção principal. E saber, para o futuro, que a sua dor
não é nada demais. Apenas você é capaz de senti-la, então cabe a você avaliar o
seu valor.
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