domingo, 16 de dezembro de 2018


O beijo
           
           Distribuir amor e carinho é o que todos deveríamos fazer sempre. Mostrar ao outro que nos importamos e que a presença dele em nossa vida é de grande valor, seria muito mais bonito se pudesse ser sempre lembrando com um abraço apertado, um beijo delicado. Existem também aqueles que tornam a sua presença em nossas vidas mais intensa, repleta de fervor e muita paixão. A esses seres separamos os beijos molhados, suados, entregues a muita intensidade e calor. O calor humano traz acalento aos dias cinzentos. O calor humano traz paz aos corações cansados de sofrer. O calor humano é entrega, é promessa, é espera, é saudade. Quem dera pudéssemos ser calor sem temor. Quem dera pudéssemos nos doar sem medo e sem espera. Mas vamos nos entregar as vontades e aos desejos, as saudades e aos retornos, as partidas e as esperas, ao confirmar do carinho, do importar. Seja com medo, com esperança, fé, seja acreditando que sempre será recíproco. Se não for, por fim, depois daquele tempo, quem perde não seremos nós. Fizemos nossa parte. Seja carinho, seja acalento, um sopro de amor.
            Olívia tenta ser presença de calor e vigor na vida de quem atravessa seu caminho. Sempre muito cheia de sentimento, abraça com delicadeza e força. Mas se tratando de beijo, que pra muitos é levado com simplicidade e deve ser visto da sua força mais simples, ou da forma que melhor nos deixar a vontade e bem. Afinal, beijo é pra ser bom, é pra ser repouso de carinho e afeição. Beijo de amor, beijo de amor, beijo do simples desejo do encontro... Apenas beijo. Para muitos se eu me deparar com quem me desperta paixão, interesse, um beijo sela com prazer e encanto o encontro. Dois lábios dispostos a fazer daquele instante uma memória de carinho. Um carinho guardado para lembrar e reviver, ou um carinho que só o momento presente se faz valer. Não importa. Seja beija, seja o instante, seja a eternidade, guarde quando der vontade. É apenas o corpo transformando desejos e sentimentos em troca. Mas para Olívia um beijo “romântico” seria único. Ela bem que tentou, mas não conseguiu. Encontros regados a interesses espontâneos já não faziam mais sentido. Ela desejava guardar o beijo, reviver e reviver na memória. Ela via o beijo sempre com amor envolvida. Esse é o beijo que a repousa em bem estar. Então ela se guardou, esperou... Fugiu das promessas vazias, dos beijos de instante. Estaria Olívia focada demais em algo que poderia ser simples? Poderia ser isso, ou não. Era sua vontade e ela se via bem assim. Não desejava beijar por beijar e perder a imagem de quem a beijou em poucos minutos. Queria guardar e poder rememorar. Olívia é um ser único, singelo, delicado, romântico e de muita paciência. Se assim estava bom pra ela, quem somos nós pra questionar? Afinal, é o seu corpo, é seu bem querer.
            Numa noite calma, sem grandes promessas, apenas inundada do mais lindo luar, Olívia foi escrever e dividir memórias. Com as amigas de longa data, piquenique sobre a areia fria da praia. Muitas risadas, histórias resgatadas, lembranças revividas e comemoradas. A alegria tomava conta daquele grupo unido de amigas. Todas sempre conheceram bem a romântica e paciente Olívia e a entendiam. Afinal, amigos cobram, incentivam, dão carinho e compreensão, mas sempre entende quem você é e respeitam seus limites. Ali não seria diferente. Elas compartilhavam do mesmo desejo, de ver cada uma delas feliz e bem. O amor reinava naquela noite fresca e iluminada. Abraços quentes e apertados de muitos desejos de felicidades a nova noiva da turma. Mais beijos e abraços genuínos de apreço a recém formada. Incentivos carinhosos a duvidosa que não sabia mais quanto tempo esperar até fazer uma grande mudança. Ah... Muita troca de carinho. Muito amor recíproco e guardado na memória. Estavam felizes, apesar de cada uma guardar seus problemas e anseios. É preciso fazer uma pausa, dividir as preocupações, saber esperar, receber e doar o que tem de bom e ter paciência que uma hora o caminho se ajeita.
            De repente, como num instante em que uma grande estrela brilhou forte no céu, surgiu dentro do coração de Olívia um ardente desejo, meio indecifrável, mas muito requerido. O brilho tomou conta dos olhos daquela doce romântica, que não sabia mais como interpretar seus sentimentos. Era mais um daqueles momentos de desejo e eterna espera. Dessa vez com mais urgência e ansiedade. Era um desejo de ver a vida acontecer com fervor e encanto. Mais uma vez ela aguardaria. Aquela noite chegava ao fim, o grupo se preparava pra seguir o caminho de volta pra casa. Quando que num misterioso instante surge a figura iluminada pela lua, de um rapaz ansioso. Ele parecia esperar por aquele momento tempo suficiente para fazer suas mãos tremerem e seu coração acelerar. Parado de frente para a Olívia ele tentava se apresentar. Guilherme, o nome da figura interessante. A jovem romântica já detinha toda a sua atenção para o jovem ansioso e charmoso. Ele havia aguardado tempo demais distante, apenas observando os traços delicados e o ar cativante de Olívia. Ela queria ficar, conhecer as histórias e memórias de Guilherme. Ela se sentia atraída, fisgada por aquele estranho quase conhecido. Era a magia da noite? Ou o momento do simples relaxamento das pressões e aspirações? Era pra acontecer. Mas ela precisa partir. O estranho tão atraente se aproxima mais e não há instante para ousar pensar, recuar. É preciso se entregar ao momento e experimentar aquela ousadia.
Olívia parecia à vontade, parecia no seu momento de bem estar. Estaria ela se traindo? Ou finalmente se encontrando? Seria o Guilherme memória de instante? Ela não pensava e não se importava. Então o beijo. A mais simples forma de selar um encontro magnético e repleto de desejo. O tempo para, sem pressa, sem pressão. Apenas o beijo. Encontro de dois seres que enxergaram algum carinho terno um no outro e via urgência naquele encontro. Para surpresa do grupo de amigas, Olívia se via levada por aquela deliciosa forma de exprimir uma vontade. Ou talvez eu esteja contaminada pelo olhar romântico da doce Olívia e esse encontro seja apenas um beijo. Ou não. Como saber? Mas precisamos sempre acreditar que um beijo, mesmo que seja instantâneo, também possa ser promessa. É gostoso pensar assim, é gostoso fazer de cada instante memória única. O beijo chega ao fim naquele momento, mas sabemos que será revivido por Olívia com muito entusiasmo. Haverá um segundo, um terceiro? Se houver, que seja sempre assim, único. Para o Guilherme fica no ar a promessa, a espera. Ahhh, Olívia. Sabemos que apesar de ser um beijo, é o beijo. Parece que a espera se fez valente e marca um início. Do quê, ela simplesmente descobrirá e estará pronta para mais uma vez se admirar. Seguirá Olívia sendo única e encarando o mundo com seu jeito particular. O importante é não parar de se entregar, mesmo que o recíproco venha a duvidar. Uma hora vai ser real. Uma hora vai ser seu. E será único.