terça-feira, 8 de março de 2022

 

Ser Mulher


            Mãe solo, se desdobra em dois empregos, acorda de madrugada para atravessar a cidade e levar o sustento para a casa, exausta, criticada, invejada, cabelos e unhas desarrumados enquanto leva os filhos super alinhados para a escola, come em pé, mil tarefas ao mesmo tempo, recebe menos que o colega homem, assediada, humilhada, violentada, desprezada, objetificada, diminuída, esquecida, sem filhos, independente financeiramente, independente emocionalmente, batalhadora, esperta, inteligente, criativa, romântica, sonhadora, linda, bondosa, sábia, extrovertida, introvertida, tímida, carismática, bem-humorada, divertida, perspicaz, determinada, incansável... Seja qual for a sua característica, ou características, você é incrível! Mulher, você é simplesmente incrível! Essas são apenas algumas das possibilidades. Sei que existe mais um montão, você sabe. Não importa qual, ou quais, você é uma pessoa de valor, poder e garra, simplesmente por existir e ter que viver o grande desafio que é ser mulher. E não, não vamos romantizar as cansativas batalhas que enfrentamos diariamente. Você é forte. Se cansa, quer desistir, tenta mais uma vez, quer desistir de novo, não importa, você é forte, seja qual for a sua batalha. Mas hoje, mais um dia de luta e tentativa de nos mostrar real para o mundo, para além daquilo que eles querem reconhecer e entender, hoje somos ainda mais força e garra. Não queremos que nos olhem e apenas citem nossas qualidades, os exemplos de força, queremos ser reconhecidas, entendidas, libertadas, valorizadas. Queremos espaço para mostrar o nosso potencial, queremos ser reconhecidas pelo nosso esforço, queremos andar nas ruas com segurança e respeito, independente da roupa que vestimos, ou da religião, ou da orientação sexual... Queremos que nos olhem nos olhos com a admiração que sei que merecemos. Não queremos que exaltem a nossa luta para administrar o lar e cuidar dos filhos sozinhas. Queremos que dividam as tarefas, as responsabilidades. Queremos nos cuidar, nos divertir, cruzar a cidade sem medo de ser assediada, violentada ou humilhada. Queremos salários condizentes com nossa competência. Queremos ser vistas e, principalmente, respeitadas em todos os campos de nossas vidas. Já chega de romantizar o desgaste físico e emocional da mulher que enfrenta inúmeras batalhas diariamente. Já chega de não ser dona do nosso corpo. Já chega de violência. Já chega de me sentir culpada pela roupa que usei quando fui assediada. Minha roupa não tem culpa. Eu não tenho culpa. Quero ser livre, independente, dona de mim. Quero ser a mulher incrível que eu sei que sou sem todos os desgastes e sofrimentos. Hoje, 8 de março, não quero apenas uma felicitação e uma lembrança. Claro, chocolate, flores, é legal e tem seu espaço. Mas antes disso tudo, me enxergue, me respeite, me entenda de verdade.

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