Respirar
Eu continuo respirando, suspirando
pelos cantos, deixando meu corpo falar tudo o que deseja. Não digo tudo para
quem eu gostaria, no entanto, sei que é o melhor. É melhor continuar neste
dialogo com a única pessoa que me entende por completo: eu mesma. O que eu
estou esperando? O que mais eu estou esperando? Não sei, não consigo me
decifrar. Minha mente vagueia, as palavras fogem, eu respiro fundo e me recosto
na parede. Eu não sei o que estou esperando, de mim ou de você. Respiro
lentamente e solto um palavrão. Eu não sei o que deu em mim. Não fico com raiva
assim há muito tempo. Mas é uma raiva direcionada a mim mesma. Unicamente a
mim. Sei que estou errada, muito errada. Infelizmente, tenho a consciência de
que eu não mereço essa raiva ou qualquer sentimento negativo. Sei que não fiz
as melhores escolhas. Mas tudo o que fiz foi seguindo o órgão mais importante
do meu corpo. O órgão mais teimoso também. Pois não adianta, o meu coração é
mestre em teimosia e é completamente “bobão”. No entanto, eu o defendo. Não
consigo culpa-lo ou odiar suas escolhas. O coração é totalmente inocente e ingênuo.
A culpa está na minha cabeça, por ter aceitado o otimismo encantador do meu
coração. Por isso a minha raiva.
Eu respiro penosamente e escorrego
pela parede até chegar ao chão. Abraço as minhas pernas e posso sentir o meu
bobo coração saltitando. “O que mais você quer?”, pergunto em voz alta. Não
tenho nenhuma resposta clara. Meu coração apenas continua a sua melodia
intensa. Sempre defendi e defenderei o meu coração, mas às vezes cansa. É super
cansativo e esgotante escutar esse teimoso coração. Mesmo quando se está
acostumada a esperar o pior, receber algumas pancadas ainda é extremamente
doloroso. E meu coração continua na sua frenética batida, quase posso
escutá-la. Respiro fundo. “O que farei com você?”, pergunto mais uma vez e nada
de resposta. Recebo apenas algo parecido com um deboche. É como se meu coração
dissesse: “Pode acostumar, eu não vou mudar”. Solto um suspiro e deixo as
lágrimas inundarem o meu rosto. Quem eu quero enganar? Minha mente será vencida
outras vezes pelo meu coração e eu me cercarei de incertezas e pessoas quase indecifráveis.
Não tenho medo de chorar, de despejar lágrimas por pessoas que talvez não as
mereçam. Na verdade, meu medo é que as lágrimas durem para sempre e meu coração
nunca repouse sua inocência naquela pessoa que fará o mesmo por mim. Respiro
fundo e escuto com perfeição a melodia do meu ingênuo coração. Sorrio e volto a
respirar. “Você não tem jeito mesmo”, digo baixinho.
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