quarta-feira, 6 de abril de 2022

 

A indiferença do sentir


            Quantas e quantas vezes nos pegamos iludidos, sentindo muito mais além daquilo que o outro nos ofereceu. Quantas e quantas vezes nosso coração saltitou de emoção e recebeu migalhas em troca. Quantas e quantas vezes escutamos que o problema não era nós e sim o outro, algo como não estar pronto, não estar no momento certo e tantas outras desculpas. Cá entre nós, o outro é um bicho de sete cabeças, que confunde a nossa mente e bagunça o nosso coração. “Ah, mas não pode ser tão emocionado”, dizem. Vivem nos dizendo pra não sentir, controlar nossas emoções e sentimentos e não expor tudo o que sente. Simplesmente, estão nos dizendo pra fazer um teatro e guardar aquilo que sentimos a sete chaves. Sinceramente, muitas vezes dá realmente vontade de fazer isso. Evitar o desgaste, a decepção, a exposição. Sinceramente, fazemos isso muitas vezes. Quantas e quantas vezes você fingiu indiferença ou pouco interesse para ser notado e atrair o desejo do outro? Funcionou? Não funcionou? Sim e não para ambas as perguntas. A verdade é que o ser humano é extremamente complicado. E cada cabeça, cada personalidade, funciona de um jeito mais complexo que o outro. Afinal, por que depois de me conquistar o outro para de se importar? Por que se eu exponho uma concorrência, o outro quer me disputar? Por que tão idiota assim? Não seria mais fácil e gostoso simplesmente sentir e viver algo legal com alguém legal? Por que complicar quando o outro só tem coisas boas a oferecer? É medo? É ansiedade? É canalhice? É imaturidade? Será tudo isso junto e um pouco mais? Claro que deixar o outro saber como me sinto é um risco enorme. Posso ser ignorada, humilhada, decepcionada... Uma infinidade de coisas que prefiro nem pensar. Mas se eu não der o primeiro passo, como vou saber que poderemos dar o segundo juntos? No entanto, se abrir, ser “emocionado”, é um risco gigantesco. Afinal, estamos falando do ser humano e da sua eterna complexidade. Mas aí se parece “certo”, “real” e empolgante, por que não arriscar? Como saber que vale a tentativa? Como saber que ficar vulnerável diante do outro terá um desfecho positivo? Sinceramente, parte de mim acredita que dá pra sentir. Outra parte acha que é mais uma vez o meu sensível coração querendo se entregar e não há como prever o resultado. Enfim, é incerto. No entanto, aquela empolgante expectativa pode nos estimular e dar coragem para ir contra as insensíveis convenções de que não devemos ser “emocionados” e, simplesmente, sentir e expor esse sentimento. É a tal da indiferença que muitos seres humanos criaram contra o sentir. Não tem porquê ser ruim. Não tem porquê ser humilhante. Claro que há uma chance do outro não sentir o mesmo. Mas e se ele sentir? E se ele apenas não tem coragem e está ansioso? O que faremos? Perderemos aquela empolgante chance de dar certo? Deixaremos a vida passar e com ela a oportunidade de viver? Porque sentir nada mais é do que viver, então cabe a cada um abandonar, gradualmente, esses pesos que nos impedem de sentir, de encarar os sentimentos e as emoções. Então te pergunto: hoje você vai sentir ou vai ser indiferente?



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