domingo, 31 de outubro de 2021

 

Meus fracassos


            Às vezes eu apenas queria que fosse simples e fácil. Mas nada é tranquilo quando se trata de mim. Sabe aquela sensação de que você está repetindo os mesmos erros e só encontrando decepções? Hoje ela me invadiu a mente. Poderia ser simples. Nunca é. Eu tenho algum imã para situações complicadas, só pode ser isso. Como posso sempre me colocar diante de pessoas difíceis e caminhos incertos? Me atrai. E é sempre a mesma coisa, eu digo que não irei me colocar naquela situação, mas ela vive se repetindo. Um murro em ponta de faca atrás do outro. Há quem diz que quem perde é o outro, que ter um coração mole e uma certa inocência é algo positivo e o outro apenas perde em não saber receber o meu carinho e a minha intensidade. Se isso é verdade, por que eu sinto que estou sempre perdendo? Pelo menos, tempo eu perco. Nem ouso contar quanto tempo perdi. Sou, definitivamente, louca por ainda acreditar, mesmo que um pouquinho. Seria mais fácil se eu pudesse apenas desligar as emoções e tomar o lugar do outro, aquele que não sabe receber o amor e viver com intensidade. Seria muito mais simples... Mas aí não seria eu. E eu estou pronta para desistir de mim? Não sei. Uma das perguntas mais difíceis que já me invadiram a mente. Parte de mim deseja lutar por algo diferente e excitante, mas a outra parte morre de medo de continuar socando pontas de facas. Porque, sinceramente, dói. A dor do “fracasso” é intensa, assim como a dor da perda, da desilusão. É como se o céu perdesse aquele incrível tom de azul por dias, semanas, às vezes até meses. E eu amo admirar o céu azul, como amo. Então, continuar seguindo os meus tristes padrões não é algo que aguentarei por muito tempo. Quero acreditar que pode ser diferente, positivamente. No entanto, alguns sinais me confundem, me fazem questionar se estaria eu mais uma vez seguindo o caminho do céu cinza. Não pode ser. São tantos fracassos seguidos. Uns mais duros que outros, mas sempre desgastante. Não era algo que eu buscava, ou busco. Eu sempre esperei que fosse natural, excitante, intenso. Mas me vi jogada em histórias confusas. Não sei explicar o que aconteceu, apenas me envolvi e seguidas vezes perdi. Hoje, em meio a dúvidas e questionamentos, a intensidade me acompanha. Para alguém com um coração mole, apostar sempre pareceu tentador. Dividida estou entre o receio de fracassar e a ansiedade de mudar. Só posso dizer que pronta não estou para parar de enxergar o céu azul. 


sábado, 30 de outubro de 2021

 

Você quer?


            Sabe, andei pensando em tudo o que tenho vivido, nas paixões perdidas, na intensidade com que vivo cada momento, no que eu quero e, principalmente, não quero. A vida é estranha ou eu sou? Nada parece normal quando se trata de mim. Os segundos são longos quando penso naquilo que quero para o meu coração. O fato, que me persegue, sempre, é que eu não sinto pouco. Eu sinto muito. Eu sinto bem além das trincheiras. E jogar o jogo da vida pra mim ainda é muito estranho. Eu tento controlar o que sinto, como sinto. É eterna luta que eu sempre acabo perdendo. Besteira, afinal, acho que ninguém consegue controlar os sentimentos, a intensidade e sua reação diante das etapas deste intenso jogo. Repito, não queria sentir tanto e a todo momento. Mas sinto muito, por tudo e por todos. E no quesito coração não seria diferente. Todos me dizem para me jogar, experimentar e, simplesmente, viver as emoções, as sensações e o sentimento. Bom conselho, não há dúvidas. Nascemos para jogar. No entanto, o resultado do jogo sempre me assustou. E eu sei que não sou a única a ter este medo. Estou cercada por pessoas que sentem, guardam e tem medo do resultado. Por este e outros motivos, eu e várias tantas nos perdemos em pensamentos e emoções e, frequentemente, nos oprimimos. Não deveríamos nos esquecer que há beleza no jogo e não apenas no resultado. Há? Pois bem, há. Eu vejo. Quando me permito relaxar, eu consigo admirar o frenesi da espera por aquele “bom dia”, “dormiu bem?”, “você me faz bem” ... Admiro também o frio na barriga, o sorriso bobo, a voz sonolenta, a voz bêbada que diz coisas inesperadas, a figurinha travessa, o flerte excitante. Mas a dúvida, aquela dúvida de se estou escutando apenas frases prontas, enviadas igualmente para outro alguém... Ah, essa dúvida me faz querer não sentir tanto, me faz quase implorar para não me expor. Afinal, estaria eu jogando um jogo sujo e injusto mais uma vez? Meu coração espera intensamente que não. No entanto, quando se trata do jogo da vida, tudo é incerto. E agora eu preciso saber, você quer ser o oponente, o parceiro ou o falso parceiro? Você quer lutar contras as incertezas e jogar um jogo excitante? Ou você quer me encarar e dizer que nosso jogo é único quando na verdade eu não sou a única que escuta isso? Você quer apenas sentir? Pois eu, louca, estranha, com o coração mole, ainda estou na partida tentando entender as regras.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

 

Sr. Gavião


                      Ele tem os olhos de ave, que avista a sua presa a grandes distâncias. Seu sorriso tem um traço fino e bem delineado, capaz de fazer qualquer uma perder a noção de tempo e espaço. Sua voz é convidativa, sedutora e está sempre acompanhada das palavras exatas que queremos escutar. Ele é um verdadeiro pedaço de mau caminho. Mas, olha, que caminho gostoso e tentador. E, pra piorar, o sr. Gavião sabe muitas das minhas fraquezas e pontos de sensibilidade (em diversos sentidos, para a minha perdição). No entanto, não posso me abster da culpa “disso” ter chegado aonde chegou. Desde o início eu estava consciente da sua bela face e do seu jeito conquistador. Paquerador nato, esse homem sabia muito bem o que estava fazendo. Ele sempre sabe. E eu também sabia. “É sério que você vai entrar nesse clichê e se deixar envolver por uma pessoa que o maior prazer está em conquistar?”, pensei comigo mesma. A resposta imediata foi sim. Eu sabia que daria errado e mesmo assim me joguei por completo. Me afundei na sua prazerosa e envolvente companhia. Como dizer não para essa criatura? Eu até tentei, pouco, mas tentei. Mas no segundo minuto já sabia que meu caminho estava traçado.

            Em sua companhia encontrei consolo, carinho, prazer, animação, distração... É, difícil continuar descrevendo e não querer me dar uns tapas. O sr. Gavião é do pior tipo de predador. Ele te conhece, te envolve, te conquista através das suas carências e fraquezas. Um pedaço de mau caminho muito consciente de cada palavra que diz. Ele sabe quando se fazer presente e ausente, sempre deixando aquele gosto de quero mais e de “que saudade!” (leia suspirando). Como eu suspirava... O frio na barriga era certeiro quando ele sussurrava meu nome e dizia que eu era a mulher que ele mais desejou na vida. Até a pessoa com grandes problemas de auto estima acaba se derretendo com seus elogios. Por alguns instantes você realmente acredita que é incrivelmente linda e sexy. Não que você (ou eu) não seja. A questão não é essa. O fato é que ele consegue te deixar corada e sorrindo. Às vezes é até bom, muito bom. Queria que todos soubessem, sinceramente, como são lindos e valiosos. O problema é ele dizer com segundas intenções.

Entre te conquistar, seduzir, fazê-la ter olhos e atenções só pra ele, o sr. Gavião pretende colecionar alguns (ou muitos) troféus. Sim, eu, você, todas somos lindos troféus na história desse homem. Ele tem consciência da sua própria lábia e visual. Ele sabe que se quiser, pode. E tem! Esse homem tem todas que quer. A questão é até quando ele quer. A maioria por muito tempo. Obviamente, isso vai depender de quanto tempo a seduzida vai levar pra sair do transe e concordar em ser apenas mais um troféu. Sim! Somos troféus, mas ele tem apego aos troféus. É ciumento! Isso me faz rir. Por um breve momento achei interessante o seu ciúme. Me senti muito desejada. Besteira! Mas eu tive ainda mais ciúme do que ele. Acho. 

Quando me dei conta de que realmente caí no clichê do gavião, enxerguei novamente a sua lista imensa de conquistas e troféus. Bateu ciúmes, raiva, indignação, ódio de mim mesma, decepção. Mas é difícil sair das garras desse homem. Ele não vai te pedir pra ficar, mas seu sorriso bobo, sua voz sedutora e seu olhar envolvente vão te deixar completamente desconcertada. Deixá-lo vai parecer o pior dos absurdos. Já se viu perder a atenção de um homem desses, que te deseja e te acha tão maravilhosa? “Não, né?!”, eu pensava. Fui idiota, claro. No entanto, à medida que seus galanteios ficavam mais claros, a voz da consciência pesava em minha mente e abandonar o mau caminho parecia o mais certo a se fazer. Afinal, eu merecia ser valorizada, elogiada, desejada, mas merecia ainda mais ser a única. Frases repetidas, apelidos padronizados, cantadas prontas, áudios repletos de elogios, tudo me parecia superficial e idiota. Então, eu, simplesmente, me libertei. Hoje, o sr. Gavião continua colecionando seus troféus. Não julgo. É extremamente difícil não desejar um lugar de destaque na sua estante. 

sábado, 23 de outubro de 2021

 

As Pazes


            Passei intensos momentos pensando no que poderíamos ter sido se não houvesse os “se”. Por diversas vezes fantasiei um futuro em que estivéssemos juntos e felizes, mas não durava muito tempo, sempre faltava alguma coisa. Faltava a verdade, a realidade, aquela conexão que eu sempre esperei de um relacionamento. Me culpei demais. Me culpei por não dar certo antes, me culpei por não seguir em frente com você. Nas tristezas, me culpei por não conseguir fazer dar certo e imaginei que você poderia ser o amor da minha vida. Me iludi, a tristeza aumentou e, mais uma vez, fantasiei um futuro com você. Enganada e culpada, retomei o contato. Parecia incrível. Enxerguei novamente as suas qualidades. Fantasiei mais uma vez e me iludi com uma nova visão de nós. No entanto, o tempo, os “se” do passado, a “eu de agora” e, simplesmente, o instante da vida que nos reaproximamos me fizeram dar conta de tantos outros entraves.

Confusa e culpada por me sentir tão diferente, eu continuei. Arrastada pela culpa e pela ideia de que o que estava sentindo seria passageiro, continuei o contato. Mas à medida que conversávamos e eu percebia a retomada dos “se” e daquelas diferenças que me afastaram antes, um sentimento ainda mais intenso tomava conta do meu peito. Eu não estava feliz, eu não estava sendo eu mesma, me sentia perdida e longe daquilo que um dia imaginei. Meu coração gritava, mas eu não sabia o que fazer. A ideia de te machucar, deixava a dor ainda mais forte. Eu me sentia totalmente errada. Por que aquilo estava acontecendo? eu questionava. Você sempre foi bom comigo e com as pessoas ao redor. Por que eu não poderia ser boa pra você? Eu, simplesmente, não conseguia ver a resposta. E como eu ansiava por uma resposta, por uma solução para aquele sentimento confuso.  

De repente, me deparei conhecendo novas pessoas, novas possibilidades. Minha cabeça era uma loucura, mal sabia no que focar. Totalmente perdida, fiz a única coisa possível naquele momento, diminuí a frequência com que conversava com você e com essas “novas” possibilidades. A culpa ainda invadia a minha mente e eu estava cada vez mais ansiosa por uma solução. Fiz o que sempre me ajudou, escrevi, desabafei e respirei fundo. As novas possibilidades perderam a graça e eu pude enxergar meus pensamentos e meu coração com mais clareza. A resposta sempre esteve bem lá no fundo do último. Meu coração sempre soube, mas uma mente iludida me cegou, me confundiu.

Enxerguei mais uma vez suas qualidades e enxerguei com ainda mais clareza os motivos que me afastaram de você da primeira vez. Realmente, havíamos deixado algo inacabado, o que me confundiu e me fiz criar tantas ilusões. Hoje, com o coração leve, eu sei que suas qualidades não são pra mim. Simplesmente, não temos uma conexão única e leve. Eu sempre precisei me esforçar para as conversas renderem e, sinceramente, não temos coisas em comuns o suficiente. Os diferentes se atraem apenas inicialmente, mas à longo prazo isso pesa demais. E o que eu espero de um relacionamento é bem mais que um começo empolgante. E você também merece mais, merece alguém que esteja envolvida por completo. Hoje, esse alguém não sou eu. Nem ontem, na verdade. Nunca foi pra ser. E está tudo bem. Pra mim está tudo bem. Não dói mais. As ilusões desapareceram, assim como as dúvidas. Pra mim está totalmente claro. Estou em paz com o meu passado. Estou em paz com o fim da nossa história. Preciso confessar, já tem um tempinho que cheguei à essa conclusão, mas mesmo em paz é difícil admitir pra você. 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 

O último encontro


Cansada de bater de frente com paixões traiçoeiras, fechei meu coração, me coloquei na balança e escolhi apenas me amar. Mas como a vida simplesmente acontece, e nesses momentos pode te atropelar, estraçalhar e te quebrar em mil pedaços para depois te montar, te deixar forte e sensível, eu me deparei em frente a um abismo de sensações. Queria acreditar que não era um abismo ruim, que me afundaria, me sugasse e me levasse pra longe dos meus sonhos. Queria acreditar estar diante de um abismo que me levasse a um intenso mar, um mar de desejos, carícias, carinhos e amor. Queria acreditar que esse abismo iria continuar me tirando da minha zona de conforto, me fazendo enxergar coisas antes inimagináveis e me fazendo ter as mais incríveis excitações. Queria acreditar que suas palavras não fossem de algum passado já vivido. Queria acreditar que isso que experimentamos era fruto de uma conexão única e rara. E mais uma vez eu estava abrindo o meu coração, me expondo e me permitindo viver o incerto. Sim, sou culpada. Sou culpada por sentir sempre mais, por viver para além do que a realidade pede. Sou culpada por enxergar entrelinhas. Eram reais? Eram reais para você? E quando eu pensava que poderia ser reciproco, um sopro de entusiasmo refrescava o meu peito.

Mas quem eu queria enganar? Quem eu queria enganar com a falsa noção de que estávamos seguindo um caminho parecido? Quem eu poderia enganar a essa altura da vida? Eu, a resposta vai ser sempre eu. E mais uma vez me encontro num labirinto de emoções, pensamentos e questionamentos. Eu estava simplesmente enganada? Novamente enganada? Como fui me jogar mais uma vez, e pior, de uma forma totalmente exposta e aberta a você? Como me deixei levar por esse abismo? Todo mundo sabe que abismos são ruins. Mas eu sou assim, uma simples garota romântica, apesar de não tão garota mais, que acredita em sempre mais. Eu me deixei levar pela ilusão que essa conexão era mutua. No entanto, não existe conexão. Neste momento não consigo vê-la. Poderia ter. Teve? Não sei, já não sei mais nada. Uma densa decepção está nublando o meu julgamento. Hoje não há garota romântica querendo ver o melhor em você. Se ela vai reaparecer, eu não sei dizer. Hoje eu estou apenas decepcionada.

Acredito que já chegamos num momento da vida em que a escolha entre um possível amor incrível ou amantes carnais perdidos na noite me parece fácil. Mas pra você não. Pra você sempre foi mais atrativo ter mais de uma mulher aos seus pés, suprindo carências do corpo e alimentando o seu ego. Afinal, quem não iria querer isso? Apenas as garotas românticas iludidas com o mundo cinza. Por que sim, o mundo é cinza. Olhe para o lado, a garota não está aqui agora. Enxergo apenas as dores, as traições, o egoísmo. Já ela conseguia ver tudo isso e ainda admirar os casais que lutaram e venceram, o céu azul, as estrelas. Ela simplesmente conseguia. Eu, agora, não. O amor já não parece leve. As relações são, simplesmente, rasas, líquidas e ligeiras. O mundo cinza não sabe amar.

Quem é você e por que me fez sentir assim? E como eu sinto... Sinto demais. Todo o meu corpo sentia com a ideia de ter você aqui bem perto. Eu estremecia só de imaginar na possibilidade de se tornar real, de se tornar além. E em minha mente só tinha você. No entanto, não é bem assim. Exposta, aberta ao novo e às intensas emoções, me coloquei a mercê de alguém que eu imaginava estar conhecendo. E aquela minha dúvida parece ser respondida à medida que eu penso. Você seguia um padrão, fazia eu me sentir desejada, adorada. Mas eu não era a única. Sim, parecia ser, mas não era. Ou vai me dizer que estou enganada? Sua lábia é boa demais. Hoje eu quero recuperar o meu juízo e te encarar com frieza. O nosso último encontro promete fechar portas que eu jamais esperei fechar. Não queria que fosse assim. Olha aí a garota querendo falar por mim. Mas farei de tudo para deixa-la em casa. Você não a merece e o nosso último encontro precisa ser o último. Ela não irá sofrer mais do que já está sofrendo. 

 

terça-feira, 12 de outubro de 2021

 

Olhando as Estrelas


            Por favor, pegue a minha mão, caminhe ao meu lado e se deite comigo sob o luar incandescente. Apenas a sua presença é capaz de dar conta do incêndio que existe neste momento aqui dentro do meu coração. Sei que eu não esperava que fosse assim, não imaginava que poderia ser assim. Mas os dias não são mais os mesmos desde que te conheci. Todo dia, toda conversa, é uma nova experiência. Vivo sentindo sensações conflitantes e boas, como é possível? Eu, simplesmente, não esperava que fosse assim. Para uma romântica, sonhadora, e talvez um pouco decepcionada com o mundo e as pessoas, eu tenho me permitido sentir rápido demais. Mas essa “permissão” pode estar com os dias contados. Isso porque eu também tenho sido bastante realista pessimista. A ideia de me permitir e chegar ao abismo, acaba com a minha mente. Claro que há pensamentos maravilhosos, ideias extremamente estimulantes e excitantes. No entanto, fico assustada como nos parecemos em algumas coisas. Essa conexão inesperada, será que sou apenas eu que sinto? Tenho receio de estar enxergando apenas o que quero ver. Tenho receio de estar delirando e você não ser nada do que os meus olhos e o meu coração enxergam. Devo continuar? Devo me permitir e arriscar chegar até o abismo? Pode ser bom, claro. Podemos nos conectar ainda mais, desenvolver essa “coisa” intensa e excitante que somos juntos e chegar ao infinito (desculpa, não tenho palavra certa para descrever um lugar que ainda não cheguei). Porém, é apenas um “talvez”. Um dia alguém me disse para esquecer essa ideia de talvez e simplesmente me jogar, sentir e viver. Mas aquela voz me cutuca frequentemente pedindo para eu ser mais racional. Devo cala-la? Ou devo escutá-la? Eis a minha dúvida diária. A certeza que eu tenho agora é que eu gostaria de te tocar, sentir seus lábios tocando os meus, suas mãos percorrendo as minhas costas, a minha nuca e envolvendo o meu cabelo. Neste momento, eu gostaria que você segurasse a minha mão, olhasse nos meus olhos sorrindo e se permitisse viver a deliciosa loucura de apenas deitar sob o luar de primavera. Juntos, olharíamos para o céu extremamente azul e faríamos pedidos secretos para as estrelas. Ao final da noite nos beijaríamos como se fosse a primeira e a última vez.

sábado, 9 de outubro de 2021

 

A Ligação


            Acho que não sou apenas eu, a maioria das pessoas perdeu o hábito de fazer e receber ligações. Afinal, com tantas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, a tradicional ligação perdeu espaço e acabou se tornando, muitas vezes, irritante. Quantas e quantas pessoas simplesmente ignoram uma ligação para enviar uma mensagem posteriormente e descobrir o que o outro deseja? E, obviamente, eu sou uma dessas pessoas. Ignoro uma, duas, inúmeras ligações e depois envio mensagem para quem me ligou pra saber do que ela precisa. Me sentir culpada por isso? Uma vez ou outra. Mas por que fazemos isso? Também não sei e não é o objetivo agora. A questão é que eu tenho esperado uma ligação. Parece ironia, mas eu tenho esperado “a” ligação. Talvez por ter se tornado algo “raro”, me faz sentir que se me ligarem é porque eu valho a pena, que o que temos é importante.

          Pode parecer besteira ou idiotice, mas desde que eu voltei a receber ligações, muitas ideias mudaram em minha cabeça. Fui meio que forçada a ter longas conversas (longas mesmo, mais de uma hora) por telefone com a minha amiga, que fala demais. O estranho é que desde o primeiro momento eu gostei daquilo e não pude entender o motivo de ter adiado o retorno. Digo isso porque na adolescência, quando não haviam tantas redes sociais, eu fazia e recebia uma quantidade relevante de ligações. Então, as conversas se tornaram frequentes, o que desencadeou uma ou outra ligação para outras pessoas. Não posso dizer que me sinto totalmente confortável e nem que eu vá atender qualquer ligação, mas daqueles importantes pra mim, com certeza, sim. 

            Então, agora, volto aquela questão crucial, vai me ligar? Apenas sorrio e sinto um frio na barriga quando penso nisso. Na verdade, você tem me feito sentir vários frios na barriga e isso me assusta. Aquela vozinha, que tenta me sabotar mais uma vez, pede que eu vá com calma. Ela talvez esteja certa. Não posso me permitir ser tomada por toda intensidade que tenho aqui dentro. A última coisa que eu quero é sofrer pela falta de reciprocidade e pela exposição exagerada. Mas essa vozinha já me sabotou fortemente muitas vezes e eu não quero perder nada mais. O problema é que é contraditório. Não quero perder a noção de mim, não quero perder o amor próprio, não quero perder qualquer oportunidade de ser feliz, não quero perder tempo, não quero perder você. Mas para não ter essa última perda, talvez eu deva perder a vergonha e o medo de me expor. No entanto, aquela vozinha me lembra que, por mais que seja sempre sincero, eu não sei o que podemos ser. Não há expectativas, ideias elaboradas do dia de amanhã, mas há a necessidade do entendimento, de saber o nível dessa importância. Por isso, talvez uma ligação...

            Loucura, loucura, eu sei. Para muitos é uma besteira. Por que eu, simplesmente, não posso ser empoderada e fazer a ligação? Parece simples mesmo, e talvez seja. Mas eu já fui “empoderada” algumas vezes e tomei a iniciativa. No entanto, a ideia de incomodar o outro de qualquer forma, me segura. Eu fico travada e volto para a “zona de segurança”. É mais forte que eu, preciso me proteger, não quero sofrer com a falta de reciprocidade e a ideia de ser um incomodo. Ou talvez eu não esteja sabendo enxergar os sinais? Pode ser... Qualquer que seja esse sinal, positivo ou negativo, eu não tenho sido uma boa leitora. Então, por enquanto, sigo bem distante da zona de risco.


sábado, 2 de outubro de 2021

 

O paramédico


            Sabe quando você tem aquela estranha sensação de que um evento especifico deveria acontecer para que você esbarrasse com “aquela” pessoa? Pois é, estou com essa sensação e me sinto mal por isso. Neste momento, não paro de pensar na minha melhor amiga e no que uma noite de desabafos e bebedeira fizeram eu experimentar. Sei que ela está bem agora, mas ainda estou dividida. Só posso estar louca, muito louca. Eu simplesmente me arrepio todinha quando penso nele e naquele corpo sexy. Sim, definitivamente, é uma loucura. Mas uma loucura muito gostosa e excitante. Quando fui obrigada a chamar a ambulância por medo do pé da minha best ter quebrado, não imaginei que além da excessiva preocupação, eu também ficaria excessivamente excitada. Meus olhos estavam a todo momento no pé da criatura mais bêbada que eu já vi. Quando os paramédicos apareceram, o nível razoável de álcool no meu sangue e o calor da noite, me tiraram do chão. Eu falava apressadamente, segurando uma das mãos da Júlia e balançava a cabeça. “Vou ficar bem, Mel. Está doendo demais, mas vou ficar bem. Se aquele chique não me matou, esse pé também não mata”, dizia ela, tentando me tranquilizar. De repente, senti uma mão forte segurar o meu ombro nu. Minha respiração acelerou ainda mais quando virei o meu rosto e encontrei dois olhos castanhos e intensos me encarando. Naquele instante o tempo parou. 

            Os minutos seguintes parecem ter me tirado totalmente da minha zona de conforto e me levado para um lugar quente, super quente e empolgante. O paramédico sorriu, disse algo sobre a Júlia, provavelmente, que ela ficaria bem, e deu um respiro tão intenso que me deu um tesão daqueles. Um misto de culpa e euforia tomaram conta de mim. Então, com muito custo me voltei novamente para a minha amiga bêbada e disse que não sairia do seu lado. Ela sorriu ironicamente, entendendo perfeitamente o que tinha acabado de passar pela minha mente. É incrível como ela me conhece tão bem. Ali, por um segundo, fiquei com vontade de revirar os olhos pra ela, mas me contive, afinal, não sabia se ele continuava me observando. A sensação era que seus olhos estavam encarando as minhas costas peladas. E esse pensamento despertou outro, um tanto ousado. Imaginei suas mãos grandes percorrendo toda a minha pele. Com certeza me arrepiei e tive que conter a respiração acelerada.

            Felizmente, para segurar um pouco a minha intensidade da madrugada, ele foi na parte da frente da ambulância. Tive alguns instantes de tranquilidade. Se bem que essa não é a palavra exata. Eu não estava tranquila, ainda não estou. Eu só pensava nas mãos dele deslizando todo o meu corpo e nos seus lábios carnudos beijando o meu pescoço. Várias outras imagens invadiram a minha cabeça e eu fiquei ainda mais vermelha. Levei um pequeno susto quando vi que já tínhamos chegado ao hospital. Novamente tive que encarar aqueles olhos castanhos que me olhavam de um jeito que eu mal consigo descrever. Não sei se era delírio, o álcool, ou a noite quente de lua cheia, mas por um momento eu senti que ele me desejava do mesmo jeito que eu o desejo. Sim, eu ainda o desejo. 

            Depois de me recompor, eu voltei a minha atenção para o atendimento da minha best, que ainda estava super bêbada. Fiquei ao seu lado durante o atendimento com o clínico, no raio x e depois enquanto tomava a medicação. Felizmente, foi apenas uma torção e em poucos dias ela estaria bem. “Agora pode relaxar e procurar o gato da ambulância. Ele te quer também”, a Júlia disse e apagou. Eu não queria deixa-la sozinha, mas percebi que o álcool junto com a medicação iria causar um sono profundo, então eu teria que ficar no hospital um tempinho maior do que o esperado. Decidi tomar um café, mas no fundo eu tinha esperança de vê-lo mais uma vez. Tomei dois expressos e um cappuccino e nada dele. Respirei fundo e me senti uma boba. Cabisbaixa, eu saia da lanchonete quando trombei com uma figura forte, alta e quente. Meu coração acelerou, era ele. Sexy e irresistível, exatamente como eu me lembrava. Nossos olhos se encontraram e ele sorriu de um jeito que todo o meu corpo reagiu. Era inegável aquela tensão. Após alguns instantes de silêncio, ele disse: “Que bom que eu a encontrei novamente”. Fiquei nervosa. Aquela voz me deu um tesão perturbador. Eu me jogaria nele ali mesmo, se pudesse. “A Júlia está bem, está dormindo”, eu disse meio agitada. Ele sorriu mais uma vez. “Quem bom... A sua amiga se chama Júlia, mas e você?”, perguntou. “Melissa”, respondi. “É um prazer enorme te conhecer, Melissa. Meu nome é Emerson e eu adoraria conversar um pouco com você”, ele falou de forma excitante. Minha cabeça deu um giro, só imaginando uma “conversa” bem intima com aquele homem gostoso. 

            Em poucos minutos percebi que não havia apenas uma tensão sexual enorme entre nós. Além de lindo e sexy, Emerson é inteligente, bem-humorado e engraçado. E por um instante, senti medo daquela intensa conexão. Eu queria aquele homem, de todas as formas possíveis. Sim, ele também me queria. Após uma breve dúvida, que me persegue, eu entendi os sinais. Pelo menos o meu corpo eu sabia que ele queria. E assim teve. Foi inevitável, eu queria, ele queria, nós queríamos demais. De uma conversa divertida na lanchonete, acabamos parando em seu carro no estacionamento deserto. Agradeci mentalmente por aquilo. Eu não sabia se iria aguentar esperar muito tempo para ter aquele homem em mim. Em poucos segundos eu estava em cima dele, beijando o seu pescoço e alisando o seu cabelo. Ele apertava a minha coxa com uma mão e deslizava os dedos sobre o meu peito. A excitação nos consumiu e eu tive um dos momentos mais instigantes da minha vida. Emerson me tomou por inteira, despertando um desejo indescritível, tanto que voltei para o hospital com a vontade de passar horas e horas agarrada àquele homem grande.