Abraço

            Os dias parecem mais curtos quando há felicidade e mais longos quando há tristeza. A verdade é que o tempo tem sido nosso maior inimigo. Todo mundo parece com pressa, vivendo um turbilhão todos os dias para alcançar seus objetivos e a tão sonhada felicidade. Cadê a alegria do trajeto? Cadê a beleza da caminhada? Na verdade, mesmo, o nosso maior inimigo somos nós mesmos. Vivemos tão vidrados no amanhã, que acabamos esquecendo das pequenas e lindas coisas que podemos absorver do hoje. Ficamos tão obcecados pelo futuro, que deixamos passar incríveis oportunidades e até pessoas. Para que a pressa? Para que ficar com os olhos o tempo todo no relógio? Claro que é bom ter uma visão mais além, mas tem vezes que é preciso desacelerar e, simplesmente, aproveitar as pequenas alegrias que passam despercebidas.

            Mas, afinal, por que estamos tão ocupados e perdidos? Por que as relações são tão rasas? Por que o medo da conexão, de nos ligar a alguém? Por que não arriscamos? Por que simplesmente não sentimos? Por que tantas perguntas? Difícil encontrar tantas respostas. Só sei que estamos tão cheios das dificuldades e da romantização da dita força, que nos perdemos em meio ao processo e nos ligamos apenas ao futuro onde esperamos que os objetivos já tenham se realizado. Estamos totalmente esgotados das tentativas frustradas, do sentir e não ser correspondido, das horas ignoradas, dos sonhos perdidos, das pessoas que nos decepcionaram e de tantas outras intensas friezas do mundo, que nem sempre há força para lutar. Por isso, digo para mim e para vocês, precisamos do abraço. Do nosso abraço. Precisamos enxergar a esperança em nós mesmos, fugindo das expectativas sobre o outro, sobre aquele que não temos nenhum controle. É preciso colocar energia na pessoa mais importante da minha vida: eu. Ou na pessoa mais importante da sua vida: você. É preciso se abraçar, ser o seu consolo, seu apoio e o seu ombro amigo. Seja o seu melhor amigo. Seja a pessoa que nunca irá fugir, te abandonar quando surgir qualquer adversidade. Seja o seu amor, a sua paz, a sua esperança.

            Seja triste, feliz, aborrecido, com raiva, decepcionado, seja como for, chegue em casa, desacelere um pouquinho, se olhe no espelho e se elogie, se abrace, chore, viva o sentimento do momento. Não fique obcecado pelo futuro, não romantize quando alguém disser que você é forte e pode aguentar muito mais. Seja o seu consolo, a pessoa que se admira e se apoia. Se abrace com força, muita força mesmo e deixe as lágrimas rolarem, seja de tristeza, raiva ou felicidade. Você é a pessoa mais importante da sua vida, eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Você é a única pessoa que esteve no começo, que está no meio e estará no fim com você e por você. Se valorize, tire um tempo, reclame, chute o balde, mas se abrace. Pare de esperar do outro o que você mesma pode se dar. Afinal, não há abraço mais gostoso do que o da pessoa mais importante da sua vida. E nesse mundo sempre ocupado e apressado, seja o seu tempo, você merece.

           

 

Novo ciclo

            Um friozinho invade a minha barriga, os pelos dos meus braços arrepiam e a minha mente dá mil e uma voltas. Meu coração bate forte, mas tão forte que mal dou conta de controlar a minha respiração. Parece que a qualquer momento as minhas pernas não darão conta de me sustentar e eu cairei no chão. Sim, estou me sentindo por um fio, prestes a desabar e perder todo o resto do apoio que me mantem em pé. Apoio? Na verdade, não sei mais o que é isso. Hoje sou eu, apenas eu por mim mesma. E a única coisa que eu espero e peço é que eu seja suficiente para me reerguer quando eu desabar. Eu quero ser o meu sustento, a minha força, a minha motivação. Quero chegar em casa e encontrar consolo em meus próprios braços. Quero ser o pilar que me mantem seguindo em frente. Eu posso ser. Tudo parece incerto, assustador, mas eu posso ser. Preciso ser.

            A insegurança é a minha pior inimiga e ela está bem aqui, dividindo espaço com vários outros sentimentos e sensações na minha tumultuada mente. A incerteza dessa nova página e os desafios que vem junto, me dão um frio na barriga. Esse frio já foi gostoso de sentir, mas hoje é extremamente desconfortável. Eu sei que eu estou lutando contra a minha mente ansiosa e que eu deveria escutar meus próprios conselhos: um dia de cada vez, um passo de cada vez, um desafio de cada vez. Mas é tão difícil escutar isso quando o amanhã parece tão incerto e escuro. Não sei o que essa nova página me reserva. Posso ter algumas ideias, alguns vislumbres, mas se tratando da vida, surpresas aparecem a todo momento. E mais uma vez serei eu por mim e eu contra mim. É cansativo. É uma loucura. Só queria que fosse mais simples. Pode ser. Precisa ser.

            O amanhã me trará muito mais que um novo desafio, o amanhã me apresentará um novo ciclo, um que eu preciso ultrapassar se quero alcançar o próximo. Nunca fica mais fácil. A vida não fica mais fácil. A tendência é sempre o endurecimento do caminho. Mas depois de algumas experiências, a tendência é ficarmos mais fortes. Eu quero ser mais forte. Eu espero estar mais forte. E apesar de toda incerteza e insegurança, eu espero aproveitar, pelo menos um pouquinho, a jornada. Que mesmo em meio aos desafios, estresses e ansiedades diárias, eu possa ter um momento de respiro, um momento que meu sorriso seja genuíno e realmente feliz. Eu não quero ter que esperar pela plena felicidade, se é que ela realmente existe. Eu quero ter instantes de felicidade e alivio agora e todos os dias. E eu quero ser sempre o motivo da minha esperança, da minha luta. Porque sou eu por mim mesma e para mim.

             

Seu corpo

            O jeito que ele a olha faz com que todos os seus pelos se arrepiem. Ela sabe que deveria ir com calma, mas não vai resistir aquela boca. Não vai resistir ao intenso desejo de ter aquelas mãos percorrendo todo o seu corpo. Ela quer tocá-lo, quer sentir o seu perfume bem pertinho dela. Ela quer sentir todo o seu vigor. Quer escutar ele falando o seu nome no ouvido. Loucura, ela sabe. Como pode querê-lo tanto? É apenas o primeiro encontro. Ela deveria ouvir todos os conselhos... Mas não sabe se pode resistir à esse intenso desejo, à essa vontade que a percorre por inteira. Todo o seu corpo pede por ele colado nela.

- Ei, onde você está? Vivian? – Renan chama a atenção da mulher à sua frente.

- Desculpa. Estava apenas pensando em algo. – Ela responde e fica corada com seus pensamentos libertinos.

- Adoraria saber. Essa cara está gostosa demais, o que me deixa bem curioso. – Ele confessa o desejo e ela ri timidamente.

- Eu não posso te falar tudo. Não posso deixar meu filtro de lado mais uma vez.

- Você sabe que comigo não tem isso, né?! Você tem total liberdade pra falar o que quiser.

- Eu sei... – Vivian diz. Após um longo e inspirador suspiro, ela observa as mesas ao redor, pra ter certeza que não tem ninguém os observando, e se aproxima um pouquinho dele. – Eu estava pensando no desejo que tenho por você. – A jovem confessa baixinho.

- Eita. Gosto de saber disso. E pode ter certeza que o desejo é recíproco. Te conhecer só confirmou isso. Estou doido pra ter você só pra mim. – Renan fala e passa sua mão bem devagar pelo braço da jovem, que fica arrepiada na hora.

- Ei, não me atiça desse jeito. Estamos em público. – Ele ri com o pedido e continua a percorrer seus dedos pela pele desnuda da mulher à sua frente. – Vai ser assim? Então tá bom. – Vivian morde seus lábios e leva uma de suas mãos debaixo da mesa até encontrar a coxa do Renan. Ele estremece na hora em que aquela pele delicada toca o seu corpo.

- Vai ser uma competição?

- Claro que não, eu sei como você é competitivo. – Ela diz e eles riem juntos.

- Você não sabe como estou doido pra te beijar. Estou esperando desde o momento em que pus meus olhos em você.

- Eu também...

- Com licença, posso retirar os pratos? – O garçom interrompe o flerte.

- Sim, pode. – Renan responde.

- Desejam mais alguma coisa?

- Não. Só a conta, por favor. – Vivian diz e pisca para o Renan. – Na verdade, eu desejo você. – Ela fala depois que o garçom sai de perto deles.

- Quando você quiser. – Responde.

- Agora. – A jovem diz.

- Seu desejo é uma ordem. – Vivian sorri imaginando o que o resto da noite reserva para os dois. Todo o seu corpo deseja aquele homem. Ela espera há muito tempo para finalmente poder sentir o seu toque, o seu gosto e a sua pele grudada na dela. E sobre ser apenas o primeiro encontro, ela já não tem receios. Não se importa com isso. A verdade é que a conexão entre eles vai além da intensa atração física. Então, não tem porquê se limitar por besteiras. Só resta aproveitar o momento e o desejo que consome todo o seu corpo. 

 

Eu apenas quero que você seja feliz

            “Escute, por favor, eu não quero ter que repetir. Não sei se consigo falar mais de uma vez. É tão difícil... Você precisa partir”, Luana diz olhando para o seu reflexo no espelho. As palavras saem com dificuldade de sua boca e seus olhos já transbordam lágrimas e a mais intensa emoção. Como abrir mão do homem que ela mais amou em toda vida? Nunca pensou que este dia chegaria. Ela sonhava com um amor sem fim, com lindas alegrias e eternas juras, mas a vida nem sempre acontece do jeito que imaginamos e hoje ela precisa decidir se desiste ou insiste. Definitivamente, é a escolha mais difícil que já fez em sua vida. E só a ideia de ter que desistir parte o seu coração por completo. A dor é dilacerante, é efervescente. “Não quero! Como dói...”, e a jovem apaixonada continua conversando com o seu reflexo triste. Então a campainha toca e parece que o mundo para. É ele. Ela sabe que é ele. A ideia de encarar a vida real lhe dá uma fisgada no peito. Suas mãos começam a suarem, as pernas ficam trêmulas. Ela não consegue ir adiante e a campainha toca mais uma vez. Algo está segurando seus pés naquele banheiro. Ela não quer encarar a verdade. Ela não quer que doa ainda mais. E como dói.

            No entanto, após a terceira vez que a campainha toca, Luana atravessa a porta do banheiro e dá os primeiros passos para a vida real. “O que eu vou fazer? O que eu vou falar? Eu o amo demais, mas...”, pensa enquanto caminha em direção à porta até aquele que faz parte de sua vida há quase três anos. E quando ela, finalmente, abre a porta e encontra aqueles intensos olhos castanhos a encarando, o mundo realmente para. Uma dor ainda maior toma conta do seu sensível coração e ela pensa que não existem palavras suficientes para descrever o que está sentindo. Nunca imaginou uma coisa dessa acontecendo com ela, com eles. “Oi, minha linda. Por que você demorou tanto para atender a porta?”, Ângelo diz sorrindo e a sua namorada muda rapidamente de expressão. “Minha linda? Minha? Não acredito”, Luana pensa e fica ainda mais chateada. Além da tristeza, agora uma raiva toma conta da sua mente barulhenta e confusa. A única certeza que ela tem é que pela primeira vez não sentiu borboletas no estômago ao vê-lo. Na verdade, ela sentiu foi angustia, decepção.

          “O que foi, meu bem? Por que você está com essa cara?”, ele questiona e a jovem fica ainda mais decepcionada. “Meu bem? Sério que você está fingindo que nada aconteceu? Não lembra do combinado que fizemos quando nos conhecemos? Sinceridade em primeiro lugar. Ou você se esqueceu? Na verdade, você esqueceu de várias coisas. O nosso amor, a lealdade, a fidelidade... Muitas coisas”, Luana nem precisa terminar de falar. A expressão do seu namorado é tão inesperada que ela sente vontade de dar uma risada. “Como você soube?”, ele pergunta e ela balança a cabeça, incrédula com o que ele disse. “Como eu soube? Eu que te pergunto: como você pôde me trair com a Tânia? Aquela criatura que se passava por amiga. Mas depois me resolvo com ela. Como você pôde fazer isso, Ângelo? Eu não era suficiente pra você? Quer saber, não preciso que me responda isso. Eu tinha dúvidas se deveria te escutar, te dar uma oportunidade. Mas a expressão que você fez foi o suficiente para eu me decidir. Não enxergo arrependimento em seus olhos. Infelizmente, nosso amor não foi o bastante pra você. Nem sei se você considerava como amor. Estou muito decepcionada com você. Não reconheço o homem à minha frente. Não preciso de explicações. Nada do que você falar vai ser o suficiente pra apagar essa dor que eu estou sentindo. Você não é o homem por quem me apaixonei. No entanto, eu não desejo mal nenhum a você. Eu apenas quero que você seja feliz. Mas seja feliz longe de mim”, Luana diz e o manda embora de sua casa e de sua vida. As lágrimas tomam conta do seu rosto, mas um alivio enorme enche o seu coração. É esperança.