domingo, 28 de agosto de 2022

 

Quando te deixei ir


            É tão estranho, que chega a ser sufocante. Eu não consigo me lembrar com detalhes. Por mais que eu tente e me esforce – saiba que eu me esforço demais, não consigo me lembrar com exatidão do seu beijo e do que senti com ele. Desculpa. Você merecia mais, eu sei. Sinto muito por isso e por tudo, você, com certeza, merecia muito mais. De mim, isso já não sei. Não consigo me decidir se eu poderia ser o melhor pra você, mesmo que me abrisse por completo e me permitisse sentir, assim como você fez. Sempre o admirei por isso. O admiro muito por sua coragem em abrir o seu coração para uma “estranha” e, simplesmente, sentir tamanho sentimento por ela. Me dá vontade de chorar só de lembrar como e quanto você sentiu e eu não fui capaz de receber todo esse carinho. Eu, simplesmente, não me esforcei, não lutei contra meus traumas e medos e te deixei ir. Eu te perdi desde o primeiro encontro, quando não me dei a chance de te enxergar por completo. Afinal, hoje eu vejo. Desde o primeiro dia, você era uma imensidão. Você estava totalmente aberto, disposto a me conhecer de verdade. Era muito mais que atração pra você. Era muito mais que uma simples ficada depois de sermos apresentados por amigos. Eu vi o momento. Você me viu, viu o momento e viu inúmeros outros. Você enxergou possibilidades quando eu apenas estava focada em meus diversos anseios. Sim, eu fui uma tola por não arriscar, por não te enxergar e não te abraçar com vontade.

            Às vezes me pego pensando em como teria sido se eu não fosse tão difícil. Não é muito simples imaginar. Afinal, vida real é uma coisa muito complexa. No entanto, eu tenho um vislumbre do que poderia ser. E nessa visão nunca faltou amor e lealdade. Mas paro por aí. Não adianta eu ficar me enchendo de situações hipotéticas, situações lindas que poderiam acontecer caso eu não fosse uma covarde. É, ainda não achei palavra melhor para me descrever. Tive medo de finalmente encontrar a pessoa que mexeria com todas as minhas estruturas e me tirasse da minha zona de conforto. Não abri a porta das possibilidades e não me permiti sentir. Claro, poderia dar super errado se eu tivesse nos dado uma chance, como poderia ter dado super, super certo. E assim é a vida, vários caminhos e possibilidades, que apenas saberemos se nos fará bem ou mal se nos arriscarmos. Você se arriscou, me abraçou, me beijou, me tocou com todo o seu corpo, mente e coração. Você enxergou algo em mim que eu não fui capaz de enxergar em mim mesma, em você e em nós. “Você é o meu tesouro. Não quero te perder. Não posso perder essa mulher incrível”, você dizia com frequência. No entanto, por mais que você repetisse, eu não conseguia aceitar essa admiração. Eu não queria aceitar que alguém me admirasse e me desejasse tanto a ponto de fazer planos, mudanças, tudo pra estar perto de mim.

            Não me odeie. Não cultive sentimentos ruins. Você não merece esse peso. Ah, na verdade, nem sei porque falo isso. Você não seria capaz de me odiar. Você é bom, é justo. Nunca prometemos nada um para o outro, mesmo que seus olhos me olhassem com o desejo de ser “para sempre”. Desculpa. Eu não fui capaz de receber esse amor. “Você é linda demais e eu não te mereço”, você disse uma vez. Não fui capaz de reagir. Depois disso, me afastei. Tive medo de te magoar ainda mais. Eu não conseguia me abrir, tentar e encarar a incerteza do meu coração. Por isso e por tudo, eu te deixei ir. Hoje, eu me questiono o motivo de não lembrar do seu beijo. Sei que tive momentos incríveis ao seu lado. Você sempre foi muito atencioso, me fazia sentir linda e bem. Mas o beijo... Não sei o que acontece, mas a minha mente não possui essa memória. Lembro de beijar você e sei que gostei. No entanto, a descrição daquele instante não vai além, não há profundidade. Eu não sei explicar. Eu não entendo. Me dá um verdadeiro nó na cabeça quando eu tento resgatar essa emoção. Apesar disso, o carinho e a admiração permanecem e eu espero que você possa ser amado com tamanha intensidade, que te fará esquecer qualquer tentativa em vão do passado. Por fim, depois de muito refletir, chego à conclusão que estamos melhores assim, distantes. Nem se eu me abrisse, eu seria a pessoa certa para você. Ou, seria? Quem sabe é o meu receio me freando novamente... Porque quando eu te deixei ir, um pedaço de mim também se foi. Quem sabe?!

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

 

O nosso beijo


            Uma parte de mim não para de pensar, de rememorar e reviver cada instante do nosso encontro. Eu fecho os meus olhos e posso sentir a sua presença. Sinto seu hálito fresco, seu perfume apaixonante, seu sorriso irresistível, seus olhos brilhantes e sua pele macia contra a minha. Eu consigo sentir com exatidão o que senti quando nos encontramos pela primeira vez. Ansiedade, empolgação, excitação e um pouquinho de vergonha. Inúmeras sensações e sentimentos atravessaram o meu corpo. Eu nunca duvidei que seria diferente. Eu sabia que seria intenso e único, e que eu ficaria com a lembrança intocável em minha mente e em meu coração. Claro, no coração, porque sabe muito bem que você está aqui, num cantinho mais que especial. Pra falar a verdade, eu não esperava, nem procurava. Simplesmente aconteceu e despertou todos os meus sentidos. Eu não esperava, longe disso. Não queria mais complicação, num momento que só havia confusão. Mas quem sou eu pra negar os sinais do meu corpo? Sim, eu já fiz isso, muito. Só que dessa vez, eu, simplesmente, senti. Pensei, claro que eu pensei. O que eu mais faço na vida é pensar, de forma ansiosa, claro. “Ele não me quer do jeito que eu o quero”, “Ele tem outras”, “Ele vai se cansar de mim”, “Eu vou me cansar novamente”, “Nunca daria certo”, “Eu não posso me apaixonar”, “Eu não deveria me envolver”, “Ele não me quer realmente”, e eu pensei e pensei. Não foi pouco, claro. Mas, apesar disso tudo, eu senti em primeiro lugar. E como senti! Continuo sentindo. Muito, ele sabe. O nosso encontro só provou como eu estava enganada em muitos dos meus pensamentos e dúvidas. Pensamentos incontroláveis, eu sei. Passou. E o encontro foi... Simplesmente, memorável. Eu ainda o sinto contra o meu corpo. Como eu sonhei com isso, como eu imaginei o seu toque, o seu abraço, o seu beijo...

Sim, imaginei repetidas vezes. Inúmeras vezes me peguei visualizando nosso beijo, nossos lábios num encontro urgente e delicioso. Imaginei como seria o encaixe, a duração, a excitação. E, felizmente, eu tenho o prazer de dizer e lembrar que foi ainda mais intenso. Foi diferente. Foi bem diferente do que eu imaginei. Por mais que a minha mente seja bem fértil, a realidade deu conta de superar toda a minha intensa imaginação. E como foi intenso... Diferente de tudo que já experimentei. Mal encontro palavras para definir o que foi aquilo. O que foi aquilo? É quase indescritível. É memorável, é delicioso. Todo o encontro foi delicioso, mas aquele beijo foi extremamente enlouquecedor. Toco os meus lábios e encontro vestígios dos seus. É, ficou marcado. E sei que pra você não foi diferente. Como pude duvidar? Como pude ter tantos pensamentos conflitantes? Natural, eu acho. Ainda mais porque eu gosto de você. Eu gosto muito mais do que imaginei gostar. E o nosso beijo foi tão especial e intenso porque eu finalmente pude assumir pra mim mesma que estou completamente apaixonada por você.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

 

Por que não?


            Eu estava aqui pensando, coisa que naturalmente já faço demais. Temos a boba mania de diminuir o que sentimos porque não deu certo. Tentamos apagar o que vivemos e sentimos se não acabou do jeito que queríamos ou se não era o que esperávamos. Mas não dá para fazer isso. “Mas não acredito que aquilo era amor”, “Não acredito que amei aquela pessoa”, “Mas foi tão breve. Poderia mesmo ser amor?”, essas são algumas questões que passam pela minha cabeça quando eu me coloco pensando no passado e nas pessoas que conheci e experiências que tive. O amor, por exemplo, alguém sabiamente me lembrou que não existe apenas um tipo, uma forma de amar. Há amores fraternos, maduros, imaturos, breves... Quando falamos em amor, há diversas possibilidades. E claro que essa opinião não é universal. Você pode me questionar. Pois questione. Simplesmente, viva o amor como o seu coração mandar. A questão aqui é não diminuir o que sentimos e vivemos por não concordar com o seu fim ou com a forma que desenrolou. Amar deveria ser simples. E é. O que complica somos nós mesmos e as nossas inúmeras dúvidas, inseguranças e desculpas baratas. Amar é simples. O amor é o que é e cada um vive e sente à sua maneira. Breve, longo, eterno, amor é lindo enquanto vivo em um coração sincero. Em dois corações então, ah, é maravilhoso e único.

            Então vem a grande questão: Por que não amar sem pensar nas complicações? Por que não deixar o amor ser o protagonista? Por que não esquecer por um instante as ansiedades e receios? Eu sei, eu sei, o coração bate forte, a respiração fica acelerada só de imaginar se entregar a este lindo sentimento e não durar, ou não ser correspondido. Seria péssimo, seria doloroso, extremamente doloroso. Mas se for o contrário? E se você amar e for correspondido? Se você amar e ser lindo? E as borboletas no estômago? E o sorriso genuíno quando o amado manda mensagem? E os olhos brilhando só de ver aquele lindo sorriso? E os abraços? Os beijos? E o simples toque de duas mãos? E o segredo que só você sabe? E o medo que ele contou só pra você? E o sonho compartilhado? E a comemoração em seus braços? Eu sei, são coisas boas demais. O amor não está só. Há aquelas coisinhas chatas que gostaríamos que não tivesse, as inseguranças, por exemplo. Mas também há tantas coisas boas, gostosas e excitantes. O amor pode ser simples, basta querer. Então, por que não amar?

domingo, 21 de agosto de 2022

 

Amando pelos dois


            Não somos perfeitos. Não somos exemplos de um amor à primeira vista, apesar de ter me conectado muito facilmente com ele logo na nossa primeira conversa. Não há rótulo no que temos. Não sei bem o que temos. Só sei que temos. E assim são as relações, confusas. Mentira, quem eu quero enganar? A nossa relação é confusa, mas não é uma regra, não é o ideal. O certo é ter tudo definido, claro, para ambas as partes. Claro que não tem como ser perfeito. Hoje posso estar bem, ele nem tanto, assim eu me doarei mais e serei quem manterá o “casal” de pé. Amanhã pode ser ele. E assim seguimos. Isso é o ideal, entender o momento de cada um, o dia de cada um. É assim que conectamos com o outro, entendendo os seus pontos fracos e fortes, entendendo que o esforço deve ser compartilhado. Afinal, toda relação, não importa de qual tipo seja, é uma via de mão dupla, onde ambos se esforçam, ambos procuram, ambos se abrem, confortam e amam. E é justamente esse último ponto que tem virado uma pulga atrás da minha orelha. Eu tenho pensado demais no amor que tenho doado e recebido. Na verdade, no amor que não tenho recebido.

            Ou será apenas estresse? Será correria pelo dia a dia pesado? Será o ciúme? Será o medo? Será uma auto sabotagem? O que será? Eu estou confusa. Escuto minhas amigas me alertando, me pedindo para me afastar antes que seja tarde, para me envolver com alguém realmente “acessível”. Como saber que já é tarde? Já é tarde, não posso me enganar. Se eu falo de amor, é tarde. É extremamente tarde. O que fazer neste caso? E eu quero fazer? Eu realmente quero abrir os meus olhos, a minha mente e o meu coração e pedir pela mudança? Ou vou simplesmente continuar me doando sem receber o mesmo em troca? Muitas questões, mas pouquíssimas respostas. Não quero responder. Sou teimosa. Sou um poço de conformismo. Eu sei que faço mal. Preciso valorizar o meu coração. Não posso continuar amando por nós dois. Aí, não foi tão difícil admitir... Foi extremamente doloroso colocar pra fora a verdade. Eu tenho amado há muito tempo por nós dois. Tenho doado carinho, zelo, paciência, entendimento e amor. Tenho sido conformista e esperado. Mas a verdade é que nem eu sei direito pelo quê estou esperando. Uma palavra? Um conforto? Uma atitude? Uma declaração? Não sei. Sinceramente, continuo perdida. Só sei que quero andar numa via de mão dupla. Afinal, chega de amar em dobro e não receber nada em troca. Chega de ser o poço de paciência e entendimento. Chega de palavras bonitas, sonhos empolgantes e realidade fria. Chega de ser apenas eu.


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

 

A última noite


            Eu tive um sonho noite passada. Eu sonhei que iria morrer. Sonhei que as flores mudariam de cor, que o céu ganharia uma nova nuance e os seus olhos eu nunca mais iria ver. Um sonho sufocante, que quase fez eu perder o ar e me deixou molhada de suor. Um sonho tão vivo, tão real, que ouriçou todos os pelos do meu corpo. Um sonho extremamente difícil de digerir, talvez não pela morte em si, mas pelas consequências que ela traria. Tenho medo? Com certeza, fico apavorada só de imaginar. Afinal, não é uma coisa que eu realmente queria. Ninguém quer. Ninguém, incluindo eu, quer chegar ao fim, ter a vida cortada ao meio. Há muitas perdas... Muitas histórias ficariam pra trás. Muitas alegrias e tristezas também. Há muito a perder. E o que eu ganharia com isso? Paz? Tranquilidade? Descanso? Talvez... Estou tentando processar a intensidade desse sonho. O fato é que eu preciso tomar uma decisão. A vida precisa de uma resposta. A minha vida.

            É agora ou nunca. Não tem como voltar atrás. A vida corre, a vida precisa de ação e respostas. E, justamente, por falta de uma resposta, eu preciso agir. Preciso deixar o sonho se transformar em realidade. Uma parte de mim ficará pra trás. De certa forma, é como morrer. Afinal, uma parte enorme de mim vai embora com você. É uma parte extremamente dolorosa. Te deixar, nossa, nunca imaginei isso acontecendo. Tivemos momentos incríveis, muito felizes. Mas eu também chorei. Como chorei! Doeu demais. Dói demais. Te deixar é como renascer e eu não sei como vai ser essa nova vida. Me dá medo, muito. Minha barriga dói só de imaginar as inúmeras dores que ainda irei enfrentar por você. Mas algo ficará para trás, uma liga, algo que me prendia a você e me sufocava. Eu não estava gostando dessa versão de mim. A eu que estava ao seu lado não me orgulhava. Anulação, choros de madrugada, dúvidas, insegurança e mais choro. Muita dor. Essa não sou eu. Essa não deve ser eu. Essa não precisa ser eu, porque essa noite eu morrerei pra você. Essa é a última noite que você me terá.

            Então, após a última noite algemada, eu renascerei para uma vida diferente, uma vida em que eu tenho o controle. As flores terão cores mais vivas, o céu do dia será repleto de raios de sol e o céu da noite será estrelado, cheio de brilho. E seus olhos duros ficarão bem longe de mim. Olhos que condenam, olhos possessivos. A nova vida é incerta, mas nada parece tão duro quando estou longe você. Dona de mim, dona das minhas escolhas, dona do meu corpo e dona dos meus sonhos. Pois então, depois da última noite, quando acordar, eu sei que haverá um mar de possibilidades pra mim.

           

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

 

Excitação


            Olhos fechados, posso sentir as fortes batidas do meu coração. Não vejo, mas sei que todos os pelos do meu corpo estão eriçados, em êxtase total, assim como todo o resto do meu corpo. O toque aveludado dos seus dedos percorre meus braços e eu continuo de olhos fechados, tomada pela incrível sensação de apenas sentir. Um arrepio excitante atravessa a minha espinha quando sua mão chega próximo a minha barriga. Estou totalmente exposta e entregue. Neste momento, eu confio nele e em seu viciante toque. Enquanto continua alisando delicadamente a minha pele nua, sua outra mão encontra um lugar ainda mais empolgado do meu corpo. Sei que ele pode sentir o calor e a agitação tomando conta de mim. Minha respiração fica ainda mais acelerada quando ele faz movimentos leves e ritmados. Suspiro. “Meu bem...”, digo baixinho. “Eu sei, minha linda, também amo tocar você”, ele diz e aumenta a velocidade com que me toca. Eu seguro um gripo. “Não faça isso, eu quero escutar você, quero escutar o seu prazer”, ele afirma e lasca um beijo urgente em meus lábios trêmulos de desejo. A euforia toma conta do meu corpo e o agarro próximo de mim. O choque das nossas peles é como o encontro perfeito. Nada parece mais certo do que isso. O beijo fica ainda mais urgente, assim como o seu toque. “Você é perfeita e apressada. Calma...”, o meu amado se afasta e meu corpo reage. Tento manter a calma e não abro meus olhos. Minha respiração está acelerada e eu tento recuperar o fôlego depois de um dos melhores beijos da minha vida. Ele se aproxima e sussurra em meus ouvidos: “Quero admirar cada destalhe do seu corpo antes de te sentir. Não tenha pressa. O seu prazer é o meu prazer”. E assim ele segue, percorrendo cada parte desnuda do meu corpo enquanto seu dedo me toca com vigor e maestria. É um prazer enorme, quase insuportável. Eu quero que ele continue, mas também quero ele dentro de mim. Meu corpo pede por ele. Nunca imaginei desejar tanto alguém na vida. A excitação é ainda maior, me surpreendendo mais uma vez, quando ele coloca seus lábios carnudos na minha parte mais eufórica. Ela quer esse homem, eu quero esse homem. Por inteiro, agora e sempre. Sua língua tem vida própria. Quando eu pensei que não poderia melhorar... Sim, desse jeito eu fico louca. “Seu prazer é o meu prazer”, ele repete enquanto beija as minhas coxas e alisa o meu corpo. “Quero você dentro de mim”, digo ofegante e iniciamos nosso momento de maior excitação.

 

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

 

Momento de silêncio


            Ter alguém, ou alguéns, com quem compartilhar as tristezas e as alegrias é maravilhoso. E quando você sente dentro do seu coração que aquela pessoa é confiável e especial, a alegria é ainda maior. Nada como ter com quem contar, seja qual for o momento. No entanto, o nosso maior suporte deve ser sempre nós mesmos. A força primordial, aquela que fará diferença no final, está dentro de nós. Claro que isso não exclui as pessoas incríveis à nossa volta. Mas o fato é que não há como nos decepcionarmos com nós mesmos como acontece com o outro, aquele que depositamos nossa amizade, carinho e confiança. Porque às vezes o coração erra, mas erra numa proporção que dilacera ele mesmo e dói fisicamente. Uma dor que aperta o peito, que parece que vai arrancar um pedaço, uma dor que parece que nunca irá nos abandonar, uma dor que não desejo pra ninguém que tenha um coração bom e sensível. E isso é a decepção com quem acreditávamos que podíamos confiar. Uma decepção que, de certa forma, nos muda. Confiança em qualquer pessoa diminui, assim como os receios com os desconhecidos. O medo de ter seu coração partido triplica, porque sabemos que não é uma dor fácil de amenizar. Nem digo superar, porque ainda não vi acontecer. O coração perde um pouquinho da sua inocência, aquela que permite olhar o outro com tanto encanto. Suspirar volta a ser um processo. “Não acredito que goste de mim dessa forma”, “Ah, está falando da boca pra fora”, “Sério? Não acredito. Sério mesmo?”... Sim, fica difícil voltar a ter aquele encanto, mesmo pelas pessoas que já provaram ser dignas de confiança e carinho. A decepção é uma verdadeira vilã para um sensível coração. A quebra de confiança não acaba apenas com uma relação, abala todas as outras. Por isso, você sempre será o seu maior ponto de apoio.

            No entanto, não dá pra viver assim, com o coração fechado e desconfiando de todos a sua volta. Eu, particularmente, não quero viver assim. Não quero perder o encanto e a esperança pelos que me cercam. Quero amar, quero acreditar que sou amada. Quero compartilhar meus momentos de dor e felicidade. Quero que o outro compartilhe comigo os seus momentos de dor e felicidade. Quero ser o apoio de alguém, assim como espero que alguém seja pra mim, mesmo sem necessidade. Mas, depois da decepção e da quebra de confiança, percebemos que há momentos que pedem silêncio. Há momentos em que, simplesmente, devemos guardar nossas coisas com nós mesmos. O medo acaba tomando conta e para evitar qualquer problema, o silêncio é a melhor resposta. Afinal e infelizmente, nem todos vão ficar felizes com nossa felicidade. Nem todos vão torcer por nossa recuperação num momento de fraqueza e dor. Nem todos conseguem carregar sentimentos bons quando pensam em nós. Então, quanto menos souberem, melhor. O silêncio é a melhor resposta. O que ninguém sabe, ninguém coloca carga em cima. Infelizmente, descobrimos da pior forma que nem todos que nos cercam possuem no coração os mesmos sentimentos bons que você carrega por ele. E é isso, essa é a dura e fria vida.