sábado, 9 de outubro de 2021

 

A Ligação


            Acho que não sou apenas eu, a maioria das pessoas perdeu o hábito de fazer e receber ligações. Afinal, com tantas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, a tradicional ligação perdeu espaço e acabou se tornando, muitas vezes, irritante. Quantas e quantas pessoas simplesmente ignoram uma ligação para enviar uma mensagem posteriormente e descobrir o que o outro deseja? E, obviamente, eu sou uma dessas pessoas. Ignoro uma, duas, inúmeras ligações e depois envio mensagem para quem me ligou pra saber do que ela precisa. Me sentir culpada por isso? Uma vez ou outra. Mas por que fazemos isso? Também não sei e não é o objetivo agora. A questão é que eu tenho esperado uma ligação. Parece ironia, mas eu tenho esperado “a” ligação. Talvez por ter se tornado algo “raro”, me faz sentir que se me ligarem é porque eu valho a pena, que o que temos é importante.

          Pode parecer besteira ou idiotice, mas desde que eu voltei a receber ligações, muitas ideias mudaram em minha cabeça. Fui meio que forçada a ter longas conversas (longas mesmo, mais de uma hora) por telefone com a minha amiga, que fala demais. O estranho é que desde o primeiro momento eu gostei daquilo e não pude entender o motivo de ter adiado o retorno. Digo isso porque na adolescência, quando não haviam tantas redes sociais, eu fazia e recebia uma quantidade relevante de ligações. Então, as conversas se tornaram frequentes, o que desencadeou uma ou outra ligação para outras pessoas. Não posso dizer que me sinto totalmente confortável e nem que eu vá atender qualquer ligação, mas daqueles importantes pra mim, com certeza, sim. 

            Então, agora, volto aquela questão crucial, vai me ligar? Apenas sorrio e sinto um frio na barriga quando penso nisso. Na verdade, você tem me feito sentir vários frios na barriga e isso me assusta. Aquela vozinha, que tenta me sabotar mais uma vez, pede que eu vá com calma. Ela talvez esteja certa. Não posso me permitir ser tomada por toda intensidade que tenho aqui dentro. A última coisa que eu quero é sofrer pela falta de reciprocidade e pela exposição exagerada. Mas essa vozinha já me sabotou fortemente muitas vezes e eu não quero perder nada mais. O problema é que é contraditório. Não quero perder a noção de mim, não quero perder o amor próprio, não quero perder qualquer oportunidade de ser feliz, não quero perder tempo, não quero perder você. Mas para não ter essa última perda, talvez eu deva perder a vergonha e o medo de me expor. No entanto, aquela vozinha me lembra que, por mais que seja sempre sincero, eu não sei o que podemos ser. Não há expectativas, ideias elaboradas do dia de amanhã, mas há a necessidade do entendimento, de saber o nível dessa importância. Por isso, talvez uma ligação...

            Loucura, loucura, eu sei. Para muitos é uma besteira. Por que eu, simplesmente, não posso ser empoderada e fazer a ligação? Parece simples mesmo, e talvez seja. Mas eu já fui “empoderada” algumas vezes e tomei a iniciativa. No entanto, a ideia de incomodar o outro de qualquer forma, me segura. Eu fico travada e volto para a “zona de segurança”. É mais forte que eu, preciso me proteger, não quero sofrer com a falta de reciprocidade e a ideia de ser um incomodo. Ou talvez eu não esteja sabendo enxergar os sinais? Pode ser... Qualquer que seja esse sinal, positivo ou negativo, eu não tenho sido uma boa leitora. Então, por enquanto, sigo bem distante da zona de risco.


Nenhum comentário:

Postar um comentário