A indiferença do sentir
Quantas e quantas vezes nos pegamos iludidos,
sentindo muito mais além daquilo que o outro nos ofereceu. Quantas e quantas
vezes nosso coração saltitou de emoção e recebeu migalhas em troca. Quantas e
quantas vezes escutamos que o problema não era nós e sim o outro, algo como não
estar pronto, não estar no momento certo e tantas outras desculpas. Cá entre
nós, o outro é um bicho de sete cabeças, que confunde a nossa mente e bagunça o
nosso coração. “Ah, mas não pode ser tão emocionado”, dizem. Vivem nos dizendo
pra não sentir, controlar nossas emoções e sentimentos e não expor tudo o que
sente. Simplesmente, estão nos dizendo pra fazer um teatro e guardar aquilo que
sentimos a sete chaves. Sinceramente, muitas vezes dá realmente vontade de
fazer isso. Evitar o desgaste, a decepção, a exposição. Sinceramente, fazemos
isso muitas vezes. Quantas e quantas vezes você fingiu indiferença ou pouco
interesse para ser notado e atrair o desejo do outro? Funcionou? Não funcionou?
Sim e não para ambas as perguntas. A verdade é que o ser humano é extremamente
complicado. E cada cabeça, cada personalidade, funciona de um jeito mais complexo
que o outro. Afinal, por que depois de me conquistar o outro para de se
importar? Por que se eu exponho uma concorrência, o outro quer me disputar? Por
que tão idiota assim? Não seria mais fácil e gostoso simplesmente sentir e
viver algo legal com alguém legal? Por que complicar quando o outro só tem
coisas boas a oferecer? É medo? É ansiedade? É canalhice? É imaturidade? Será
tudo isso junto e um pouco mais? Claro que deixar o outro saber como me sinto é
um risco enorme. Posso ser ignorada, humilhada, decepcionada... Uma
infinidade de coisas que prefiro nem pensar. Mas se eu não der o primeiro
passo, como vou saber que poderemos dar o segundo juntos? No entanto, se abrir,
ser “emocionado”, é um risco gigantesco. Afinal, estamos falando do ser humano
e da sua eterna complexidade. Mas aí se parece “certo”, “real” e empolgante, por
que não arriscar? Como saber que vale a tentativa? Como saber que ficar vulnerável
diante do outro terá um desfecho positivo? Sinceramente, parte de mim acredita que
dá pra sentir. Outra parte acha que é mais uma vez o meu sensível coração
querendo se entregar e não há como prever o resultado. Enfim, é incerto. No
entanto, aquela empolgante expectativa pode nos estimular e dar coragem para ir
contra as insensíveis convenções de que não devemos ser “emocionados” e,
simplesmente, sentir e expor esse sentimento. É a tal da indiferença que muitos
seres humanos criaram contra o sentir. Não tem porquê ser ruim. Não tem porquê
ser humilhante. Claro que há uma chance do outro não sentir o mesmo. Mas e se
ele sentir? E se ele apenas não tem coragem e está ansioso? O que faremos?
Perderemos aquela empolgante chance de dar certo? Deixaremos a vida passar e
com ela a oportunidade de viver? Porque sentir nada mais é do que viver, então
cabe a cada um abandonar, gradualmente, esses pesos que nos impedem de sentir,
de encarar os sentimentos e as emoções. Então te pergunto: hoje você vai sentir
ou vai ser indiferente?
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