segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

 

Respirar


            Eu continuo respirando, suspirando pelos cantos, deixando meu corpo falar tudo o que deseja. Não digo tudo para quem eu gostaria, no entanto, sei que é o melhor. É melhor continuar neste dialogo com a única pessoa que me entende por completo: eu mesma. O que eu estou esperando? O que mais eu estou esperando? Não sei, não consigo me decifrar. Minha mente vagueia, as palavras fogem, eu respiro fundo e me recosto na parede. Eu não sei o que estou esperando, de mim ou de você. Respiro lentamente e solto um palavrão. Eu não sei o que deu em mim. Não fico com raiva assim há muito tempo. Mas é uma raiva direcionada a mim mesma. Unicamente a mim. Sei que estou errada, muito errada. Infelizmente, tenho a consciência de que eu não mereço essa raiva ou qualquer sentimento negativo. Sei que não fiz as melhores escolhas. Mas tudo o que fiz foi seguindo o órgão mais importante do meu corpo. O órgão mais teimoso também. Pois não adianta, o meu coração é mestre em teimosia e é completamente “bobão”. No entanto, eu o defendo. Não consigo culpa-lo ou odiar suas escolhas. O coração é totalmente inocente e ingênuo. A culpa está na minha cabeça, por ter aceitado o otimismo encantador do meu coração. Por isso a minha raiva.

            Eu respiro penosamente e escorrego pela parede até chegar ao chão. Abraço as minhas pernas e posso sentir o meu bobo coração saltitando. “O que mais você quer?”, pergunto em voz alta. Não tenho nenhuma resposta clara. Meu coração apenas continua a sua melodia intensa. Sempre defendi e defenderei o meu coração, mas às vezes cansa. É super cansativo e esgotante escutar esse teimoso coração. Mesmo quando se está acostumada a esperar o pior, receber algumas pancadas ainda é extremamente doloroso. E meu coração continua na sua frenética batida, quase posso escutá-la. Respiro fundo. “O que farei com você?”, pergunto mais uma vez e nada de resposta. Recebo apenas algo parecido com um deboche. É como se meu coração dissesse: “Pode acostumar, eu não vou mudar”. Solto um suspiro e deixo as lágrimas inundarem o meu rosto. Quem eu quero enganar? Minha mente será vencida outras vezes pelo meu coração e eu me cercarei de incertezas e pessoas quase indecifráveis. Não tenho medo de chorar, de despejar lágrimas por pessoas que talvez não as mereçam. Na verdade, meu medo é que as lágrimas durem para sempre e meu coração nunca repouse sua inocência naquela pessoa que fará o mesmo por mim. Respiro fundo e escuto com perfeição a melodia do meu ingênuo coração. Sorrio e volto a respirar. “Você não tem jeito mesmo”, digo baixinho.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

 

Escarpa da emoção


            A noite está com uma beleza descomunal, de arregalar os olhos de qualquer pessoa, até o oposto dos românticos. Uma noite extravagante, delirante, que enche a vista de brilho e encanto. No entanto, acho que delirante estou eu. Estou delirante, enlouquecendo com esse brilho, que chega até a me emocionar. E é por pouco que lágrimas não escorrem pelo meu rosto admirado. Eu amaria compartilhar essa gostosa, e ao mesmo tempo estranha, sensação que esta noite me faz sentir. É de encher o peito, de escancarar toda a energia que o meu coração possui. Tenho até medo dele pular demais... Ah, melhor eu deixar o medo de lado. É bonita demais. Tudo parece certo, no seu lugar e perfeito. Cada estrelinha brilha de um jeitinho tão harmônico. Junto com a bela lua crescente de janeiro, parecem formar uma super virtuosa orquestra. Agora estou sorrindo e mais uma vez quase me inundando em lágrimas de emoção. Que noite encantadora, que coração teimoso... Sim, meu coração vive uma teimosia delirante. Ele insiste em sentir, mesmo quando as circunstâncias não são favoráveis e o amado é questionável. Sim, um bobo coração. Mas um coração verdadeiro. Teimoso e verdadeiro. Já até desisti de lutar contra. Apenas sinto, sinto ainda mais, choro às vezes, sorrio e aproveito o viver na emoção, como estou vivendo a energia desta noite incrível.

            Mas estou assustada. Delirante, com brilho nos olhos, calor no coração, mas assustada. Início de ano, todo mundo fala em recomeço, novas oportunidades, mudanças. Mas deveria ser sempre assim, ou não? Enfim, não é bem isso. Começos de anos sempre me deixam melancólica, pensativa (mais que o normal) e preocupada. No entanto, esta noite estou assustada. Há quem diga que possa ser a noção da chegada de uma idade chave. Sei que muito já mudamos, desatrelando a idade às conquistas, crescimento, etc. Ainda assim, há uma leve pressão, que luto diariamente contra ela. Tenho conseguido e estou verdadeiramente orgulhosa. O que me assusta então? O que enche o meu coração de preocupação e minha mente de inúmeras perguntas? Apesar da contagiante noite, de fazer qualquer frio se apaixonar, meu corpo se assusta e retrai. É uma complexidade. Há brilho e lágrimas nos olhos, coração saltitante, sorriso genuíno, corpo aquecido, mas há uma faísca de temor. Não gosto dessa última sensação, ainda mais por não saber a sua origem. Eu realmente não sei. Ainda não sei.

            Nesta noite delirante (ela e eu), eu só queria suas mãos em meu corpo. Eu sei, loucura. Tão próximo, tão distante. Numa noite tão incrível como esta, com uma pessoa tão encantada e assustada como eu, suas mãos seriam o toque perfeito. Um toque que suavizaria o temor, que me permitiria compartilhar tamanha emoção. Quem sabe poderia se delirar comigo, ou como eu... Seria simplesmente o detalhe que falta nesta noite ardente. Sim, estou assustada, mas meu corpo é teimoso e quer captar todas as emoções possíveis. Quero me abrasar com você, com seu toque, seu perfume. Vamos arder sob essa deliciosa melodia, com as estrelas e a lua tocando nossas peles suadas. Vamos soltar as emoções, as ações, tudo que esta noite delirante permitir. Vamos deixar esta noite de janeiro de testemunha do nosso abrasador encontro.

domingo, 1 de janeiro de 2023

 

Eu vou


            Brilho nos olhos, esperança no peito quente, mãos trêmulas e a confiança de que o incerto se tornará certo, de que o esperado irá chegar e que o próximo dia será muito melhor que o anterior. Hoje, apenas hoje, eu me permito parar, desacelerar e refletir com cautela. Não estou exatamente parada, não deixei a vida correr sozinha, eu apenas me permiti respirar um pouquinho mais devagar. Os dias são uma loucura, quando percebemos a rotina nos engole, os problemas nos engolem e os sonhos, os grandes objetivos, muitas vezes desenhados em noites inspiradoras de réveillon, se perdem ou ficam em segundo plano. Mas meu coração é teimoso, ele pode fraquejar em algumas áreas, mas ele não está pronto para desistir dos nossos sonhos. Meu coração está firme e é ele que me mantem forte e em pé. Meu coração é meu guia, meu suporte, meu incentivador, meu maior tesouro e bem mais precioso. Meu coração é teimoso em várias coisas, mas nunca me abandonou, nunca deixou de lutar por mim e por meus objetivos. Então é por ele e com ele que eu sigo. Eu desacelerei hoje, mas eu vou ficar em pé com a ajuda dele amanhã e ir atrás de tudo que sonho e mereço. Porque a fé e a esperança que invadiram o meu coração, nada e nem ninguém vai mudar. O que meu coração fala sempre será o mais importante pra mim. Posso quebrar a cara algumas vezes, mas prefiro segui-lo. Uma hora ou outra acertamos juntos.

            Eu queria ser forte sempre, acordar todos os dias com o pensamento positivo, com aquela atitude de que posso resolver qualquer problema que aparecer. Mas a vida não é simples assim, né?! Não tem como ficarmos bem todos os dias, fortes todos os dias e em qualquer situação. Não somos super-heróis. Temos um coração que bate intensamente, que nos sustenta, mas que também pode ser mole e sensível em várias situações. Temos um coração que pode amar demais a pessoa errada, a ideia errada, a visão errada de vida. Mas o nosso coração também pode amar a pessoa certa, a ideia certa, a visão de vida certa, e mesmo assim sofrer. Ele bombeia sangue, bate forte e ainda mais forte em algumas situações. Ele não é indiferente a tudo. Sempre vai ter alguma coisa, mesmo que pequena, que irá afetá-lo. Então não tem como ser perfeita, não tem como a vida ser perfeita, livre de problemas difíceis de resolver, pessoas problemáticas e maldosas, ideias negativas. Simplesmente, isso é viver. Altos e baixos, otimistas e negativas, bem e mal. Cabe a nós não cedermos por completo aos momentos de dificuldade. Tudo bem parar, respirar com calma, esquecer os problemas temporariamente, resolver o bem e o mal de sua vida no dia seguinte. Tudo bem esquecer o ontem complicado hoje. Tudo bem deixar pra amanhã. Só não podemos – não posso – deixar pra depois de depois de amanhã. Não posso adiar ainda mais. Não vou adiar. Vou viver, com todas as complicações e coisas bonitas também. Eu vou continuar amanhã.