Boa Menina
O
mundo não tem sido bom para os românticos e os sonhadores. Na verdade, o mundo
não tem sido bom pra ninguém que tem o coração bom. Todos os dias um novo caso
que assusta, que dá medo e nos faz questionar o que está acontecendo. Tanto que
eu já estava perdendo a minha fé no amor. Casar? E se for alguém machista, que
quer me controlar, que me bate e não aceita ser contrariado? Ter filhos? Por
mais que eu o eduque, e se ele acabar no caminho errado e se alguém o
maltratar? Ter essas coisas se tornou cada vez mais difícil, mesmo para uma
romântica e sonhadora como eu. No entanto, eu me abri. Eu decidi ser uma boa menina
e abrir meu coração para as possibilidades. Preciso viver, afinal. Resolvi ser
uma boa menina e esquecer as desilusões que já sofri, os corações partidos e
cada momento que me fez chorar. Decidi ser uma boa menina e esquecer cada
história triste que vejo nos jornais.
Decidi
ser uma boa menina e abri o meu coração. Não havia expectativas, mas havia a
ideia de que deveria ser reciproco. Eu não esperava que ficasse sério tão rápido,
não esperava nada mirabolante e espetacular (mesmo no fundo sonhando com algo
especial), eu só esperava que fosse saudável e sincero. Eu esperava que se
houvesse a tentativa da minha parte, que também houvesse uma tentativa da parte
dele. Não esperava que fosse raso, como tem acontecido com a maioria dos
relacionamentos, mas esperava que fosse conciso o suficiente para nos fazer
seguir adiante, mesmo sem saber aonde iriamos chegar. Como eu disse, não havia
expectativas, mas havia a vontade de fazer funcionar, de acreditar que poderia
ser legal. E parte de mim, aquela que ainda é otimista, sabe que poderia ser.
No entanto, a outra, já desgastada com o mundo e com a sua imundice, acha que
eu estava “viajando” e que nunca houve motivos pra acreditar em nada bom.
Faltou
sinceridade? Talvez. É triste pensar que posso ser um nada na vida de alguém que
eu imaginava que poderia ser especial. É ainda mais triste saber que pra ele eu
sou apenas mais uma, mais uma breve passageira. Mas eu tentei, Deus sabe como
eu tentei e me pressionei ser uma boa menina, mesmo sabendo de inúmeros motivos
que poderia dar errado. “É preciso tentar”, “depois resolvemos isso”, “dando
certo superamos”, eu pensava. No entanto, ser uma boa menina me colocou no
caminho errado. Se eu tivesse escutado aquela voz desde o início, aquela que
para muitos parece errada, eu não teria me exposto tanto, não teria sido a boa
menina pronta para fazer funcionar quando não havia alguém emprenhado assim
como eu.
No
final, depois daquela dorzinha de frustação, dizem que quem perdeu foi ele. E
como eu escuto... Dizem que sou maravilhosa, que quem perdeu uma ótima pessoa
foi ele. Tá bom, não vou discordar. Posso não ter a melhor autoestima, mas sei
que tenho meu valor e poderia ser uma pessoa incrível na vida de várias pessoas,
inclusive na dele. Mas, além dele (sendo otimista e dando o meu devido valor),
eu também perdi. Não digo que eu o perdi, porque eu nunca o tive. No entanto,
eu perdi a mim. Mesmo que eu esteja aos poucos me resgatando e tentando não
desistir de passar por isso tudo de novo, eu perdi aquela boa menina, sonhadora,
romântica e empolgada com um caminho novo. Talvez ela apareça novamente, porque
quem me conhece sabe que é difícil abandoná-la por completo, mas eu a perdi por
um momento. E perdê-la dói. Não gosto da ideia de perder aquela boa menina que
ainda me mantem em pé. Se eu concordei em expor a boa menina, que acabou se frustrando,
acaba que a “culpa” é minha. Acho que eu não dei escutei direito a voz que me
dizia para recuar. Mas o mundo é isso, afinal: tentativas, esperas, erros,
acertos, frustações, perdas, ganhos e reconquistas. E, hoje, mais tranquila com
o meu coração, e apesar de tudo e qualquer coisa, eu espero que a boa menina
volte e tente novamente. Uma hora dá certo.
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