segunda-feira, 25 de abril de 2022

 

Cheirinho de afeto


Aaah, esse aroma inebriante, que me faz suspirar, me traz conforto e balança todas as minhas estruturas. É um aroma gostoso, envolvente, viciante, totalmente abrasador. Eu poderia, simplesmente, ficar assim, o dia inteirinho, apenas aproveitando desse aroma, que me consome por inteira. É único, é sincero, verdadeiro e para mim. Sim, é um aroma que me faz sentir que é certo e possível. Há medo? Sim, como tudo na vida. Mas há uma força inexplicável envolvida, que me incentiva a ir além e correr atrás do “impossível”. No entanto, para uma mente e um coração tocados pelos sonhos, não existe isso de impossível. Se tem o querer, se tem as condições favoráveis, se corremos atrás para superar as dificuldades, então me parece bem possível. Claro que nada é perfeito, então existem alguns fatores que preciso levar em conta. Mas os sinais... Aaah, os sinais... Eles indicam que eu posso voar, que eu posso suspirar e aproveitar desse delicioso aroma. Tanto que se encontrar comigo e eu não te ver, tenha certeza de que estou num dos meus inúmeros momentos de abstração, uma viagem pelas minhas memórias, aproveitando cada faísca desse intenso aroma em minha mente e em meu coração. Pois bem, um momento de energização, quando sinto que estou viva e posso tudo, mesmo que isso também me deixe vulnerável às decepções e erros mundanos.

Vocês devem me achar uma louca por me aventurar no incerto, na loucura que é sentir neste mundo tão injusto. Vocês devem achar que sou inocente demais por acreditar no melhor das pessoas e naquilo que sinto e acredito que o outro sente. Seja loucura, seja inocência, tanto faz, dê o nome que quiser, eu prefiro acreditar, eu prefiro sentir. Eu prefiro me inebriar nesse delicioso aroma que paira no ar todas as vezes que eu penso ou que tenho um vislumbre de sua figura em minha mente. Eu prefiro acreditar que é possível, mesmo que para isso eu precise me agarrar e me forçar a colocar os pés de vez em quanto no chão. Sim, eu me chamo para a realidade, mesmo suspirando com as estrelas. Afinal, se eu me perder em meio as dificuldades e tristezas do dia a dia, nada sobrará de mim. Nada de mim poderá brilhar, porque sou feita de encantos, de sonhos e luta. Tenho medos, tenho inseguranças, receios, e várias reticências, mas luto minuto a minuto para continuar acreditando que sentir é possível, que o belo, o leal, o justo, o verdadeiro, sincero e recíproco também é possível. Eu luto contra meus pensamentos cansados e negativos, luto contra o pessimismo alheio, contra as curvas e contra os contratempos. Só não conseguiria lutar contra esse cheirinho de afeto que me faz suspirar. 

 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

 

Dois corações


            Será que é possível? Será que é certo? Será que é justo? Será que alguém realmente conseguiu gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? Isso realmente pode acontecer? Eu tenho algumas teorias, várias dúvidas e a mente e o coração divididos para essas e outras perguntas. Há quem diz que se você se apaixonou por uma segunda pessoa é porque você realmente não gosta da primeira. Sim, isso pode acontecer, mas acredito não ser uma verdade universal. Para casos assim eu tenho uma teoria, dentre várias, que também não é uma verdade universal. Eu penso que qualquer relacionamento passa por fases. Há momentos de paixão, excitação, conquista, admiração, sossego e até frieza. Afinal, falamos do ser humano. Então, se você está apaixonada por uma pessoa e acaba envolvida por uma segunda, algo está acontecendo de errado entre você e a primeira. Pode acontecer do amado estar frio, não estar te valorizando, subestimando o carinho que você tem por ele ao se fazer muito tempo ausente. Claro que se você não estiver satisfeito com a forma que o outro te trata, você deve falar e esclarecer as coisas, entender o motivo da frieza e da desvalorização. Mas sabemos que falar é fácil, na prática não é tão simples. Deveria ser, na verdade. Não é. Existem as inseguranças, o medo e tantas outras questões que impedem o diálogo e assim esclarecer a relação, seja qual for. Então, neste momento, muitos podem ficar vulneráveis, carentes e com o coração sensível. Este último é o mais perigoso. Porque se o coração sentir que quem o habita não está valorizando seu sentir, ele ficará mais vulnerável e, de certa forma, aberto para outras pessoas. Isso é certo? Pra mim, não. Mas há situações difíceis de controlar, ainda mais quando há insegurança e medo, mesmo que estes sejam “sem sentido” para o outro. Por isso e, tanto mais, um coração pode ficar encantado por uma segunda pessoa, ainda mais se essa pessoa for sempre presente e oferecer o que o primeiro amado não pode ou não quer dar. Não digo que será um sentimento ou paixão na mesma intensidade. Não tem como gostar igual de duas pessoas, isso sim me parece impossível. Porque o gostar, a paixão e o amor surgem a partir do acumulo das simpatias das qualidades, defeitos e atitudes do amado. O sentimento pelo segundo pode ser maior que pelo primeiro? Também acredito nesta possibilidade. É tudo uma questão do quanto o coração está cansado de sofrer com o primeiro amado e de como o segundo irá se comportar. Claro que tudo que falei não se aplica a todas pessoas. É apenas uma dentre diversas possibilidades. Cada ser humano sente e age de uma forma. Há quem que mesmo com o coração machucado pelo amado não consegue enxergar nenhuma outra pessoa por muito tempo. Há quem possui um coração ou mente bem grandões, com espaço para distribuir afeto para três, quatro pessoas. Há quem guarda o amado com tanto carinho no coração que não ousa nem pensar em outras possibilidades. Ainda há quem está apaixonado e tem medo de sentir ainda mais, aí acaba distribuindo afeto às outras pessoas. Deste último eu tenho dó, afinal, por medo, com certeza, irá perder o seu grande amor. E, por fim, ainda possuo mais um tanto de teorias, dúvidas, medos, inseguranças. Como se apaixonar, amar e distribuir o afeto se o amado não permite? Resta apenas arriscar, errar, tentar mais uma vez e sempre se lembrar de se amar em primeiro lugar - aí está um amado que pode habitar o seu coração com tranquilidade enquanto gosta de outra pessoa.

terça-feira, 12 de abril de 2022

                    

Pobre coração



Das coisas mais belas da vida, ter um coração que sente, que pulsa, que saltita de emoção e ama, é uma dádiva. No entanto, o coração não é racional, não sabe bem onde colocar seu afeto. Ele pode até ter uma intuição, uma vontade que ancora no ser amado, mas isso não é garantia de nada. O coração erra, o coração aprende, mas aprende depois de muita dificuldade. Mesmo assim, há momentos em que ele insiste em perseguir uma direção, ainda que todos os sinais apontem para a decepção, para o erro. Por que? Por que seguir no caminho errado, mesmo ficando tão claro? Uma possibilidade é aquele fio de esperança de que tudo e todos estejam errados e que a qualquer momento algo magnifico irá acontecer a favor do coração. É, bem longe de ser racional, bem longe de ser o certo e o ideal. Mas além de irracional, o coração pode ser teimoso, e ainda pode ter medo da mudança, de ficar longe do amado tão conhecido. Não apenas o órgão mais importante do corpo, a mente também tem dificuldade de sair da zona de conforto, mesmo que não seja um lugar tão confortável assim. No entanto, quando a mente aceita que precisa ter a mudança e quer se desprender daquilo que não faz sentido, há uma chance. O que não dá é para o coração e a mente insistirem juntos no erro. Sim, eles vivem insistindo no erro, naquela iludida esperança de que sentir naquele momento vale a pena. Então é uma tarefa extremamente difícil fazer a mente e o coração aceitarem a mudança e pararem de insistir no amado errado (ou no objeto/situação errado). Como é difícil! Como é complicado espantar da mente as memórias tão gostosas e estimulantes, que nos fez sorrir com todo o corpo e ter prazer pela espera, pela realização. Como é difícil abandonar aquilo que parece tão real, certo e próximo da nossa pele, que nos faz arrepiar. Pobre coração, não possui um botão que o afaste do amado errado. Pobre coração, não tem critérios racionais para escolher onde repousar seu afeto. 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

 

A indiferença do sentir


            Quantas e quantas vezes nos pegamos iludidos, sentindo muito mais além daquilo que o outro nos ofereceu. Quantas e quantas vezes nosso coração saltitou de emoção e recebeu migalhas em troca. Quantas e quantas vezes escutamos que o problema não era nós e sim o outro, algo como não estar pronto, não estar no momento certo e tantas outras desculpas. Cá entre nós, o outro é um bicho de sete cabeças, que confunde a nossa mente e bagunça o nosso coração. “Ah, mas não pode ser tão emocionado”, dizem. Vivem nos dizendo pra não sentir, controlar nossas emoções e sentimentos e não expor tudo o que sente. Simplesmente, estão nos dizendo pra fazer um teatro e guardar aquilo que sentimos a sete chaves. Sinceramente, muitas vezes dá realmente vontade de fazer isso. Evitar o desgaste, a decepção, a exposição. Sinceramente, fazemos isso muitas vezes. Quantas e quantas vezes você fingiu indiferença ou pouco interesse para ser notado e atrair o desejo do outro? Funcionou? Não funcionou? Sim e não para ambas as perguntas. A verdade é que o ser humano é extremamente complicado. E cada cabeça, cada personalidade, funciona de um jeito mais complexo que o outro. Afinal, por que depois de me conquistar o outro para de se importar? Por que se eu exponho uma concorrência, o outro quer me disputar? Por que tão idiota assim? Não seria mais fácil e gostoso simplesmente sentir e viver algo legal com alguém legal? Por que complicar quando o outro só tem coisas boas a oferecer? É medo? É ansiedade? É canalhice? É imaturidade? Será tudo isso junto e um pouco mais? Claro que deixar o outro saber como me sinto é um risco enorme. Posso ser ignorada, humilhada, decepcionada... Uma infinidade de coisas que prefiro nem pensar. Mas se eu não der o primeiro passo, como vou saber que poderemos dar o segundo juntos? No entanto, se abrir, ser “emocionado”, é um risco gigantesco. Afinal, estamos falando do ser humano e da sua eterna complexidade. Mas aí se parece “certo”, “real” e empolgante, por que não arriscar? Como saber que vale a tentativa? Como saber que ficar vulnerável diante do outro terá um desfecho positivo? Sinceramente, parte de mim acredita que dá pra sentir. Outra parte acha que é mais uma vez o meu sensível coração querendo se entregar e não há como prever o resultado. Enfim, é incerto. No entanto, aquela empolgante expectativa pode nos estimular e dar coragem para ir contra as insensíveis convenções de que não devemos ser “emocionados” e, simplesmente, sentir e expor esse sentimento. É a tal da indiferença que muitos seres humanos criaram contra o sentir. Não tem porquê ser ruim. Não tem porquê ser humilhante. Claro que há uma chance do outro não sentir o mesmo. Mas e se ele sentir? E se ele apenas não tem coragem e está ansioso? O que faremos? Perderemos aquela empolgante chance de dar certo? Deixaremos a vida passar e com ela a oportunidade de viver? Porque sentir nada mais é do que viver, então cabe a cada um abandonar, gradualmente, esses pesos que nos impedem de sentir, de encarar os sentimentos e as emoções. Então te pergunto: hoje você vai sentir ou vai ser indiferente?