Desde que te vi pela
janela
Andei
pensando, andei avaliando... Me olhei no espelho, encontrei um olhar intenso e
um pouco perdido. Nos minutos seguintes eu não olhava mais aqueles olhos, eu
olhava mais além. Era como se eu estivesse dentro de mim. Desde as 7hrs e 05min
daquela quarta-feira quente e úmida, desde que
te vi pela primeira vez da minha janela, senti algo brotar dentro de mim. Eu
senti que era especial e diferente. Naquele mesmo dia eu já te tinha em
perfeito delineado em minha mente. Eu nunca me esqueceria do contorno do seu
rosto, do seu respirar acelerado, dos seus passos apressados. Eu nunca me
esquecerei. Parece que foi ainda hoje de manhã que te vi pela primeira vez.
Meus olhos cansados de uma noite mal dormida despertaram intensamente com a sua
presença. Não te olhei nem por 59 segundos, mas olhei o suficiente pra perceber
algo. E até sentir. Desde que te vi pela janela eu me apaixonei por você.
E
no dia seguinte lá estava eu novamente na janela só esperando. Imaginei, pelo
seu andar, que no dia anterior você estava atrasado, por isso acordei cedo para
te ver passar. E eu estava certa. Você passou antes, com um andar concentrado,
mais tranquilo. E novamente me apaixonei por você. Por dias e mais dias eu
acompanhei os seus passos, às vezes apressado, às vezes distraído, tranquilo,
sereno, entusiasmado. Foram dias e mais dias. E cada novo dia eu me apaixonava
um pouquinho mais por você. Mas desde aquela quarta-feira eu tenho pensado, e o
pensamento surgiu quando me olhei naquele espelho. Pensei em como eu gostaria
de conversar com você, de olhar dentro dos seus olhos, de olhar de frente para
o seu sorriso. Mas eu não tinha coragem de fazer isso, eu não poderia... “Olha
pra você, Milena! Você seria suficiente? Você seria especial pra ele? Besteira,
besteira! Estou apenas admirando... Muitas pessoas falariam de nós, muitas
pessoas falam de outras pessoas. Ele é lindo e interessante. E eu? Não sei, não
sei.”, eu avaliei perdida dentro dos meus olhos. Eu imaginava não ser capaz de
ter algo com ele, nem te trocar algumas palavras. Eu não me sentia “a sua
altura”. Eu pensava nas outras pessoas, que eu via sempre comentando sobre
casais. Eles avaliavam uns aos outros com frequência e diziam expressões como “eles
não combinam”. Então eu não ousava imaginar que nós poderíamos combinar. Mas eu
continuei com os meus olhares intensos. E quando eu não o via, imagina mil
coisas.
A
vida de admiradora de janela se encerrava. O estranho por quem eu estava
apaixonada continuava seu percurso, mas eu mudei minha rotina. Meu trabalho
mudou de horário, me obrigando a sair de casa mais cedo. Fiquei chateada, mas
também pensei que deveria ser um sinal pra eu esquecer aquele homem. Eu nunca
seria boa o suficiente pra ele, nós nunca daríamos certo. E antes disso tudo,
eu não tomaria nenhuma atitude. Mas mesmo sem vê-lo eu continuava vendo a sua
imagem em minha mente. Por dias, naquele mesmo horário de antes, ele surgia em
minha mente. E assim eu seguia para o trabalho. Caminhando, sorrindo e às vezes
brigando comigo mesma por insistir naqueles pensamentos. Dias e dias depois
algo estranho aconteceu. Estranho, bom e desafiador, para uma jovem recém saída
da faculdade e ainda muito insegura no mundo. Eu seguia para o meu trabalho
quando sinto algo cair na minha cabeça. Quando olho pra cima vejo a sombra de
uma pessoa em um dos últimos andares de um prédio. A pessoa balança a mão e eu
olho pra baixo. Vejo um papel embolado e o pego. Abro. “Pode parecer estranho,
mas não paro de pensar em você. Se você for capaz de esquecer a estranheza me
liga. Alan.” Não soube muito bem como reagir aquilo. Voltei novamente meus
olhos para aquele homem desconhecido e acabei balançando o braço. Guardei o
papel comigo e continuei o meu percurso.
Alguns
minutos caminhando percebi que aquele homem não era de fato desconhecido pra
mim. Era ele, mas eu custava a acreditar. Eu custava a acreditar que ele tinha
me notado. Seu número de telefone estava no meu bolso. O que eu poderia fazer?
Parecia que ele tinha dado o primeiro passo, queria conversar comigo ou algo
assim. O que eu iria falar? Na verdade eu não precisava pensar demais. Passei
dias e mais dias admirando aquele homem, eu precisava criar coragem e fazer
qualquer coisa. Mas como eu era terrível quando se tratava de paquera. E ainda
tinha a minha insegurança. Sempre que eu estava prestes a arriscar, alguma
coisa me puxava pra trás. Eu queria ser confiante, eu queria acreditar que
poderia ser uma pessoa interessante pra ele. Mas eu não conseguia. Passei o dia
avaliando os prós e os contras. Arrumei mil desculpas, impedimentos. Já em casa,
me debrucei na janela e olhei para o céu. Uma estrela brilhava tão forte que
enchia o meu coração de emoção. Meus olhos se encheram de lágrimas. Peguei o
meu celular e mandei uma mensagem meio tímida para o Alan. Sim, eu tinha o seu
número e o seu nome. Então fiquei repetindo mentalmente o seu nome e sorri com
a sua imagem gravada em minha mente.
Que noite longa... Que noite maravilhosa!
Instantes depois de enviar aquela mensagem ele me ligou. No início eu estava
muito tímida e insegura, não falei muito. Ele disse que já havia alguns dias
que queria se aproximar de mim, porque costumava me ver pela janela. Que coincidência!
Não tive coragem de contar que eu fazia o mesmo. Alan falou um pouco sobre ele
e aos poucos, com aquela conversa aberta e tranquila, pude me sentir mais a
vontade e comecei a falar de mim também. Quando me dei conta estava falando
mais do que o normal. Eu costumo falar muito somente com pessoas que já conheço
há bastante tempo. Mas ali naquela noite linda, sem nem olhar em seus olhos, eu
senti familiaridade, eu me senti bem. E lá estava eu me apaixonando mais um
pouquinho por ele. Era mágico, era maravilhoso. Em uma noite conheci muito dele
e sabia que em breve confirmaria todas aquelas sensações positivas. Ao termino
da conversa voltei meu olhar novamente para o céu e reencontrei aquela
brilhante estrela. Agradeci. Então adormeci com um sentimento enorme de
esperança. Mas não era uma esperança no Alan, era uma esperança em mim.
O
nosso primeiro encontro não poderia ter sido mais especial. Desde a primeira
troca de olhares, desde o primeiro toque, eu pude confirmar tudo de bom que eu
já estava sentindo. Ele parecia ser especial demais, tanto que eu às vezes duvidava
daquilo ser mesmo real. Eu não estava acreditando que ele estava ali,
aparentando estar mesmo interessado em mim. Todas as palavras e olhares
direcionados a mim eram amorosos, de um encanto que tocava dentro de mim. Eu
sentia que ele era verdadeiro, eu sentia que ele já sentia algo por mim. Era
real. Mas mesmo assim minha insegurança me perseguia. Quando eu estava prestes
a entrar no meu prédio me dei conta do nosso entorno. Fiquei preocupada que
alguém estivesse nos olhando e imaginando coisas a nosso respeito, nos avaliando...
Eu estremeci e ele percebeu. Alan queria saber o que me incomodava e eu
simplesmente respondi “o mundo”. Não precisei falar mais nada. Ele segurou
minhas mãos com carinho e me abraçou. Aquele abraço falava mais que qualquer
texto enorme. Não existem palavras suficientes para descrever o que ele me
dizia com o calor do seu corpo. E o beijo então... Eu perdi em nós e perdi tudo
de mal que poderia passar em minha mente. Por um momento me esqueci do outro
mundo. Eu vivia ali um mundo particular e maravilhoso, onde tudo era certo e
verdadeiro. Ali nós combinávamos, ali eu era linda e interessante, ali tudo era
especial.
A
cada conversa, a cada novo encontro ou toque, eu me via ainda mais apaixonada. O
Alan tem essa coisa indescritível, que me faz encarar o mundo com olhos eletrizantes
e cheios de confiança. Ele tem uma energia contagiante. Ele exala amor. O amor
vem de dentro dele, porque ele sabe como se enxergar, como se posicionar no
mundo. Com o tempo, observando-o bastante, passei a me observar ainda mais. Eu
seguia muito insegura, pensando que a qualquer momento ele se cansaria de mim
ou que alguém iria aparecer pra falar de nós. Mas algo novo surgia. Eu já
estava extasiada de paixão, meu coração fervia, minha mente era um furacão. Só
seus olhos já eram capazes revirar todos os meus pensamentos. Eu estava
completamente apaixonada e envolvida. Mas eu sentia mais a cada novo encontro
ou nova conversa. O Alan despertava em mim momentos mais longos de pensamentos,
mas não só sobre ele e sobre nós, sobre mim. E quando eu estava de frente para
o espelho e começava a questionar quem eu era, eu voltava ao nosso primeiro
encontro, quando ele me segurou e me levou pra um lugar mágico e único. Eu
começava a me sentir mais vezes assim. A confiança surgia dentro do meu peito.
Quando eu pensando no outro mundo e nos seres que o habitam, eu já não deixava
mais as dúvidas tomarem conta dos meus pensamentos. Se era tão bom estar com
ele, se fazíamos tão bem um para o outro e não feriamos ninguém com isso,
porque eu deveria me preocupar. E se eu escutasse que não combinávamos ou algo
parecido? Já não mais me importaria como antes, porque é apenas uma avaliação
externa. Estar bem com ele era suficiente pra mim.
Olhei
mais vezes no espelho e comecei a sorrir. Afinal, eu nem era “feia”. E eu não
precisava realmente ficar me avaliando desse jeito. Eu já me sentia confiante
comigo mesma, não precisava me julgar. Claro que quando eu me arrumava era
diferente, sempre apareciam uns pensamentos avaliando as roupas, o cabelo.
Enfim, eu já não me importava em me avaliar. Eu estava bem, independente de
qualquer resposta que eu pudesse me dar. Mesmo que houvesse dias em que eu
acordasse e pensasse “como estou feia hoje”; mas tudo bem, eu estava tranquila
em estar feia naquele dia. Minha mudança eu devo muito ao Alan. Não
necessariamente aos elogios constantes, ou aos puxões de orelha pela minha
cobrança e julgamento excessivos. Mas sim aquela coragem que surgiu em mim
naquela noite em que mandei a mensagem. Aquela tímida coragem foi tomando força
e forma, me fez pensar mais em mim. Aquela atitude me provou que é preciso
agir, que é preciso se colocar no mundo. Eu não estava confiante de quem eu era
pra chegar a ter atitudes daquele tipo, ou qualquer outra que me expusesse. Mas
aos poucos percebi que era preciso aceitar quem eu era e mostrar ao mundo quem
eu sou.
O
Alan me enxergou enquanto eu me escondia. Ele me enxerga em momentos únicos,
ele me dá força, me dá amor. Então, depois de muito cuidado, de muito esforço
(continuo fazendo), pude me amar e amá-lo de verdade. Eu me apaixonei por ele
desde que o vi pela janela. Eu me apaixonei por ele todos os dias seguintes e
continuo me apaixonando. Mas o amor pôde
sair de dentro de mim depois do dia em que eu cheguei em frente ao espelho,
olhei dentro dos meus olhos e pude sentir que me amava. Eu me amava, apesar dos
apesares. Há sempre muito que melhorar, há muito que aprender. E eu sigo
aprendendo a me amar. Hoje posso dizer que me amo, que estou confortável com
quem eu sou. E hoje posso dizer que amo o Alan. Depois de descobrir que poderia
me amar, descobri que também posso amar o outro. E eu amo o Alan um pouco mais a
cada novo dia. Pareço não ser capaz de sentir um amor maior, mas surge o dia
seguinte e eu sinto. O amo hoje muito mais que ontem e muito menos que amanhã.
E sigo apaixonada desde que o vi pela janela naquela manhã de quarta-feira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário