A Ligação
Acho que não sou apenas eu, a
maioria das pessoas perdeu o hábito de fazer e receber ligações. Afinal, com tantas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, a tradicional ligação
perdeu espaço e acabou se tornando, muitas vezes, irritante. Quantas e quantas
pessoas simplesmente ignoram uma ligação para enviar uma mensagem posteriormente
e descobrir o que o outro deseja? E, obviamente, eu sou uma dessas pessoas.
Ignoro uma, duas, inúmeras ligações e depois envio mensagem para quem me ligou
pra saber do que ela precisa. Me sentir culpada por isso? Uma vez ou outra. Mas
por que fazemos isso? Também não sei e não é o objetivo agora. A questão é que
eu tenho esperado uma ligação. Parece ironia, mas eu tenho esperado “a”
ligação. Talvez por ter se tornado algo “raro”, me faz sentir que se me ligarem
é porque eu valho a pena, que o que temos é importante.
Pode parecer besteira ou idiotice,
mas desde que eu voltei a receber ligações, muitas ideias mudaram em minha
cabeça. Fui meio que forçada a ter longas conversas (longas mesmo, mais de uma
hora) por telefone com a minha amiga, que fala demais. O estranho é que desde o
primeiro momento eu gostei daquilo e não pude entender o motivo de ter adiado o
retorno. Digo isso porque na adolescência, quando não haviam tantas redes
sociais, eu fazia e recebia uma quantidade relevante de ligações. Então, as
conversas se tornaram frequentes, o que desencadeou uma ou outra ligação para
outras pessoas. Não posso dizer que me sinto totalmente confortável e nem que
eu vá atender qualquer ligação, mas daqueles importantes pra mim, com certeza,
sim.
Então, agora, volto aquela questão
crucial, vai me ligar? Apenas sorrio e sinto um frio na barriga quando penso
nisso. Na verdade, você tem me feito sentir vários frios na barriga e isso me
assusta. Aquela vozinha, que tenta me sabotar mais uma vez, pede que eu vá com
calma. Ela talvez esteja certa. Não posso me permitir ser tomada por toda
intensidade que tenho aqui dentro. A última coisa que eu quero é sofrer pela
falta de reciprocidade e pela exposição exagerada. Mas essa vozinha já me sabotou
fortemente muitas vezes e eu não quero perder nada mais. O problema é que é
contraditório. Não quero perder a noção de mim, não quero perder o amor
próprio, não quero perder qualquer oportunidade de ser feliz, não quero perder
tempo, não quero perder você. Mas para não ter essa última perda, talvez eu
deva perder a vergonha e o medo de me expor. No entanto, aquela vozinha me
lembra que, por mais que seja sempre sincero, eu não sei o que podemos ser. Não
há expectativas, ideias elaboradas do dia de amanhã, mas há a necessidade do
entendimento, de saber o nível dessa importância. Por isso, talvez uma
ligação...
Loucura, loucura, eu sei. Para muitos
é uma besteira. Por que eu, simplesmente, não posso ser empoderada e fazer a
ligação? Parece simples mesmo, e talvez seja. Mas eu já fui “empoderada”
algumas vezes e tomei a iniciativa. No entanto, a ideia de incomodar o outro de
qualquer forma, me segura. Eu fico travada e volto para a “zona de segurança”. É
mais forte que eu, preciso me proteger, não quero sofrer com a falta de
reciprocidade e a ideia de ser um incomodo. Ou talvez eu não esteja sabendo
enxergar os sinais? Pode ser... Qualquer que seja esse sinal, positivo ou
negativo, eu não tenho sido uma boa leitora. Então, por enquanto, sigo bem
distante da zona de risco.
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