quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 

O último encontro


Cansada de bater de frente com paixões traiçoeiras, fechei meu coração, me coloquei na balança e escolhi apenas me amar. Mas como a vida simplesmente acontece, e nesses momentos pode te atropelar, estraçalhar e te quebrar em mil pedaços para depois te montar, te deixar forte e sensível, eu me deparei em frente a um abismo de sensações. Queria acreditar que não era um abismo ruim, que me afundaria, me sugasse e me levasse pra longe dos meus sonhos. Queria acreditar estar diante de um abismo que me levasse a um intenso mar, um mar de desejos, carícias, carinhos e amor. Queria acreditar que esse abismo iria continuar me tirando da minha zona de conforto, me fazendo enxergar coisas antes inimagináveis e me fazendo ter as mais incríveis excitações. Queria acreditar que suas palavras não fossem de algum passado já vivido. Queria acreditar que isso que experimentamos era fruto de uma conexão única e rara. E mais uma vez eu estava abrindo o meu coração, me expondo e me permitindo viver o incerto. Sim, sou culpada. Sou culpada por sentir sempre mais, por viver para além do que a realidade pede. Sou culpada por enxergar entrelinhas. Eram reais? Eram reais para você? E quando eu pensava que poderia ser reciproco, um sopro de entusiasmo refrescava o meu peito.

Mas quem eu queria enganar? Quem eu queria enganar com a falsa noção de que estávamos seguindo um caminho parecido? Quem eu poderia enganar a essa altura da vida? Eu, a resposta vai ser sempre eu. E mais uma vez me encontro num labirinto de emoções, pensamentos e questionamentos. Eu estava simplesmente enganada? Novamente enganada? Como fui me jogar mais uma vez, e pior, de uma forma totalmente exposta e aberta a você? Como me deixei levar por esse abismo? Todo mundo sabe que abismos são ruins. Mas eu sou assim, uma simples garota romântica, apesar de não tão garota mais, que acredita em sempre mais. Eu me deixei levar pela ilusão que essa conexão era mutua. No entanto, não existe conexão. Neste momento não consigo vê-la. Poderia ter. Teve? Não sei, já não sei mais nada. Uma densa decepção está nublando o meu julgamento. Hoje não há garota romântica querendo ver o melhor em você. Se ela vai reaparecer, eu não sei dizer. Hoje eu estou apenas decepcionada.

Acredito que já chegamos num momento da vida em que a escolha entre um possível amor incrível ou amantes carnais perdidos na noite me parece fácil. Mas pra você não. Pra você sempre foi mais atrativo ter mais de uma mulher aos seus pés, suprindo carências do corpo e alimentando o seu ego. Afinal, quem não iria querer isso? Apenas as garotas românticas iludidas com o mundo cinza. Por que sim, o mundo é cinza. Olhe para o lado, a garota não está aqui agora. Enxergo apenas as dores, as traições, o egoísmo. Já ela conseguia ver tudo isso e ainda admirar os casais que lutaram e venceram, o céu azul, as estrelas. Ela simplesmente conseguia. Eu, agora, não. O amor já não parece leve. As relações são, simplesmente, rasas, líquidas e ligeiras. O mundo cinza não sabe amar.

Quem é você e por que me fez sentir assim? E como eu sinto... Sinto demais. Todo o meu corpo sentia com a ideia de ter você aqui bem perto. Eu estremecia só de imaginar na possibilidade de se tornar real, de se tornar além. E em minha mente só tinha você. No entanto, não é bem assim. Exposta, aberta ao novo e às intensas emoções, me coloquei a mercê de alguém que eu imaginava estar conhecendo. E aquela minha dúvida parece ser respondida à medida que eu penso. Você seguia um padrão, fazia eu me sentir desejada, adorada. Mas eu não era a única. Sim, parecia ser, mas não era. Ou vai me dizer que estou enganada? Sua lábia é boa demais. Hoje eu quero recuperar o meu juízo e te encarar com frieza. O nosso último encontro promete fechar portas que eu jamais esperei fechar. Não queria que fosse assim. Olha aí a garota querendo falar por mim. Mas farei de tudo para deixa-la em casa. Você não a merece e o nosso último encontro precisa ser o último. Ela não irá sofrer mais do que já está sofrendo. 

 

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