quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

 

Palavras ao vento


- Eu te amo! – Ele exclama.

- Besteira! Para de usar um verso tão importante atoa. Você não me ama, Thiago. – Ela se irrita. As lágrimas fazem fila em seus olhos intensos.

- Como você pode falar isso, Liz? Eu te amo sim. Não duvide dos meus sentimentos nunca mais. – Ele parece chateado.

- Duvido sim. Enquanto você continuar na sua zona de conforto eu duvidarei. – A jovem responde e já não suporta mais o peso dos seus olhos marejados. – Você não me ama, Thiago. Você ama saber que tem alguém incondicionalmente ao seu lado. Você ama a ideia de ter alguém sempre esperando por você. Você não me ama como eu te amo. Você não me ama como eu mereço. Porque hoje eu sei que mereço ser amada do jeito que amo você. – As lágrimas percorrem apressadamente o seu rosto vermelho de emoção.

- Não fala assim, Liz. Eu... – Thiago se aproxima e tenta tocar na mulher a sua frente, mas ela se afasta. – O que eu posso dizer pra você tirar essa coisa da cabeça? O que eu preciso dizer para mudar este pensamento injusto? – Ele fala e ela balança a cabeça inconformada.

- Falar? Nada do que você falar agora vai fazer eu parar de duvidar. A questão nunca foi falar. Porque como dizem, “falar, até papagaio fala”. Eu queria que você tivesse a consciência de que é preciso agir. Você precisa demonstrar com atitudes, com ações concretas. Estou cansada desse tanto de palavras ao vento. Palavras bonitas, que quando usadas com naturalidade e acompanhadas de atitudes consistentes, são lindas, são maravilhosas. Mas você só fala, fala, fala. Cansei, Thiago. Eu queria que você se importasse. Eu queria que você me amasse a ponto de agir. Qualquer coisa. Não esperava muito, porque eu sei que cada coisa tem o seu lugar e o seu tempo. Mas, sei lá, há quanto tempo estamos juntos? – A jovem fala e o homem a sua frente tenta argumentar, mas ela o impede. – Não preciso de uma resposta para algo óbvio. Estamos juntos há dez meses e treze dias. Sim, eu sei esses detalhes e não espero que você também saiba. Eu esperava que você soubesse que é preciso mostrar como se importa. É preciso atitude!

- Qual atitude? Eu não entendo.

- Sério? Quem não entende sou eu. É tão simples. Não sei como você deixa passar despercebido. Você não sabe a diferença de quando estou triste e quando estou com raiva. Pra você tudo é mau humor. Mas você, mais do que ninguém, sabe como o trabalho tem sido difícil pra mim. Difícil de verdade e não apenas chato. Eu só queria que você aparecesse de surpresa e me desse um abraço. Só isso. Pra eu sentir que tem alguém ali por mim, do mesmo jeito que eu sei que faço você se sentir.

- Mas...

- Eu queria que você me convidasse pra sair com seus amigos, pra eu conhecê-los de verdade e eles conhecerem a mulher que está ao seu lado. Queria sentir que faço parte da sua rotina e que você sente orgulho de me ter ao seu lado. Isso, e outras coisas, é mostrar que ama e se importa. Eu poderia ficar horas falando, mas você é cabeça dura, não quer entender.

- Mas você é importante pra mim e eu tenho muito orgulho de ter você em minha vida.

- Não é o que parece. Não tem sido o suficiente. Eu mereço mais.

- Você merece um mundo de coisas maravilhosas, Liz. Você é maravilhosa e é demais pra mim. Eu não te mereço.

- Para com isso, Thiago. A questão não é essa. Não sou demais pra você. E neste momento talvez você realmente mão me mereça. Mas já mereceu. Eu quero aquele homem por quem me apaixonei, que avançava devagar, mas avançava. Quando tudo estagnou? Como você perdeu o rumo de quem eu posso ser em sua vida? Não entendo. Você é maravilhoso. Você é um homem repleto de qualidades, alguém que eu sempre sonhei em ter em minha vida. Mas hoje tem esquecido que é preciso ter atitude e mostrar como é esse amor que você diz sentir. Só isso. Não estou pedindo demais. Só preciso sentir, através de suas atitudes, que você realmente me quer em sua vida.

- Você está certa... – E neste momento faltam palavras para Thiago expressar tudo o que está sentindo. Assim como sua amada, ele desaba em lágrimas.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

 

Esse medo


            Um aperto forte invade o peito, esmagando o coração de um jeito doloroso e pesaroso. O órgão mais importante do nosso corpo reclama, tenta gritar, pula, quase sai pela boca. Não existem palavras suficientes para descrever uma emoção tão negativa e sufocante, que paralisa nossos atos e nos impede de seguir grandes e brilhantes caminhos. O medo de dar errado entra em cena e congela o que poderia ser um encontro lindo e único. Eu sei como é difícil. E como sei! Esse sentimento negativo por vezes é incontrolável e toma conta de todas as nossas vontades. E quando se trata do coração, do amor, é tão intenso e ruim. Não há outra forma de explicar. Amar, naturalmente, é um verdadeiro desafio. Quando estamos sentindo coisas gostosinhas no peito, acaba também surgindo aquele medo, o receio de não dar certo e se magoar. Afinal, quem nunca teve uma decepção? Várias, né, seja em qualquer campo da vida.

No entanto, amar é justamente isso, ficar totalmente vulnerável e experimentar o que o outro tem a oferecer e também doar um pouco de si mesmo. É compartilhar momentos, experiências, sensações e vulnerabilidades. Amar é viver um calor esmagador, delirante e delicioso. Amar é ficar exposto e se permitir viver no coração alheio, além de doar um espaço do seu próprio coração para o outro. Amor é reciprocidade. Porém e infelizmente, nem sempre nos deparamos com pessoas na mesma sintonia e daí surgem as decepções, que, posteriormente, causam novos medos e, consequentemente, nos impedem de tentar mais uma vez. O que podemos fazer? O que fazemos? Corremos, nos isolamos, criamos mil e um impedimentos e desculpas, fugimos. Sim, vivemos fugindo quando temos medo. Só que quando fugimos também deixamos de viver. E não dá pra saber o que poderíamos viver, se seria bom, mais ou menos ou ruim, se não tentarmos. A única certeza é que não estaremos vivendo.

Por vezes difícil, outras muito difícil e até quase impossível, o medo invade nossas vidas de um jeito perturbador. Eu sei como é complicado vencê-lo. É difícil, complicado, complexo. Uma verdadeira luta diária. Mas quando não deixamos que esse medo controle nossas ações e escolhas, um verdadeiro mar de lindas possibilidades surge diante de nós. Um mar que sempre esteve ali, mas que o medo não te permitia enxergar. E quando você vê o mar, não tem o que perder. Decepções? Talvez. Mas a certeza é de uma grande experiência. Afinal, se tem uma coisa que vale a pena nessa vida é lutar pelo amor. Quando desistimos dele é como se estivéssemos desistindo do brilho da vida. E esse medo não pode nos vencer.

domingo, 16 de janeiro de 2022

 

Sentindo sozinho


        Tentamos diariamente ser o suficiente para nós mesmos, nos amarmos, nos valorizarmos, nos orgulharmos, nos darmos força. É uma luta para a maioria, acredite. Não trata de se isolar e ser sozinha. Trata de ser o bastante para si mesmo e se amar, independente se houver outra pessoa ou não. É um processo. Leva tempo e esforço. Mas a recompensa é super gratificante e prazerosa. Não há coisa melhor do que me olhar no espelho e admirar a pessoa que estou me tornando, os desafios que tenho enfrentado, as barreiras que tenho superado e colher as pequenas alegrias que às vezes surgem.

No entanto, há momentos em que parece que o mundo, simplesmente, desapareceu e nós estamos carregando um peso enorme sozinhos. É como se todas as emoções explodissem no mesmo instante e não houvesse ninguém em todo o universo capaz de segurar a sua mão, nem você mesmo. É como se não houvesse nenhum suporte, nenhum apoio, nada para te sustentar e te dar força para continuar. É como amar e não receber nada em troca. É como carregar um sentimento dilacerante no peito e não poder compartilhá-lo com aquela pessoa especial. Porque não existe nada pior do que sentir sozinho, sejam os bons sentimentos ou os desafios diários. É como se não houvesse uma única pessoa capaz de entender o que você passou, e pior, ainda existir aquela capaz de desvalorizar o que tanto te machucou. Ou é como se você amasse alguém e essa pessoa não fosse capaz de te mostrar que também te ama e mesmo sabendo disso você é incapaz de se afastar. Porque palavras são apenas palavras quando não há atitude.

Às vezes faltam até palavras para descrever como é sentir sozinho. Não há uma expressão capaz de explicar com exatidão a solidão do sentir demais. Porque para aqueles que tem um enorme coração, que capta tanto os bons sentimentos quanto os ruins, colocar tudo pra fora e diminuir o peso da dor ou compartilhar as emoções positivas é um enorme desafio. E quando, após muita dificuldade, conseguem explanar seus sentimentos, pode ter a certeza de que foi uma verdadeira luta. Então, independente da sua posição na vida do outro, escute e não desvalorize sua dor e o seu amor. Nem todos tem a noção de como machuca a falta de compreensão. Cada um sente de um jeito. Cada um reage de uma forma aos desafios. Não diminua a dor do outro porque você acha ser um exagero. Só quem está vivendo sabe como realmente dói. E se o caso for amor, abra os braços e o receba. Nem sempre é fácil compartilhar o mais lindo dos sentimentos. E o medo de recebê-lo pode estragar tudo. Sentir sozinho não é uma escolha, é uma luta.  

 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

 

Convite aberto


Querido Leandro,      

Está tudo bem ir com calma e respeitar os processos. É ótimo ser apenas você. Não preciso de mais ninguém. Não preciso de ninguém, na verdade. Eu me basto, eu sou o meu próprio motivo para seguir em frente. Mas quero você. Quero você em minha vida, preenchendo meus dias com ainda mais cor e trazendo brilho extra aos meus olhos. Quero seus lábios de encontro aos meus, suas mãos de encontro as minhas. Quero sentir que tenho uma morada em seus braços. Quero sentir o seu perfume impregnando todo o meu corpo e o nosso suor marcado em minha memória. Quero sentir a brisa do mar com você ao meu lado. Quero que todas as nossas lembranças sejam de orgulho para nós dois. Quero construir memórias emocionantes, quentes e apaixonantes, porque é isso que eu encontro em você: sensações e emoções de fazer arrepiar o meu corpo por inteiro. Então lhe escrevo com o coração, e outras partes do meu corpo, em total êxtase. Escrevo para fazer um convite importante. Você quer ser minha nova morada? Você quer fazer de mim a sua nova morada? Você quer assistir ao pôr do sol na praia comigo? Você quer o meu perfume por todo o seu corpo? Você quer a minha boca, as minhas mãos e todo o meu corpo no seu? Você quer ser o único a arrancar o meu vestido azul? Você quer suar ao meu lado a noite e o dia inteiros? Você quer nossos lábios unidos num beijo repleto de paixão? Você quer me pegar no colo, deslizar suas mãos por minhas coxas e tomar conta de toda a minha paixão? Você quer construir memórias cheias de excitação e amor? Tantas perguntas que se resumem a um importante convite: seja o único homem a tomar conta do meu coração e do meu corpo. No entanto, esse convite automaticamente possui apenas uma simples e obvia condição: que seja reciproco. Seja o motivo do meu sorriso, que eu serei o motivo do seu sorriso. Seja o brilho refletido em meus olhos, que eu serei o brilho refletido em seus olhos. Seja o corpo que aquece e excita o meu, que eu serei o corpo que aquece e excita o seu.  

Com carinho e excitação,

sua admiradora, Luiza.

p.s.: Quando nos encontrarmos eu estarei de azul.

domingo, 9 de janeiro de 2022

 Apetite



eu me basto
eu me sustento
eu me fortaleço
mas eu tenho 
eu tenho essa coisa aqui dentro
uma fome inexplicável 
de você
de nós
da nossa conexão
da nossa força
do nosso beijo 
do nosso suor
meu apetite pede você
meu apetite quer você
meu apetite quer nossos corpos 
juntos
ligados
suados 
enlouquecidos de paixão
porque você sabe
é delirante
quanto mais tenho
mais quero
mais desejo
mais espero
eu tenho apetite de você

sábado, 8 de janeiro de 2022

 

O que estamos fazendo?


            Eu espero não me arrepender. Eu espero não me lamentar. Eu espero, do fundo do meu mole coração, que o tempo não seja nosso inimigo. Eu espero que essa caminhada realmente valha a pena e eu possa sentir, com ainda mais prazer, o êxtase que invade diariamente o órgão mais importante do meu corpo. Eu espero que dure, perdure e me faça sorrir o meu sorriso mais lindo. Afinal, a vida acontece a todo momento e qualquer minuto perdido com dúvidas, joguinhos e enrolação vai pesar no final. Então eu me questiono frequentemente: de que somos feitos, o que nos molda, o que nos deixa felizes e o que estamos fazendo de nossas vidas? Estamos realmente aproveitando cada oportunidade? Estamos olhando para o obvio com amor ou com ceticismo? Vale a pena deixar tudo para amanhã ou para um depois que fica cada vez mais difícil de acontecer? Realmente vale a pena ignorar as pequenas alegrias por medo ou por qualquer dúvida infundada? Vale a pena esperar? Vale a pena adiar a descoberta de algo lindo?

            O que parece é que estamos simplesmente vivendo no automático, presos em nossas rotinas e reclamações, com apenas alguns segundos de prazer. Estamos nos deixando levar, fingindo que não nos importamos com o outro ao nosso lado, aquele que com certeza nos ama. Estamos adiando sentimentos incríveis e realmente aliviantes por medo de não ser exatamente o que esperamos. Temos, mais do que nunca, medo de errar, de quebrar a cara, de parecermos bobos, trouxas e todos esses adjetivos péssimos, que só nos atrasam. Já nos decepcionamos? Claro. Temos medo de acontecer novamente? Com certeza. Vai acontecer mais uma vez? Talvez. Nada é certo. O que é certo é que não chegaremos a nenhum resultado positivo estando parados. Não alcançaremos as pequenas e aliviantes alegrias se não dermos o primeiro passo. Dá medo? Obvio. Claro que teremos medo. Tudo que dá prazer antes pode causar um leve receio ou grande medo.

O que não dá é pra ficar parado esperando um milagre ou que a situação se resolva com mágica. É preciso agir, fazer o que precisa ser feito. É preciso arriscar. É preciso ir além da nossa zona de conforto. É preciso amar mais, se declarar mais. É preciso perdoar aos outros e a si mesmo. É preciso olhar para os erros, querer mudar e realmente mudar. É preciso dizer AGORA o que está sentindo, não importa quem seja o receptor. É preciso dizer sim para o ato real de viver. É preciso ser dono do seu destino e fazer acontecer as suas próprias alegrias. É preciso tentar, errar, tentar mais uma vez e acertar. É preciso se permitir sentir prazer. É preciso se permitir ser feliz. Afinal, o que estamos fazendo de nossas vidas? Vá viver agora! Descanse às vezes, tenha medo, tente, acerte, seja feliz.

 

 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

 

Coração azul


Para muitos, pode parecer besteira, mas no mundo moderno se comunicar com emoticons se tornou usual e há situações em que cada um expressa realmente uma emoção importante. Não é pra qualquer pessoa que você vai sair enviando coraçõezinhos. Claro que há pessoas e pessoas, e isso varia. Mas, no geral, não é pra qualquer pessoa. Digo isso pensando em uma conversa particular. Pelo menos, para a romântica Elisa é assim que funciona. Em conversas do whatsapp, por exemplo, ela não envia corações para qualquer crush ou interesse amoroso. Para ela tem que ter uma paquera mais intensa, assim como a reciprocidade. Se ela sentir que estão caminhando lado a lado e ela sente algo pela pessoa, o coração vermelho vai aparecer, nem que seja uma vez ao dia. Já as carinhas com coraçõezinhos aparecem com mais frequência e para mais pessoas. Se for parar pra pensar é de fato uma besteira. Afinal, atitudes valem mais do que palavras ou emoticons.  Realmente, de que adianta encher o amado ou amada de corações, frases lindas e inspiradoras, se você não se preocupa, não se esforça pra ver, não mostra com atitudes reais que realmente sente o que diz sentir. 

Pensando que, de fato, a jovem romântica tem feito e falado de acordo com o que sente, os simples emoticons dizem muito. Neste momento, por exemplo, há duas pessoas. Não são duas opções, são apenas duas pessoas que ela conversa. Um é o Fred, um rapaz que ela não imaginava se interessar tanto, que a cativa todos os dias. Em suas usuais conversas, os corações vivem aparecendo, sinal de que ela está nutrindo algo bem interessante. Há o receio, claro. "Será que é mesmo recíproco? Estou fazendo papel de boba? Podemos dar certo? Ele está sendo sincero? Por que está demorando pra responder? Será que me quer de verdade ou sou um passatempo?", são algumas perguntas que invadem a intensa mente da Elisa. Já o outro, o Lúcio, não é alguém que ela se interessa de forma romântica. É uma ótima pessoa, que também a cativa diariamente. Papo legal e maduro, se preocupa, nunca está ocupado pra ela. É realmente um rapaz que qualquer pessoa gostaria de ter em sua vida. No entanto, para a Elisa é um forte candidato a grande amigo. Lembro deste último porque a jovem não sabe quais são as suas reais intenções. Vive perdida, coitada. Às vezes parece que é só amizade, em outras parece que ele quer algo amoroso. Neste caso, há carinhas com coraçõezinhos, mas ainda não há corações. 

É até engraçado pensar nessas "besteiras" e fazer certas comparações. Mas quem tem a mente bem imersa em pensamentos e um turbilhão de emoções vai entender a Elisa. Eu entendo. O mundo mudou, assim como sua forma de comunicar. (Claro que tanto ela quanto eu preferíamos que as cartas ainda estivessem na moda.) No entanto, recentemente, ela adicionou mais uma coisa em sua mente gigante. Sem pensar demais, talvez apenas seguindo o instinto, a jovem enviou um coração azul para o Fred, e não um coração vermelho, como normalmente fazia. Ela ficou demasiadamente pensativa. Por ser a sua cor preferida, enviar um coração azul diz um pouco do que ela sente, e desse jeito faz parecer que gosta mais do que ela imaginava. "O que eu vou fazer? Será que eu gosto tanto assim dele? Será que estou apaixonada? Nunca havia enviado um coração azul. Azul! É o topo pra mim. O que eu faço com isso que me invade aqui dentro?", pensou e compartilhou suas dúvidas com a sua melhor amiga, que achou que ela estava exagerando. “Você é sempre tão perspicaz para ajudar seus amigos nos assuntos do coração, por que precisa fazer essa confusão quando se trata de você? Pra mim é obvio. E o coração azul só confirma o que eu já desconfiava. Seus olhos brilham quando você fala dele, tudo te lembra ele, tudo você quer contar pra ele. Você está apaixonada, Elisa. É simples”, Júlia falou com a amiga. “Não é simples... Mas você tem razão, não posso ficar mentindo pra mim mesma. Eu estou apaixonada”, disse. 


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

 

Nada demais


Às vezes nos pegamos delirantes, sem saber como tirar uma pessoa de nossa mente e do nosso coração. Quanto mais queremos que sua memória suma, mais somos pegos recordando palavras, atitudes, qualquer coisa que remeta a pessoa. E para a romântica Lívia não era diferente. Conheceu o homem que achava ser o ideal: proferia palavras carinhosas, dava atenção o dia inteiro, adorava dialogar sobre tudo, se preocupava, se importava. No entanto, o homem "perfeito" mostrou para o que veio: as palavras se tornaram ácidas, a atenção era limitada a quando "sobrava" tempo, não havia mais espaço para diálogo, a preocupação era apenas se existia outro homem por perto e se importava mais com o que ela usava do que como ela se sentia. Ele, basicamente, se transformou. Porém, como era esperto e não estava pronto para perder aquela que sempre se importou de verdade com ele, o homem ainda a elogiava com certa frequência. Afinal, precisava marcar o território. Depois de muito aguentar aquela situação desgastante, a jovem se libertou e tirou o Sr. Perfeito de sua vida. Foi difícil. Só ela sabia como aquilo foi difícil e como doeu. Parecia que tinham arrancado um pedaço do seu sensível coração. Havia um espaço, um buraco repleto de muita dor. 

Como ela iria curar aquela dor? Como poderia tirar aquele homem dos seus pensamentos e, principalmente, do seu coração? Essas são perguntas que Lívia se fazia diariamente. Aquelas dúvidas a consumia, a dor era quase palpável para aqueles que estavam ao seu redor. Nada a animava, nada parecia lhe dar esperança. E como ter esperança, quando alguém que tinha toda a sua confiança te tratava como um lixo, um nada? A vida parecia injusta, suja, feia. O mundo perdia sua cor e seu sentido. Para ele não era nada demais, mas para a jovem era tudo. Afinal, eram anos e mais anos admirando os casais e o amor que emanavam. Eram anos e mais anos sonhando com o dia que cruzaria em seu caminho alguém com a mente parecida com a dela, com um magnetismo único, que lhe desse borboletas no estômago. E, de fato, ela pensou ter encontrado a sua pessoa especial quando viu o Sr. Perfeito. Por muito tempo ele parecia ser aquela pessoa. Para ela parecia destino. No entanto, com muita dificuldade e dor, ela percebeu que estava enganada. "Nunca mais me abro para alguém. Amor é uma ilusão, é coisa de ficção", pensava energicamente e pesarosamente. A romântica super otimista perdeu o seu brilho e desejou nunca mais se abrir a ninguém. Para ela o amor estava acabado. E como julgar? Não dá. O amor não pode ser isso. O amor não é isso. 

"Nada demais, Lívia. Você exagera. O que tivemos não foi nada demais. Não tem motivos para tanta chateação. Nunca te prometi nada", o Sr. Perfeito disse quando ela ousou, pela primeira vez, se impor. Infelizmente, aquelas palavras a persegue. Às vezes a jovem ainda ousa em diminuir o valor da sua dor, colocando a culpa em si mesma. Não, ela não exagerou. Não, ela não viu coisa onde não tinha. Não, ela não imaginou promessas. E não foi simples. Ele não prometeu usando o verbo prometer, mas criou toda uma situação que dava abertura para ela, ou qualquer um, acreditar que havia reciprocidade e confiança. Ele a fez se abrir e se abriu falsamente. Ele incentivou o seu carinho e disse tudo o que ela gostaria de ouvir. Ele é o errado. Sua dor e sua reação não são exageradas. E como superar? Como voltar a ter esperança em algo tão lindo quando se engana desse jeito? Infelizmente, são perguntas complexas, que nem Lívia e nem eu temos respostas. A pergunta correta é: quando estarei pronta para arriscar e tentar mais uma vez? Provavelmente, superar depende muito da particularidade de cada um. Cada pessoa  tem seu tempo e sua forma de deixar uma história pra trás e seguir em frente. Talvez a questão seja que quando puder se arriscar novamente e tentar é quando conseguiu afastar aquela decepção da sua atenção principal. E saber, para o futuro, que a sua dor não é nada demais. Apenas você é capaz de senti-la, então cabe a você avaliar o seu valor. 

domingo, 2 de janeiro de 2022

 

Sinto sua falta


            Pela primeira vez, eu estou afim de uma pessoa e não estou pensando que talvez exista alguém “melhor” ou mais compatível comigo em outro lugar. Isso me assusta um pouco. Isso não quer dizer que eu quero desistir. Não, eu apenas tenho receio de chegar o momento em que você fale que não é mais reciproco. Eu lutei. Eu tenho lutado incansavelmente para não gostar tanto de você e te transformar em uma figura ainda mais importante em minha vida. Porque você é, você é importante e deixa o meu dia melhor. Você é aquela figura quase inexplicável, que acende diversos sentidos em mim. E isso não é apenas no sentido amoroso. Vai além. O que também me assusta. Eu luto diariamente para ser suficiente pra mim, para nunca depender de outra pessoa. E eu tenho me bastado. Mesmo com esse mundo uma loucura, onde frequentemente vemos situações tristes, eu tenho conseguido ser o meu apoio. No entanto, o seu apoio me parece especial. Não dependo de você e de ninguém, falando a grosso modo, claro. Mas eu quero ter você, quero que você esteja presente e faça diferença em minha vida. Quero que você venha para somar e deixar tudo mais colorido. E também quero ser essa pessoa em sua vida. Quero sentir que sou importante, não essencial. Quero sentir que você me quer em sua vida, quero fazer parte da sua rotina, até nas situações chatas e não tão felizes. Mas pode ser que eu te assuste. Não quero que isso aconteça, caso eu apareça mais intensa. Se estou mais incisiva é porque estou sentindo a sua falta, é porque te quero mais presente e quero me fazer mais presente. E pode ser que esse meu desejo também te assuste. Não sei o que fazer.

            Acho que preciso mudar um pouco o meu jeito. Afinal, nem sempre querer é poder. Nem sempre o que eu quero é o melhor pra mim ou pra você. Apesar de termos muito em comum, temos nossas diferenças. Então, longe de mim querer cobrar qualquer coisa. Odiaria me sentir nessa posição. Eu quero algo leve e natural. Quero o nosso momento de sempre. Sinto sua falta nessa imensidão que é a vida e a nossa rotina. Sinto sua falta nos instantes de respiro e nos de turbilhão. Senti sua falta ontem, sinto sua falta hoje. E por que eu simplesmente não te procuro? Eu morro de medo de você não sentir a minha falta e não ser reciproco. Morro de medo de te sufocar. Eu quero desacelerar, não quero dependência. Vivo fugindo disso. Eu luto diariamente pra ser apenas eu por mim e abrir esse espaço me causa medo. Mas é inegável que eu sinto sua falta. Já me acostumei com sua presença, com o seu jeito. Não quero que nada se perca entre nós, mesmo com os empecilhos naturais da vida. Mas, reafirmo, hoje sinto sua falta.