Quando te deixei ir
É tão estranho, que chega a ser
sufocante. Eu não consigo me lembrar com detalhes. Por mais que eu tente e me esforce
– saiba que eu me esforço demais, não consigo me lembrar com exatidão do seu beijo
e do que senti com ele. Desculpa. Você merecia mais, eu sei. Sinto muito por
isso e por tudo, você, com certeza, merecia muito mais. De mim, isso já não
sei. Não consigo me decidir se eu poderia ser o melhor pra você, mesmo que me
abrisse por completo e me permitisse sentir, assim como você fez. Sempre o
admirei por isso. O admiro muito por sua coragem em abrir o seu coração para
uma “estranha” e, simplesmente, sentir tamanho sentimento por ela. Me dá
vontade de chorar só de lembrar como e quanto você sentiu e eu não fui capaz de
receber todo esse carinho. Eu, simplesmente, não me esforcei, não lutei contra
meus traumas e medos e te deixei ir. Eu te perdi desde o primeiro encontro,
quando não me dei a chance de te enxergar por completo. Afinal, hoje eu vejo.
Desde o primeiro dia, você era uma imensidão. Você estava totalmente aberto,
disposto a me conhecer de verdade. Era muito mais que atração pra você. Era
muito mais que uma simples ficada depois de sermos apresentados por amigos. Eu
vi o momento. Você me viu, viu o momento e viu inúmeros outros. Você enxergou
possibilidades quando eu apenas estava focada em meus diversos anseios. Sim, eu
fui uma tola por não arriscar, por não te enxergar e não te abraçar com
vontade.
Às vezes me pego pensando em como
teria sido se eu não fosse tão difícil. Não é muito simples imaginar. Afinal,
vida real é uma coisa muito complexa. No entanto, eu tenho um vislumbre do que poderia
ser. E nessa visão nunca faltou amor e lealdade. Mas paro por aí. Não adianta
eu ficar me enchendo de situações hipotéticas, situações lindas que poderiam acontecer
caso eu não fosse uma covarde. É, ainda não achei palavra melhor para me
descrever. Tive medo de finalmente encontrar a pessoa que mexeria com todas as
minhas estruturas e me tirasse da minha zona de conforto. Não abri a porta das
possibilidades e não me permiti sentir. Claro, poderia dar super errado se eu
tivesse nos dado uma chance, como poderia ter dado super, super certo. E assim
é a vida, vários caminhos e possibilidades, que apenas saberemos se nos fará
bem ou mal se nos arriscarmos. Você se arriscou, me abraçou, me beijou, me
tocou com todo o seu corpo, mente e coração. Você enxergou algo em mim que eu
não fui capaz de enxergar em mim mesma, em você e em nós. “Você é o meu
tesouro. Não quero te perder. Não posso perder essa mulher incrível”, você
dizia com frequência. No entanto, por mais que você repetisse, eu não conseguia
aceitar essa admiração. Eu não queria aceitar que alguém me admirasse e me
desejasse tanto a ponto de fazer planos, mudanças, tudo pra estar perto de mim.
Não me odeie. Não cultive
sentimentos ruins. Você não merece esse peso. Ah, na verdade, nem sei porque
falo isso. Você não seria capaz de me odiar. Você é bom, é justo. Nunca
prometemos nada um para o outro, mesmo que seus olhos me olhassem com o desejo
de ser “para sempre”. Desculpa. Eu não fui capaz de receber esse amor. “Você é
linda demais e eu não te mereço”, você disse uma vez. Não fui capaz de reagir.
Depois disso, me afastei. Tive medo de te magoar ainda mais. Eu não conseguia
me abrir, tentar e encarar a incerteza do meu coração. Por isso e por tudo, eu
te deixei ir. Hoje, eu me questiono o motivo de não lembrar do seu beijo. Sei
que tive momentos incríveis ao seu lado. Você sempre foi muito atencioso, me
fazia sentir linda e bem. Mas o beijo... Não sei o que acontece, mas a minha
mente não possui essa memória. Lembro de beijar você e sei que gostei. No entanto,
a descrição daquele instante não vai além, não há profundidade. Eu não sei
explicar. Eu não entendo. Me dá um verdadeiro nó na cabeça quando eu tento
resgatar essa emoção. Apesar disso, o carinho e a admiração permanecem e eu
espero que você possa ser amado com tamanha intensidade, que te fará esquecer
qualquer tentativa em vão do passado. Por fim, depois de muito refletir, chego à
conclusão que estamos melhores assim, distantes. Nem se eu me abrisse, eu seria
a pessoa certa para você. Ou, seria? Quem sabe é o meu receio me freando
novamente... Porque quando eu te deixei ir, um pedaço de mim também se foi. Quem
sabe?!